O espaço em branco à volta dos desenhos é o outro lado. O lado onde a gente entra. Leonilson

Manuel Baptista nasceu em Faro, o que faz dele um artista local (coisa que ele nunca foi). Trabalhou em França e na Alemanha, entre os anos 60 e 70, sem deixar, no entanto, de participar da vida artística do seu país. A arte não pode ser localizada num espaço específico, ela não é fruto apenas da origem do seu autor, mas é um compósito de experiências, de vivências e de trocas. É fruto ainda do seu tempo, das exigências que este faz ao artista ao confrontá-lo com a História, que fica para trás, mas que pode permanecer como uma referência e como um ponto de partida. Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset, eu sou eu e as minhas circunstâncias. A arte não vive fora do mundo, mas é parte essencial da sua própria composição e artistas como Manuel Baptista, que buscaram sempre estar adiante do seu próprio tempo, trazem, como marca, o símbolo da constante inquietação, que é uma das principais características da arte contemporânea.

Manuel Baptista experimentou formas, técnicas, suportes, linguagens. Experimentou movimentos e experimentou também não ostentar rótulos. Experimentou, de alguma forma, a solidão. E esta inquietude é visível nos desenhos que expõe agora: a mão do artista não para, desliza na superfície criando formas, sugerindo imagens, plasmando sombras. A sua obra, e sobretudo os seus desenhos, podem ser caracterizados pela ideia de desconstrução e de recomposição das superfícies. Há um cruzamento entre uma paisagem apenas sugerida e uma forte tendência ornamental. O ornamento, para o artista, não deve ser reprimido porque o tempo assim o exige. Há um lado solar, mesmo nas obras a preto e branco, que Manuel Baptista não pretende ocultar.

Alguns artistas fazem do vazio uma arte, tornando vívido o que não é visível. Os desenhos de Manuel Baptista jogam com as entrelinhas, como os espaços em branco. Mas no seu caso, não é o espaço em branco que determina a imagem. É a presença das linhas, ora robustas, ora delicadas, que preenchem o espaço em branco com as suas inquietações.