Quando chega a virada de ano dá um frio na barriga instantâneo. Inúmeros rituais espirituais são sugeridos pelos mentores de todas as religiões e credos. Nossa intuição nos faz querer ter a roupa perfeita, a comida com a qual faremos os pedidos, a oração de agradecimento e um medo desenfreado do que estar por vir. Talvez seja o momento mais claro onde os opostos estão ali juntinhos. Estamos nos despedindo do ano e sabemos que ele teve suas dores e sabores, mas com o qual lidamos por doze meses, portanto um velho conhecido. Ao mesmo tempo da uma vontade incontrolável de ir de encontro ao futuro, em busca do novo, do pote de ouro, mas totalmente desconhecido. Não sabemos como vai ser, de imediato instala-se uma dúvida e medo absurdos.

Esse sentimento é do humano, uns mais outros menos, uns mais felizes e outros mais cheios de seus vazios existenciais. Nem por isso deixamos de soltar fogos, brindar ou apenas nos refugiarmos até que tudo volte a uma suposta normalidade. Há aqueles que fazem grandes festas, enfeitam tudo, recebem parentes e amigos e passam todo o dia no preparo da comida, que claramente não competirá com o cardápio do Natal.

Ano novo combina com praia, com água e mar trazendo ondinhas para nossa alegria, mas aqueles que nessa época estão sob inverno rigoroso, também brindam e inventam outras maneiras de ritualizar essa passagem.

Sempre achei o romper do ano algo pesado, cheio de uma energia intensa e densa. Um sentimento melancólico me ronda, mas sempre mantive o coração esperançoso. Me pego pensando naquelas pessoas que por algum motivo estão sós ou em sofrimento, e esse sentimento nunca me pareceu compatível com a ocasião, mas eu sempre entendi que era um pensamento de medo.

Talvez por isso eu goste tanto de pensar no Ano Novo, e preparar a passagem seja rezando, recebendo ou apenas indo a praia saudar Iemanjá deusa e divindade do nosso sincretismo religioso. Deixar a mesa com cara de quem vai receber uma multidão, tão é sinal de que a fartura será próspera.

Sugiro que se não houver praia ou montanha para ir, se você não tem pretensão de comida de última hora, então de o seu melhor. Faça de sua morada um lugar para esperar o ano novo, faça tudo brilhar, limpe a casa, ponha seu melhor talher, taças que valem a pena brindar, acenda todas as luzes, coloque uma música linda e alta, chame seus parentes e amigos, coloque bolas brancas, douradas e pratas, infalíveis! Espante o medo do futuro e ganhe vida brindando o presente.

Ah! Mas ainda tem como receber o novo ano naquela bela viagem, com uma amiga incrível ou amor de sua vida.

Tome um banho de mar, ande pela areia por um longo tempo, pegue sol, tome uma água de coco, ou simplesmente caminhe pelo parque mais próximo, ou acorde leia um bom livro ouvindo músicas que você ama, tome um café com um amigo, mas não se sinta perdido ou com medo do futuro, pois ele se apressa em te salvar, muitas vezes de você mesmo. Acredite!

Virada de ano suscita uma necessidade e ao mesmo tempo vontade de fazer balanço, mensurar o que foi possível realizar e o que ficou para trás, na lista de prioridades. Não se cobre tanto, talvez você de fato tenha feito o melhor que conseguiu, talvez não, e terá oportunidade para agir diferente numa próxima oportunidade.

Listas gigantes se avolumam nas agendas e caderninhos de notas, que ainda cheiram a novo. sonhos, metas, mudanças, ações corriqueiras e necessárias são mencionadas. Dão forma a planos que desejamos controlar, esta é uma ferramenta que nos mantem um pouco mais seguros na transição do ano velho para o ano novo.

De fato, queremos um ano melhor, mais produtivo, com saúde, fartura e amor, a trilogia mais cobiçada no brinde da virada. E tudo bem quanto a isso, pois somos merecedores de coisas boas, precisamos entender que é possível o crescimento e o diferente, e mesmo que seu ano tenha sido incrível, fazer-se diferente para o próximo te trará mais prazer pela vida.

Já, já nos vemos!