Desde criança, eu sempre fui uma pessoa que se deslumbrava muito fácil. Com as vidraças da igreja, com os figurinos da escola de samba do meu tio, com os periquitos australianos da minha avó e com qualquer outra coisa que estivesse ao meu redor. Toda a minha curiosidade e hábito de observar tudo se tornava uma fonte de criatividade. Suspeito que esse seja o motivo pelo qual eu escolhi estudar publicidade e cinema.

O que é aquilo caído no chão? Uma fruta? Nunca vi esse tipo antes. O que será que derrubou ela? Um pássaro?

Eram tantas perguntas que a partir dali, eu começava a contar muitas histórias, e uma criança curiosa e criativa só poderia resultar em um adulto que ama viajar na maionese.

A paixão por assistir peças teatrais e novelas foram as chaves que eu tive para abrir uma porta e desenvolver essa habilidade de observar tudo e conseguir ver, ouvir, decifrar, sentir histórias, seja através de pessoas, lugares, objetos etc. Hoje eu amo saber que isso ainda acontece. Sou muito grato aos meus pais por terem alimentado essa criatividade de criança. Saber contar uma história é algo tão prazeroso que quando eu penso sobre, eu me sinto muito feliz com tal capacidade. Cá entre nós, posso dizer que é quase um privilégio.

Quando eu estou indo ou voltando do trabalho, quando vou encontrar meus amigos, quando olho pela janela do carro e até mesmo quando acordo no atual apartamento onde moro, eu sou transferido para esse momento de pequenas epifanias, que eu posso até descrever como catártico às vezes. É bom, é criativo, é desprendido.

Em alguns momentos, chega a ser engraçado porque parece que eu estou fazendo um papel de narrador observador em algum livro e conto histórias para algum leitor. Quem sabe no futuro algum desses momentos não se torne real, sabendo que um dos meus sonhos é ser roteirista de cinema. Posso contar da vez que eu vi um casal no ônibus e a moça estava chorando porque o namorado teria que se mudar do país ou sobre o dia em que uma senhora, que aparentava estar cansada, sorria porque a filha conseguiu ser aprovada no vestibular depois de estudar muito.

Dentre tantas histórias que eu já me contei, existem histórias de superação, amor, luta e alegria. Com isso, eu não me percebo apenas uma pessoa criativa ou só amante de histórias, mas eu me vejo e me sinto humano, porque eu sou inspirado por essas pessoas e coisas ao redor. É como se tudo que me cerca fosse o alimento que preenche a fome de todas as coisas que eu ainda não vivi na vida, e provavelmente, não irei viver.

Quanto às pessoas, especificamente, gostaria de poder sentar com elas, conversar e agradecer por me motivarem a continuar contando histórias. Elas fazem parte dos meus muitos insights para escrever, e depois de alguns anos de aventuras com elas indo e vindo, eu finalmente me sinto pronto pra compartilhar isso com o mundo, seja aqui com você, através de um filme publicitário, das telas de cinema, ou talvez elas se percam dentro no mar da minha cabeça.

Gostaria de terminar esse texto desejando que mais pessoas possam se permitir a ter um deslumbre pelas coisas que nos cercam. Afinal, tá tudo ali, sabe? É só observar para contar e ouvir as histórias, para conhecer um pouco mais das outras pessoas, para abdicar por alguns minutos do egoísmo do eu e se dar o prazer de ser humano e ter novas sensações.