O aluno, muito admirado, pergunta: mas ele é mesmo o Costa Pinheiro, autor daquela imagem do Fernando Pessoa que tinha no meu livro do Liceu? O curso de Artes Visuais da UAlg tinha sido criado há um ano e contávamos, entre os professores, com a presença do artista Costa Pinheiro que, generosamente, aceitou partilhar connosco aquela recém-iniciada aventura. Durante os anos em que deu aulas, parecia um miúdo a mais entre os alunos e alunas que chegavam entusiasmados. Andava por ali a orientá-los, a questioná-los e a provocar cada um deles com propostas, com ideias de ocupação de espaço público, com planos que se tornavam objetos artísticos.

Muitos dos alunos não faziam ideia que tinham à sua frente um dos maiores artistas portugueses do século XX - um homem cuja obra o ultrapassou, porque se confundiu com a própria história de um país que crescia e que mudava. A sua pintura, e as suas ideias, eram grandes demais para um país que naqueles anos 60 vivia sob a ditadura salazarista.

Mudou-se para Munique onde passou da pintura gestual para uma figuração discreta, quase geométrica, que viria a marcar a sua pintura até ao fim da vida. No final dos anos 60, abandona por uns tempos o suporte que ainda hoje o identifica, a tela, e investe num universo mais conceptual, criando cidades imaginárias e móveis, como se fossem brinquedos que os habitantes, qual crianças, reconstruíam e remontavam à sua maneira. O projeto Citymobil era uma utopia que foi muito bem aceite pela crítica, e pela Academia alemã, que reconheceu muito cedo o grande artista e pensador.

Na segunda metade dos anos 70 retoma a pintura e cria as séries mais emblemáticas que fazem parte do imaginário de Portugal, desde efígies de reis às personificações do grande fingidor Fernando Pessoa. Talvez o artista encontrasse no poeta uma tradução possível de si mesmo. Expor a sua obra é uma maneira de homenageá-lo pelo seu trabalho como artista e como pedagogo, no sentido mais literal do termo: preceptor, aquele que conduz às crianças à escola. Costa Pinheiro conduziu muitos alunos e alunas, e conduziu também, de forma discreta, pequenas-grandes revoluções artísticas que marcaram o seu tempo e que perduram na sua obra. Que é intemporal e que permanece.

Porque ele será sempre o artista e o autor das imagens que ilustravam livros do liceu e que tanta admiração provocava entre os alunos e que tanta admiração provoca entre aqueles, que como nós, temos o privilégio de (re)visitar as suas inesquecíveis figurações.

A exposição Costa Pinheiro: Figurações estará aberta ao público de 24 de novembro à 3 de fevereiro de 2017 na Galeria Trem (Faro, Portugal).