Nos últimos tempos, Mato Grosso do Sul tem tido muito mais visibilidade depois do remake da novela Pantanal, mas para quem nasceu e vive por aqui, as deslumbrantes paisagens, os modos de vida, os hábitos e, até mesmo o sotaque, não podem ser homogeneizados e nem mesmo contribuir para a construção de um imaginário de que o estado é apenas delineado por aquilo que foi exibido nas telas da TV. O tamanho da extensão de MS é quase o da Venezuela e da Alemanha e, para corroborar com a ilustração, temos que pensar que a distância entre o extremo oeste e leste do estado é superior a 750 quilômetros, enquanto de norte a sul é superior a 800 quilômetros.

Como um nativo sul-mato-grossense, netos de imigrantes japoneses pela paternidade, que chegaram até aqui (no extremo leste do estado) para cultivar arroz, cuja ascendência materna nunca teve a nacionalidade identificada, o que me intriga até os dias de hoje, me sinto com outorga para falar sobre a diversidade que constitui o território estadual. Embora eu tenha nascido e sido criado no extremo leste do estado, de alguma forma, sempre tive contato com manifestações culturais advindas da capital, além da possibilidade de fazer, outrora, viagens de trem para Campo Grande. Por isso, meu imaginário sobre o estado foi construído de modo privilegiado daqueles que, como eu, ostentavam a proximidade com o estado de São Paulo.

Lá pelos meus 14 anos, a primeira gravação da novela Pantanal, eu assisti por uma televisão preto e branco, da Telefunken, quando a antena era capaz de captar o sinal da extinta rede Manchete, um acontecimento que naquela época abriu espaço para expandir minha imaginação sobre a imensidão do Mato Grosso do Sul. Já com mais de 20 anos, tive a oportunidade de visitar o tão hypado destino - Bonito. Lembro-me que fiquei em um “albergue”, como eram chamados os hostels naquele tempo e pude visitar algumas de suas “principais” atrações. Estive lá algumas outras vezes depois, mas nem sobre Bonito ou o Pantanal que quero continuar minha conversa com você.

Em janeiro deste ano (2023), finalmente, consegui levar minha mãe para visitar um tio que vive ao norte do estado, nas proximidades de um município chamado Alcinópolis. Eu já tinha visto algo nas redes sociais e, até mesmo, em matérias veiculadas nos canais da TV aberta sobre aquela região. Foi quando decidi, dada a oportunidade de estar por lá, de investigar com mais atenção e ter a certeza que havia muitos atrativos turísticos, de contemplação e fruição naquela região, embora pouco divulgados e até mesmo “explorados”. No caminho até a casa do meu tio, na zona rural, já era possível avistar placas marrons (para quem não sabe, as placas relacionadas ao turismo são marrons) o caminho para cachoeiras e mirantes, mas o mais incrível estava por vir - a possibilidade de visitar um sítio arqueológico recheado de pinturas rupestres que podem ter sido feitas há mais de dez mil anos atrás - Eu nasci há dez mil anos atrás, diria Raul Seixas.

Para chegar até os sítios arqueológicos é preciso um pouco de paciência e espírito aventureiro. Primeiro, é necessário descobrir o telefone de um guia autorizado na Secretaria de Turismo da localidade, pois é ele que tem a chave do parque e vai te guiar até lá. No entanto, numa época de chuva, não me avisaram sobre a estrada sinuosa, não pavimentada, cheia de aclives e crateras. O meu carro deve estar me culpando até hoje pela aventura, reflexo de uma política de turismo mal elaborada ou despreparada.

Chegar até o Parque da Serra do Bom Sucesso, local onde fica o Templo dos Pilares, foi uma aventura num dia chuvoso, cujas nuvens decidiram dar uma trégua e permitir contemplar paisagens indescritíveis, além do cheiro do cerrado, a beleza da vegetação, as pegadas de diversos animais, o zumbido de abelhas e o perigo de tropeçar em uma cobra. Mas o que me intriga até hoje é o fato de que há diversos padrões de pinturas rupestres por ali e, possivelmente, foram cravadas em eras diferentes. São desenhos que permitem diversas interpretações para nossa imaginação, ao mesmo tempo que provocam um sentimento de um outro momento da história. Por isso, não vou continuar descrevendo o que vivi por lá, mas deixo uma oportunidade para a sua curiosidade ou desejo de visitar destinos turísticos no Brasil além daquilo que nos é trivial.