A primeira vez que olhou para ela sabia que, desta vez, tinha acertado. O batimento cardíaco acelerou de tal forma que conseguiu sentir o coração na ponta dos dedos. Sentiu calafrios de excitação, os pêlos eriçaram e, nesse momento, percebeu que o futuro podia ser dourado.

À medida que o tempo foi passando criaram-se aberturas que deixaram entrar feixes de luz, iluminando pequenos detalhe do feitio, da história e do futuro. Desvendou-se a missão, a visão, a filosofia. Os desejos e os planos eram os mesmos e a imprevisibilidade do gesto afastava a monotonia. A confiança e a lealdade vieram com o hábito e com a prova constante de que é preciso dar para receber.

Houve momentos de discórdia, mas quando virava a esquina olhava sempre para trás. É preciso discordar para aperfeiçoar, para chegar adiante da linha do conformismo. Criaram memórias e muitas histórias para contar, emoções e laços de afeto dignos de registo no tempo. Mas com o passar do tempo, surge a necessidade de renovação. É preciso arriscar e estar abertos a novas experiências e emoções.

Este novo caminho deve ser construído a dois porque de outra forma, vem a descrença. Quando a magia desvanece e a desilusão embate contra a realidade. Não há mais oportunidades a dar, as experiências tornam-se negras e as emoções intoxicam os dias. O lugar onde esteve deixou de existir, é impossível lá voltar.

A marca que sempre esteve presente, que fez acreditar que a confiança é a base de qualquer relação falhou. Desiludiu e fez com que não sentisse vontade de olhar para trás após virar a esquina. Hoje as marcas são parte da nossa teia de relações emocionais. Apaixonamo-nos e somos devotos a uma religião que mexe com o coração de vários fiéis. Ficamos, muitas vezes, cegos pela personalidade, pela solidez da resposta, pela originalidade da mudança. Mas quando nos desiludimos o sentimento de perda é absurdamente marcante.

As marcas que fazem parte da nossa vida não devem ser olhadas com leviandade. São lugares seguros, estáveis, com os quais podemos contar. Têm os traços de personalidade que procuramos, as caraterísticas que precisamos e os valores nos quais acreditamos. A quebra de relação com uma marca é um momento de quebra emocional. Criamos empatia com as marcas, porque nos identificamos com a sua essência. Fazem-nos sentir especiais porque aparentam saber sempre o que desejamos. Personalizam os produtos e os serviços para nos fazer sentir felizes e saber que podemos sempre confiar numa resposta à nossa medida. Contam histórias empolgantes e afetuosas para nos fazerem sentir em casa. Queremos um casamento para a vida.

As marcas deixaram de ser marcas e nós nem nos apercebemos. Passaram a ser um substituto para as relações que não resultaram, que não queremos ter ou que estão incompletas. As marcas ocuparam um buraco emocional no universo da natureza humana. Por isso, ainda que reconheçamos a irracionalidade da paixão que nutrimos pelas marcas não vamos mudar este cenário. As marcas ocupam um lugar emocional nas nossas vidas. Porque é fácil, pouco trabalhoso e bastante confortável. Porque ocupam um lugar que deveria estar ocupado. Casamo-nos para não ter que nos casar. As marcas ocupam um lugar emocional nas nossas vidas, onde é que estão as pessoas?