Crescemos juntos. Escrevi tantas vezes e espero continuar a escrever, porque crescemos mesmo e assim esperamos que continue a ser. Gostava de saber escrever o quanto a amizade tem vivido desse crescimento, dessa busca constante de conhecer e responder. Gostava acima de tudo de saber expressar o que tem significado estar presente.

Temos lido tantos textos, temos trocado tantas citações, músicas e imagens. As palavras parecem insuficientes, já escrevia Saramago, para expressar esta coisa estranha que chamamos de sentimento. Um amor diferente, um amor de presença e de compreensão, de estar em silêncio e da beleza só de estar.

Gostava também de saber explicar o quanto é tão difícil às vezes, a honestidade plena, o amar mesmo na incompreensão. O quanto custa sobreviver às distâncias, às escolhas estranhas e difíceis de entender.

E depois saber o que dizer, quando dizer, quando guardar. Quando estar em silêncio. Temos seguido caminhos parecidos, agora talvez um pouco diferentes. Temos prometido que seria para sempre e o tempo tem passado a correr.

Cada idade teve mesmo o seu encanto e acompanhar cada fase mais ainda. Foi bonito quase sempre, tem sido assim, difícil de explicar. Temos ficado a olhar de perto, a trocar conversas que não terminam porque o assunto existe sempre e porque o tempo passa sem repararmos nele. Olhámos cada paisagem, concordamos e discordamos tantas vezes, abraçando-nos sempre, já escrevia Antero de Quental.

Agora tudo parece mais nítido, por mais que as memórias se tenham dispersado e tenhamos tentado evitar a constante nostalgia. O caminho é sempre em frente, já alguém também dizia. E o caminho tem sido agora mais cansado, estamos mais velhos, crescemos demasiado.

Às vezes achamos que não, rimos como crianças e contamos histórias com a certeza de que o outro lado nos ouve em paz, com alegria, gratidão. Talvez seja esse mesmo sentimento, de querer sempre agradecer tanto, mesmo quando as palavras não bastam para aquilo que se viveu.

Gostava de saber escrever aquilo que vivemos, gostava de ter tempo para contar tudo devagarinho. E de um dia mostrar aos nossos filhos as fotografias, quem sabe aos netos, será que entenderão? Gostava que pelo menos eles, os amigos, entendessem. Os amigos sim, que palavra tão bonita. Que andam por aí, sem tantas vezes os vermos, mas sempre com a certeza de que lá estão. Para trocar mais palavras, para contar mais histórias, sempre a tentar que se eternizem ou não.

Que bonita história, que bonito tempo e vida, sonho, companhia. Que bonito termos dito e escrito que sentimos mesmo que caminhamos juntos, que vamos em frente, sem medo, porque sozinhos não teria tido o mesmo sentido.

Gostava de escrever com certezas de que esse caminho continua, que acreditaremos sempre em para sempre e que os caminhos esses, por mais diferentes que sejam, sempre se cruzam e reencontram. Hoje escrevo mais cansado, com aquela tristeza boa das memórias e das saudades.

Hoje escrevo com medo de todos aqueles que se zangam, que preferem ficar sozinhos a dar o primeiro passo. Hoje escrevo pelos que têm saudades dos amigos, dos antigos e dos menos antigos, dos amigos. Escrevo com aquela esperança infantil de que no fim do dia, ou quem sabe da vida, vai ficar tudo bem.

Gostava de me convencer que no fim do dia somos todos seres humanos e que o que mais queremos é que fique tudo bem. Gostava de me convencer que construímos menos muros entre nós, para dar lugar a mesas maiores.

Temos ainda tanto tempo, para mais histórias, mais cartas e memórias. Temos tempo para abrir a porta de casa, pôr mais um ou dois lugares na mesa e ouvir, ou estar apenas em silêncio. Crescemos juntos, lembra-te sempre disso. Se for preciso escreverei mais vezes, mas gostava apenas que não fosse tão difícil, o encontrar tempo, o dar um abraço. Vamos a caminho, seguimos juntos e sempre a agradecer por isso, pelo tempo, pela presença, por cada uma das histórias.

A amizade que sobrevive ao tempo não desiste, continua em frente, porque é bonita demais para ficar para trás.