Mendes Wood DM tem o prazer em apresentar a primeira mostra individual do artista Antônio Obá em São Paulo. A exposição reúne trabalhos de diversas técnicas e mídias, como pinturas, monotipias, instalações e performance.

Para essa exposição, o artista tenciona por meio de ícones religiosos presentes na cultura brasileira, uma memória identitária racial e política. Uma série de ex-votos – objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido – é instalada ao longo da sala, reunindo materiais ordinários, como dentes de cavalo, ferradura, pregos, dentre outros, mas que no contexto de um discurso sincrético, abrangem a proposta de troca com o divino que o ex-voto expressa.

A ideia de uma oferenda simbólica presente nos ex-votos colocam em crise sua finalidade; objetos de agradecimento ante um pedido atendido por uma divindade, são, nesse caso, registros, nas palavras do artista: marcas de um corpo partido, impregnado na madeira como uma mancha que não se propõe ao esquecimento, mas permitem que se abram discussões sobre a interação entre a perspectiva ritualística e histórica que os indivíduos carregam.

Esses conjuntos icônicos dentro da religião, com a vivência e concepções contemporâneas do artista a respeito da fé, estabelecem uma teia de sentidos que conecta a nossa atualidade com tempos apagados pela história. As monotipias realizadas por meio de impressões do próprio corpo do artista em lonas de algodão, reiteram a preocupação em sua pesquisa com a ressignificação do corpo, transfigurando suas intenções no campo pictórico para além de signos religiosos, abrangendo uma discussão sobre o corpo negro, não só físico, mas a partir de uma perspectiva histórica e social.

No campo da historiografia da arte, a partir do trabalho de Obá, é possível investigar as relações de influência e atravessamentos entre a construção cultural do Brasil, o apagamento do negro dentro da história da arte brasileira que dá margem, todavia, a um ato de resistência e reflexão sobre a ideia de uma identidade nacional.

Antônio Obá (Ceilândia, 1983) vive e trabalha em Brasília. Suas exposições incluem: entre, Casa da américa Latina, Brasília (2016); My body is a cage, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro (2016); ONDEANDAAONDA, Museu Nacional da República, Brasília (2015); OCUPAÇÃO, Elefante Centro Cultural, Brasília (2014); Impermanências, Galeria de Arte Dulcina de Moraes, Brasília (2008); Sob o signo de um novo olhar, Centro cultural do SESI, Brasília (2003).