Há quem diga que teve sua vida transformada pela gastronomia. Eu mesmo, sou um exemplo dessa transformação.

Mas, o que significa ter a vida transformada pela gastronomia? Não é somente cozinhar? Fazer belos pratos? Oferecer diversos tipos de serviços de alimentação? Sim, de certa forma é verdade. Existe muito mais intrínseco em um prato, preparado por um amante da gastronomia. Há uma história, uma vida, um sacrifício por traz de tudo que é criado.

Existem diversas comprovações de histórias incríveis, que relatam a mudança na vida de grandes chefes de cozinha. Quando falamos em mudança, nos referimos até mesmo ao poder que a gastronomia possui de contribuir para a cura e reabilitação de doenças. Vamos trazer um exemplo e testemunho de que quando se tem uma paixão, uma razão para viver, há esperança mesmo diante de uma doença grave.

E não poderíamos iniciar este assunto sem mencionarmos o grande e reconhecido chef, Grant Achatz, comandante de uma das cozinhas mais renomadas do mundo, a do Alinea em Chicago. No auge de sua carreira, aos 33 anos, foi diagnosticado, tardiamente, com câncer na língua, em estágio bem avançado. Antes da descoberta, teve vários diagnósticos errados, por isso, aumentara a dificuldade em seu tratamento. O chef que criara belíssimos pratos, que vinha sendo bastante reconhecido, agora lutara contra uma doença severa. Que “ironia” da vida, além de ser uma enfermidade grave, havia de ser encontrada em uma das ferramentas mais importantes para o seu trabalho. Grant, foi aconselhado a remover toda a língua, mas resistiu, e durante o tratamento, perdeu todo paladar. Para muitos, este seria o fim de uma carreira. No entanto, por um ano, ele confiou em sua equipe e continuou a trabalhar duro, por 16 horas, diariamente. Aos poucos a capacidade de sentir sabores foi voltando, a primeira delas, foi o doce.

Como uma criança, o doce foi o primeiro sabor que voltei a reconhecer. Logo depois, o amargo. Quatro meses depois disso, reconheci o salgado. E, para mim, como chef, foi uma rara oportunidade. Hoje, acho que combino os ingredientes de forma a obter mais contraste porque foi a experiência que tive quando estava na fase de recuperação do meu paladar." Disse Grant.

A doença não o fez parar de trabalhar. Manteve sua rotina na cozinha, conseguiu vencer o câncer e, recuperado, comemorou com dois investimentos: o Next, que muda de cardápio a cada três meses e vende entradas pela internet, e o Aviary, um elegante bar de coquetéis.

Uma outra história interessante, não de um famoso chef, mas, de um amante da gastronomia, que encontrou nela um sentindo na vida. Filho de brasileiros pobres, humildes, com pouquíssima instrução, da mesma forma que milhões de brasileiros, lutam para conseguir dar o básico para sua família. Nunca foi um aluno nota 10, mas, nunca foi o pior da turma. Teve que continuar o ciclo e, trabalhar bem cedo, para um adulto, talvez faça mais sentido ter que trabalhar e estudar, no entanto, para um jovem sem referências, não fazia tanto sentido. A realidade é que ocasionalmente o dinheiro pesa mais quando se precisa. Em meio ao caos, e tantas tentativas frustradas, tive o meu primeiro contato com a gastronomia, profissionalmente falando, lembro-me como se fosse hoje, o primeiro elogio emociona de uma forma incrível. Desde então, encontrei um significado pra minha vida. Me espelho em grandes chefs e, venho lutando todos os dias para ser o melhor de mim. Hoje, já conquistei meu espaço em uma grande rede hoteleira, em anonimato, mas, um dia contarei minha história e, serei espelho para alguém.

Muitas vezes, amar o que se faz não é o bastante. É necessário nunca desistir. Todos nós enfrentamos dificuldades, externas e internas, sim. Às vezes, o nosso eu tenta nos derrubar. É uma verdadeira luta interna. Pensamentos, medos, sonhos, planos, objetivos, enfim, diversos fatores por muitas vezes nos fazem querer desistir. Mas, como vimos na linda história do chef Grant, precisamos ser resilientes. Um dia, uma notícia, um diagnóstico, uma pessoa, pode nos frustrar, até nos derrubar, mas, precisamos ser fortes o bastante para nos levantar.