Nos últimos anos um termo que é visto constantemente em artigos sobre arquitetura e sustentabilidade é o termo vernacular. A definição da palavra vernacular nos dicionários de português descreve que se trata de algo Particular ou característico de um país (nação, região etc.). Diz-se da linguagem desprovida de estrangeirismos, que se apresenta com vocabulário ou construções sintáticas originais e corretas; castiço, portanto, podemos entender como algo próprio do meio. Trazendo o termo para a área de arquitetura pode-se entender como arquitetura vernácula ou vernacular aquela projetada e construída propondo o uso de materiais e técnicas da região em que está inserida.

Em meados do século XX, arquitetos começaram a estudar esse tipo de arquitetura a fim de encontrar soluções para questões ambientais em seus projetos e dessa forma começaram a rever seus estilos de criar e construir mais focados na sustentabilidade. Por se utilizar de métodos e produtos naturais de uma região específica, uma arquitetura dita vernacular é reconhecida como sustentável pois evita gastos com transportes de materiais de lugares distantes e aproveita produtos disponíveis do país e que se adaptam melhor ao clima e a cultura. No Brasil, o arquiteto Lucio Costa foi um dos principais nomes nos estudos voltados a arquitetura vernacular, estudando os exemplos no país em todas as regiões, de norte a sul do país, e desenvolvendo um estudo dos principais exemplares dessa arquitetura nas diversas regiões de um país de tamanho continental.

Falando sobre cultura, na arquitetura vernacular a preservação da cultura local também é outro ponto positivo, uma vez que valoriza técnicas de construções passadas de gerações a gerações. Essas habilidades, as vezes consideradas como primitivas e de tradições dos povos, foram desenvolvidas através dos anos quando a populações vendo a necessidade de desenvolver suas moradias tiveram que lidar com as pré-existências locais, como clima e vegetações, para atender as suas necessidades. O resultado de anos de conhecimento e testes combinou materiais orgânicos, isolantes térmicos e acústicos em construções que conectam seus moradores aos ambientes criados.

Acredita-se que a arquitetura vernacular tenha iniciado na Pré-história, pela necessidade de homens em construir abrigos de proteção contra os efeitos climáticos e animais selvagens. Os povos indígenas e rurais foram responsáveis pelo desenvolvimento da arquitetura vernacular brasileira utilizando técnicas como a taipa de pilão, construções em palafitas e o adobe. Esses povos, responsáveis pela criação da arquitetura vernacular de suas regiões tem papel muito importante na proteção dos seus ecossistemas e preservação de trabalhos manuais e artesanais.

Os ensinamentos trazidos da arquitetura vernacular faz com que os arquitetos contemporâneos continuem revisitando e estudando essas técnicas como forma de tomar ações frente a questões importantes na sociedade atual, como a escassez de matérias primas, a explorações de materiais não renováveis e a crise climática. Assim sendo, o uso de técnicas desenvolvidas há muitos anos pode trazer respostas a muitos problemas da construção civil atual, como o conforto térmico e a redução de emissão de gases nocivos ao meio ambientes.

O desafio da arquitetura vernacular está na união dessas técnicas a tecnologia. A padronização dos métodos construtivos atuais, faz com que os softwares de desenho sejam desenvolvidos e programados para os métodos padronizados de construção e gera um obstáculo para projetar utilizando técnicas vernaculares em softwares chamados BIM - Building Information Modeling e isso pode afastar o dificultar o uso dessas técnicas tão úteis e necessárias para sociedade atual.

De modo geral, os pontos positivos das técnicas de arquitetura vernacular têm muito a acrescentar e ensinar a seus habitantes. E devem ser exploradas para o ato de projetar de forma consciente e sustentável. Porém, a arquitetura deve andar de mãos dadas com a tecnologia e ser absorvida pelo mundo digitalizado, esses ensinamentos têm que ser absorvidos nos softwares de projetos, pelo maquinário da construção civil e pelo mercado no geral. Só assim veremos um impacto maior para as inovações arquitetônicas.