I remember you well in the Chelsea Hotel. You were talking so brave and so sweet. Giving me head on the unmade bed. While the limousines wait in the street. Those were the reasons and that was New York.

(Leonard Cohen, Chelsea hotel No.2)

[Lembro-me bem de você no Chelsea Hotel. Você estava falando tão corajoso e tão doce. Me dando cabeça na cama desfeita. Enquanto as limusines esperam na rua. Essas foram as razões e isso foi Nova Iorque.]

[Leonard Cohen, Hotel Chelsea No.2]

Chelsea hotel fora inicialmente projetado no século XIX – entre os anos de 1883 e 1885 – a par da concretização de um ideal utópico socialista proposto pelo filósofo francês Charles Fourier ao nível da projeção urbanístico-funcional. Mais tarde torna-se o emblemático símbolo da cultura underground de Nova Iorque.

O hotel localizado na 222 West 23rd Street e, concebido por Philip Hubert, fora desenhado sob um plano de ação muito específico: o desenvolvimento, na sequência de um pensamento Fouriano de um sistema de habitação cooperativo fundado em alicerces sociais e comunitários. No qual, os hóspedes viveriam em comunidade e, partilhariam o custo das contas e dos serviços.

Philip Gengembre Hubert nasceu em Paris em 1830, tendo emigrado para os Estados Unidos em 1849. Filho de artistas, iniciou a sua carreira como professor catedrático numa universidade em Filadélfia, tendo mais tarde virado o seu percurso, no seguimento do seu pai, para a arquitetura: instaurando a empresa Hubert & Pirsson. A empresa foi responsável pelo desenvolvimento de inúmeros projetos contribuintes na edificação da clássica Nova Iorque d“A época dourada”. Cresceu sob as influências do filósofo francês Charles Fourier, orientadas para teorias de organização social e económica – como referi anteriormente, o próprio Hotel Chelsea foi concebido sob o ideal de unidades autossuficientes e cooperativas propostas por Fourier. Hubert intendia apenas isso: criar um espaço no qual o poder de colaboração entre pessoas de diferentes backgrounds geraria um ambiente de entreajuda harmoniosa.

Porém, apesar das intenções socialistas colocadas na projeção destes edifícios, estes foram desde logo adotados pelas médias e altas classes sociais de Nova Iorque e, transformados em apartamentos de luxo. Foi apenas na sequência da segunda grande guerra – e nas suas implicações económicas – que os preços dos apartamentos desceram. Atraindo Jackson Pollock, James T. Farrell, Virgil Thomson, Chelsea Hotel cedo se torna uma residência artística, graças a Stanley Bard que em 1957 assume a sua gerência. Bard, filho de um dos proprietários do edifício, foi o grande mecenas das década de 60 e 70, patrocinando artistas e trocando rendas por obras de arte.

Nasceu Chelsea Hotel, que pela primeira vez, se colocava lado a lado com aqueles que eram os desejos de Hubert. Bard "era como uma folha enorme onde as crianças poderiam se proteger da tempestade, e essa era a raridade deste hotel, que ele mantivesse você, ele veria você, e você lhe devia dois meses de aluguel e você chorava para ele e ele dizia: 'Não se preocupe, continue pintando, continue pintando". Durante décadas, Chelsea Hotel abrigou Arthur Miller, Nico, Patti Smith, Leonard Cohen e Janis Joplin apaixonaram-se dentro das quatro paredes do hotel, ato esse imortalizado em “Chelsea hotel No.2”. “Landlord daddy for artists” – era essa a alcunha de Stanley Bard, que querendo tanto pertencer ao circuito artístico de Nova Iorque, se torna o refúgio para todos os artistas – e, não só - à procura de um abrigo da vida turbulenta da grande cidade.

Foi o “Just Kids” da Patti Smith que me realmente introduziu à cultura do Chelsea Hotel – o quarto 1017 onde Patti e Robert Mapplethorpe permaneceram durante uma temporada, a atmosfera boémia e a comunidade artística do Hotel. Foi Patti que me assinalou Chelsea no mapa de Nova Iorque como o sítio para onde se ia quando se procurava força inspiradora: subia-se um andar e falava-se com Stefan Brecht, mais tarde Jonas Mekas juntava-se e discutia-se cinema, Bob Dylan lá em cima, acordes de guitarra soavam ao ouvido e uma câmara registava cenas para “Chelsea Girls” de Andy Warhol. Foi lá que Sid Vicious assassinou Nancy Spungen e foi casa para os beat writers da década de 60.

Drogas, mortes, alvoroço e boemia, those were the reasons and that was New York. É importante definir Chelsea Hotel como o submundo cultural pautado por encontros significativos e atmosfera vibrante – é o icónico universo de interconexão artística, é a arte a ser mais importante. Apesar de Bard ter sido afastado em 2007 a par de mudanças na propriedade e gestão do hotel – foi comprado por um grupo de investidores – Chelsea Hotel viverá sempre: a sua história, comunidade, integridade e excentricidade. Inspirou livros, músicas e filmes. Chelsea: O lugar de todos. O encontro de gentes.