Por que é que nos é tão difícil descrever a arquitetura? Vemos, tocamos e movemo-nos entre edifícios, tal como vemos, tocamos e nos movemos entre outros objetos do nosso quotidiano. Descrever a experiência arquitetónica é descrever os processos básicos da perceção. Seja qual for a dificuldade que essa atividade apresente não estamos perante uma dificuldade para a estética da arquitetura mas sim para a filosofia da perceção – nada de específico da arquitetura necessita de ser mencionado nessa filosofia. Aquilo que é específico na arquitetura vem, por assim dizer, na fase seguinte: não é o agrado, mas a experiência. Assim, poderia ser dito que a forma fundamental do agrado arquitetónico é simplesmente o prazer na aparência e que a árdua tarefa do arquiteto é a construção de algo estético, isto é, algo que provoque emoções e que, simultaneamente, seja funcional.

No entanto, esta sugestão é demasiado simplista, não clarifica o conceito de prazer: o prazer estético não é imediato, mas é dependente de, e afetado por processos mentais. Uma chamada de atenção ou uma apreensão intelectual do objeto é uma parte necessária do prazer arquitetónico; é o modo de pensar (de prestar atenção a) num edifício e interpretar aquilo que nos agrada – o edifício não é meramente a causa de sensações de prazer. O prazer na arquitetura pertence à classe dos prazeres intelectuais. Existe uma distinção entre perceção vulgar e perceção “imaginativa”; cabendo a experiência arquitetónica, essencialmente, neste segundo tipo de perceção, na medida em que a capacidade imaginativa deve determinar toda a nossa maneira de compreender e reagir aos estímulos dos edifícios.

Há um argumento defendido tanto por filósofos como por psicólogos de que, na perceção, a experiência e a interpretação (preceito e conceito) são inseparáveis. Kant não hesitou em colocar a experiência e o conceito de “mãos dadas”, como que caminhando lado a lado, caracterizando a sua relação como particularmente íntima. No entanto, sentiu que seria necessário encontrar a qualidade pela qual a sensação e o conceito se encontram relacionados. A essa qualidade deu o nome de “imaginação”, encontrando-a também na apreciação estética, residindo a diferença no facto de, na perceção normal, a imaginação ser limitada pelas regras da compreensão, enquanto que o gosto estético é livre, não contendo qualquer limite. Esta teoria permite-nos concluir que a experiência arquitetónica implica o pensamento e a conceção do objeto.

O conceito de arquitetura não se deduz nem se define literalmente, para o conceber, teremos sempre que recorrer à perceção imaginativa; tal como a experiência musical, a arquitetura manifesta uma estrutura imaginativa. No caso da perceção literal, ver é acreditar e o conhecimento é o objetivo primordial. Aquilo que vejo está inevitavelmente interligado com aquilo em que acredito: não posso escolher ver de outra forma aquilo que sei ser uma árvore. A perceção literal assume-se como o motor das nossas crenças.

Assim, poderemos dizer que, tendo o conceito arquitetónico uma estrutura imaginativa, este também o será primordialmente estético, envolvendo um inevitável e incontornável exercício gustativo. O gosto e a discriminação estética tornam-se as ideias dominantes na teoria da arquitetura, mas não a esgotam, a arquitetura ultrapassa questões formais e de modelo. A sequência de experiências lógicas que percorrem uma edificação, uma estrutura, podem ser essenciais para o seu significado e objeto de um profundo estudo arquitetónico. Não nos parece que uma experiência puramente visual consiga revelar toda a força de um edifício, é preciso escutá-lo, ouvir os seus ecos, murmúrios e silêncios, experienciando todas estas sensações e só assim poderemos determinar a verdadeira alma de um edifício.

E a experiência arquitetónica, ou o que quer que lhe chamemos, é isto, é este todo complexificado e ramificado. É um tudo e um nada que encontra a sua base na imaginação e estética. Esta reflete um ato necessitado de atenção imaginativa: pertence ao lado ativo, e não meramente passivo, da mente. Se assumimos que a arquitetura está inteiramente relacionada com a estética, só a poderemos compreender se estudarmos o funcionamento desta, isto é, o funcionamento do gosto, daquilo que é ou não considerado “belo”. Talvez encontremos princípios pré-definidos da estética, e, se assim o for, saberemos como construir.