Após a Segunda Guerra Mundial e da instauração da produção e do consumo em massa, o consumo deixou de ter como finalidade apenas a necessidade e passou a ser impulsionado pelo desejo. No que toca à moda, as peças passaram a ser objetos de desejo de consumo por transmitirem um status social, não apenas uma necessidade. Através de campanhas de marketing, o capitalismo influencia os consumidores por meio das emoções, vendendo uma ideia de pertencimento ao se encaixarem no que é ditado como tendência.

O capitalismo é responsável por fazer com que a moda esteja sempre se inovando, lançando novos produtos mensalmente e até semanalmente, divulgando as novidades nas redes sociais, através de influenciadores, em campanhas publicitárias, desfiles, etc. Influenciados, os consumidores adquirem os lançamentos e descartam o que já possuem, por já terem se tornado obsoletos, ou seja, as peças que compraram meses atrás já estão ultrapassadas por não serem mais novidade. Essa procura pelo que está “na moda” faz com que as pessoas consumam cada vez mais, se compararmos aos anos 80 por exemplo, as mulheres hoje em dia possuem 4 vezes mais a quantidade de roupas que possuíam antes da implementação do fast fashion.

Através desse ciclo que faz com que os consumidores comprem e descartem rapidamente, estima-se que mais da metade do que é produzido por lojas de fast fashion são descartados em menos de um ano. Além disso, os consumidores compram religiosamente novas peças de vestuário, sem pensar criticamente acerca de todo o processo de produção que gerou a confecção de uma nova peça.

Para confeccionar uma camiseta de algodão, são gerados 450g de resíduos e emitido 4kg de CO2 na atmosfera, e para o seu tingimento são necessários de 16 a 20 litros de água. Isto sem mencionar que em muitos casos, os funcionários responsáveis pela fabricação têxtil trabalham de forma análoga à escravidão, sendo muitas das vezes funções desempenhadas por trabalho infantil.

Apesar de atualmente termos mais informação em relação às condições de trabalho em fábricas e em como o processo da fabricação gera lixos e toxinas descartadas na natureza, o benefício do preço baixo faz com que os consumidores coloquem essa preocupação em segundo plano, a fim de consumirem de forma mais barata e em mais quantidade. Isto é, o capitalismo criou uma sociedade que se deixa influenciar pelo consumo, sem pensar criticamente na responsabilidade dos seus atos para com o meio ambiente e outras questões que o consumismo evoca.

Apesar de termos visto que a sociedade foi moldada de forma a acreditar que devem sempre estar renovando os itens de moda que possuem, cabe ao consumidor a responsabilidade de gerir a obsolescência do que consome. Em outras palavras, o consumidor deve ser responsável pelo que consome e principalmente na quantidade em que consome, pensando criticamente no porquê necessita de uma nova peça, se se trata de fato de necessidade ou se apenas tem o desejo de substituir uma peça que já possui e está em boas condições. Desta forma, o ciclo de vida das peças está diretamente relacionado à durabilidade que o consumidor dá às mesmas.

Sendo assim, vivemos em uma sociedade que ao longo das últimas décadas foi estruturada de forma a influenciar a população a consumir cegamente, sem refletir criticamente acerca dos danos que as suas atitudes de consumo podem gerar ao meio ambiente.

Por isso, é importante que sejam criadas medidas pelo governo para que a fabricação de novas peças seja feita, no mínimo, de uma forma mais responsável, levando em consideração as condições ambientais e trabalhistas durante a produção. Contudo, é impossível tirar de nós consumidores a responsabilidade pelas nossas compras, é fundamental analisar criticamente o nosso consumo, refletindo criteriosamente a razão pela qual somos levados a consumir, se compramos por necessidade ou apenas desejo e, acima de tudo, não deixar de levar em consideração os processos de produção da peça de roupa que estamos comprando.