No prestigiado evento The Game Awards, Alan Wake 2 conquistou o prêmio de Melhor Narrativa, um feito notável que destaca não apenas a maestria técnica do jogo, mas também sua capacidade de envolver os jogadores em uma trama profundamente cativante. A mente visionária por trás desse sucesso é Sam Lake, um nome conhecido na indústria dos jogos por sua habilidade única de criar experiências narrativas envolventes e multifacetadas.

Lake, diretor criativo da Remedy Entertainment, a desenvolvedora por trás da série Alan Wake, é um profissional que entende a importância de explorar as dimensões da narrativa de maneira holística. Ao longo de sua carreira, Lake tem se destacado na construção de mundos complexos e na criação de personagens cativantes. Alan Wake, o protagonista de sua criação mais famosa, não é apenas um escritor fictício, mas uma janela para a alma de um humano, proporcionando uma perspectiva única e emocionalmente envolvente.

O universo de Alan Wake transcende os limites tradicionais dos jogos, abraçando uma mistura de mídias que inclui livros, músicas e programas de TV fictícios. Essa abordagem multifacetada cria uma experiência imersiva que vai além do simples entretenimento. A inclusão de elementos como Night Springs, um programa fictício dentro do jogo, e a participação ativa de Alan Wake como escritor de suas próprias histórias, adicionam camadas adicionais à trama, transformando-a em algo verdadeiramente único.

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Figura 1: Sam Lake, que também um personagem no jogo, ao lado do personagem principal, Alan Wake, no set de filmagens de Alan Wake 2

A vitória de Alan Wake 2 na categoria de Melhor Narrativa não é apenas uma conquista para a Remedy Entertainment, mas também uma celebração do poder das histórias em jogos. Isso nos leva a refletir sobre a complexidade das narrativas contemporâneas que estão conquistando o espaço de várias plataformas. O jogo não é apenas uma sequência, mas uma evolução na forma como entendemos e experimentamos histórias nos jogos, oferecendo esperança aos criativos e inovadores escritores.

Essa vitória também destaca a importância do aprofundamento e pesquisa no desenvolvimento de histórias envolventes. Sam Lake, conhecido por suas narrativas intrincadas, investe tempo na construção de personagens autênticos e na exploração de temas universais. A pesquisa aprofundada, aliada à criatividade, revela narrativas que ressoam com os jogadores, tocando em emoções universais e proporcionando uma conexão genuína.

A verdadeira magia das histórias, como as apresentadas por Alan Wake, está na capacidade de tocar o âmago do ser humano. Os sentimentos explorados são universais, mas a maneira como cada indivíduo os percebe é única. Essa singularidade é o que confere brilho a uma história, transformando-a de uma simples narrativa em uma experiência pessoal e inesquecível.

Em um mundo onde os jogos são uma forma de arte em constante evolução, Alan Wake 2 surge como um farol, iluminando o caminho para novas possibilidades narrativas. A vitória na categoria de Melhor Narrativa no The Game Awards não é apenas uma honra merecida, mas um testemunho do impacto duradouro que histórias bem contadas podem ter no universo dos jogos e, por extensão, em todos nós.

Sam Lake continua a moldar o futuro do storytelling nos jogos e isso nos ensina muito sobre como a construção de boas histórias pode sair não apenas de livros, filmes e séries, mas ganhar vida e conectar outras camadas como na música e, como exemplo, nos jogos.

Além disso, uma boa história vem exatamente de algo mais particular, uma loucura, talvez? Como o próprio Sam Lake disse em uma entrevista ao canal do YouTube Academy of Interactive Arts & Sciences:

É assim que vejo. Quando estou pensando em ideias criativas, penso que precisamos ser realmente ousados, originais e únicos. E tentar, mesmo que isso signifique que precisamos fazer coisas loucas que talvez uma empresa maior não faria porque eles podem.

O que isso quer dizer? Quer dizer que é fundamental criar, expandir seu conhecimento, mas o mais importante é colocar suas ideias, confiar no que suas histórias querem dizer e colocá-las para jogo (e essa referência aqui, hein?). E como Lake também concluiu “se você quiser escrever, então escreva. E meio que experiencie coisas onde a escrita existe, seja o jogo, o filme, o livro, a graphic novel que você conhece, e continue vendo coisas escritas, analisando-as e pensando em como estão fazendo isso aqui, enquanto você escreve, é algo tão óbvio, mas precisa ser dito”.

É exatamente essa perspectiva que escritores aspirantes precisam ter. Expandir as formas de criar, o porquê de outros criadores escolherem uma perspectiva específica para contar suas histórias e reconhecer que há como se misturar diversas formas de narrativas para inovar.

A lição que fica é que escrever, produzir e criar podem ser atributos que todos temos, mas poucos têm o acesso e sensibilidade para poder se aprofundar em diferentes caminhos para alcançar a narrativa que mais lhe agrada. E que ao se aprofundarem no universo vasto da contação da história podem se surpreender com a quantidade de tesouros que podem ser encontrados em tantas formas de narração.

Particularmente, Alan Wake foi um abrir portas para conseguir me conectar e entender os motivos pelos quais sempre adorei jogos com narrativas profundas e como eles tiveram peso no meu processo criativo, mesmo não sendo o gênero no qual escrevo atualmente.

Contudo, a interação de músicas, cinema e jogos sempre fizeram parte do meu cotidiano e se eu puder dar uma dica também, seria para os escritores não se apegarem a títulos, clássicos ou entretenimento. E sim, explorarem o que o mundo da criação pode nos dar e em como isso pode inspirar, não apenas você mesmo, como o receptor da sua história, seja em livros, filmes, jogos ou música.

Por fim, a vitória de Alan Wake 2 não é apenas um marco para a Remedy Entertainment, mas a luz que ilumina o caminho para o futuro emocionante das histórias nos jogos.

“...o que mais um criativo pode esperar além de ser inspirado por obras de arte maravilhosas de todos os tipos, usar essa inspiração em sua própria criação e talvez isso sirva como inspiração para outra pessoa criar algo novo.” — Sam Lake.