Para a construção das cidades, as civilizações lidam com dois aspectos essenciais: as suas necessidades básicas e as possibilidades técnica e material que dispõem para as solucionar. As necessidades humanas mantêm-se constantes no decorrer dos tempos sofrendo ligeiras readaptações. O que se mantém em contínua mutação são as possibilidades, na progressiva evolução marcada pelas conquistas tecnológicas que posicionam as civilizações no tempo e no espaço. O problema reside na gestão do universo mutável das possibilidades com a dimensão constante das necessidades humanas. A arquitetura pressupõe, no seu desenvolvimento teórico e prático, o confronto entre o presente e o passado, entre atualidade e perenidade, no qual valores e princípios humanos permanecem imutáveis e permanentes, porque a sua origem é intemporal: encontram-se expressos na ordem e racionalidade que caracterizam os exemplos mais significativos da história da arquitetura, independentemente da época e da cultura, erudita ou popular. As cidades são compostas por sobreposições de tempos e espaços. As ruínas testemunham esta condição mutável do território urbano. Elas encarnam, na sua vulnerável condição de sobrevivência, o registo material e formal de um espaço e de um tempo. São memória, vozes de um passado que ecoam insistentemente ao longo dos tempos, assistindo por vezes adormecidas à evolução das suas cidades, às quais outrora pertenceram como edifícios e espaços habitados. Este manifesto deve-se à compreensão de que o conhecimento humano não deriva de um momento temporal isolado, desagregado, mas de um longo percurso assente sobre um legado universal de experiência e saber, patente na constante reinvenção e transformação urbana das cidades. A especificidade revela-se como elemento fundamental no desenvolvimento de uma arquitetura integrada no momento. Arquitetura na qual, mais importante do que o gesto, se destaca o pensamento que o sustenta, que responde invariavelmente a um programa, a um local e a um tempo, ou seja, às noções de uso e função, território e circunstância. O programa surge como resposta a uma determinada necessidade. A casa na resposta ao habitar, assim como o mercado na resposta ao comércio, são programas desenvolvidos desde tempos imemoriais, sujeitos à evolução e transformação do tempo que estabelece os meios e ferramentas com que uma sociedade concretiza a arquitetura. Porém, a importância desses exemplos explorados no passado encontra-se na permanente atualidade da coerência implícita nos seus princípios formais, que resiste à introdução de novos requisitos funcionais e técnicos estimulados pelo progresso. A arquitetura serve as necessidades vitais do homem, sendo materializada através das possibilidades técnicas e materiais de que este dispõe, sejam estas ancestrais ou actuais. Trata-se de, para além da circunstância e da resposta técnica e material a um determinado problema, reconhecer a validade do pensamento intrínseco à formulação desse problema, no conjunto de princípios orientadores que adopta para solucionar necessidades e requisitos funcionais. Deste modo, a solução adoptada assume-se simultaneamente como específica na resposta a um contexto, e universal pela sua disponibilidade como elemento de confronto intemporal na resolução de problemas similares na atualidade.