Vhils, como é conhecido Alexandre Farto, é um poeta urbano. Vive a cidade e entende-a em toda a sua complexidade. E faz mais do que isso, vê para lá do que esta parece ter para mostrar, para lá de paredes sólidas. Vhils observa o evoluir da cidade, da sua, perto de Lisboa, e de todas as cidades do mundo e percebe que essa evolução é feita camada sobre camada.

É esta sobreposição do tempo e da vida de quem por ali passa que Alexandre quer descobrir e mostrar ao mundo. Considera que as pessoas e as cidades formam as suas identidades num diálogo, em que, mesmo sem darmos conta, a cidade nos marca, mas também nós vamos deixando a nossa marca.

Incapaz de ficar indiferente a tudo o que via acontecer, Alexandre quis intervir. Tendo-se criado enquanto artista no mundo do graffiti, foi evoluindo a sua técnica de forma a descobrir as camadas de que a cidade é feita, em vez de lhe acrescentar mais uma. Munido de um martelo pneumático e martelos de aço, começou a retirar camadas das paredes ou painéis de publicidade espalhados pela cidade e a deixar aí marcados os rostos de habitantes comuns daqueles mesmo locais, numa intervenção urbana que visa refletir a cidade e quem a habita.

Nascido no Seixal, do outro lado do rio face a Lisboa, em Portugal, Alexandre começou a deixar tags (assinaturas de graffiti) pelas paredes aos dez anos, sendo que aos treze já fazia graffiti e depressa se juntou ao coletivo Leg Crew. Começou por desenhar letras, deixando a sua marca nas paredes com palavras e frases, e foi neste período que começou a adoptar o nome Vhils, por serem essas as letras que mais gostava de desenhar. Durante a sua adolescência viveu as emoções de quem decide fazer graffiti, desenhando de noite e fugindo da polícia sempre que era preciso, tendo mesmo chegado a ir para a esquadra uma vez. Mas tudo isso apenas lhe aumentou a paixão pelo graffiti. Há medida que foi crescendo e o seu entendimento acerca do que a cidade representava foi amadurecendo, Vhils desenvolveu a técnica que o fez ser conhecido pelo mundo inteiro como um dos melhores street artists mundiais.

Quando não teve média para se candidatar a uma universidade portuguesa, candidatou-se à Central Saint Martins, em Londres, com o seu portefólio, e foi aceite. Aí aprendeu tudo o que pôde, na faculdade e nas ruas. Em 2008, participou no Cans Festival, organizado por Bansky, nos túneis da estação de metro de Waterloo, e foi com os rostos de duas mulheres, uma jovem e outra velha, a olharem em direções opostas, cravados na parede, que Vhils conquistou o mundo. O seu trabalho esteve na capa do The Times, foi denominado de “Bansky português” pela BBC e de “Andy Wall-hole” pelo The Telegraph e a obra foi considerada uma das dez melhores de street art do mundo pelo The Guardian.

Desde aí nunca mais parou, percorrendo o mundo a realizar intervenções nos mais variados locais. Transforma os rostos anónimos das pessoas que vai encontrando em ícones, assim como transforma lugares anónimos, dando-lhes um novo foco, um motivo para que quem por ali passa possa refletir.

No vídeo M.I.R.I.A.M. que fez para a banda portuguesa Orelha Negra, o artista explorou uma nova técnica, usando explosivos de forma controlada para desenhar os rostos nas paredes. A ideia surgiu-lhe devido à época que se vivia na altura, com o início da crise económica, que parecia fazer explodir estruturas aparentemente inabaláveis.

Para mais informações
www.alexandrefarto.com