Pedro Nunes foi o maior matemático português de todos os tempos, encontrando-se entre os maiores matemáticos europeus da sua época. Nos seus textos encontramos abordagens inovadoras e raciocínios rigorosos sobre inúmeros problemas científicos do seu tempo, como o papel fundamental que a matemática desempenhou no desenvolvimento dos Descobrimentos Portugueses, afirmando sobre esse processo: "Ora manifesto he que estes descubrimentos de costas: ylhas: e terras firmes: nam se fezeram indo a acertar: mas partiram os nossos mareantes muy ensinados e prouidos de estormentos e regras de astrologia e geometria".

Pedro Nunes, que se preocupou bastante em analisar matematicamente vários problemas náuticos, propondo soluções rigorosas para os mesmos, nasceu em 1502, em Alcácer do Sal. Estudou nas universidades de Salamanca e de Lisboa. A sua formação base foi na área da medicina, tendo atingido o grau de doutor em medicina. Na época em que ele viveu, existia uma estreita ligação entre a medicina e a astronomia e consequentemente a matemática.

Grande parte da sua vida foi dedicada à atividade letiva. Teria ensinado na corte, tendo alunos como D. João de Castro ou os infantes D. Luís e D. Henrique. Ensinou Lógica e Filosofia Moral e a partir de 1544 passou a professor de matemática na Universidade de Coimbra, tendo mantido o cargo até se jubilar, em 1562. Paralelamente, teve responsabilidades na "certificação" de fabricantes de instrumentos náuticos, cartógrafos e pilotos.

Em 1529 foi nomeado cosmógrafo do reino e em 1547 cosmógrafo-mor. As suas relações com os homens do mar nunca foram pacíficas, devido essencialmente à dificuldade destes compreenderem os conceitos matemáticos propostos por ele. No entanto, as suas ideias conheceram uma difusão significativa, um pouco por toda a Europa e grande parte delas foram sendo lentamente incluídas na prática de navegar. Já perto do final da sua vida, foi consultado pelo papa Gregório XIII acerca da reforma do calendário, que este papa implementou em 1582. Morreu em Coimbra em 11 de agosto de 1578.

Os textos que publicou debruçam-se sobre a náutica mas abordam também astronomia, ou matemática mais pura, como é o caso da álgebra. O mais antigo texto impresso, que se conhece de sua autoria, publicado em 1537 é o Tratado da Sphera com a Theorica do Sol e da Lua. Nele incluiu alguns textos de referência na sua época, nomeadamente o Tratado da Esfera de Sacrobosco e a Teórica do Sol e da Lua de Purbáquio.
O livro contém ainda dois seus pequenos estudos inéditos sobre problemas de navegação e de cartografia. Neste seu primeiro livro encontramos um dos seus contributos mais importantes para a cartografia e a náutica. Esclareceu que quando um piloto segue apontando o navio sempre na mesma direção, que podia obter na bússola, o percurso descrito na superfície terrestre não é uma linha reta, mas uma espiral em direção a um dos polos. O conhecimento desta curva, que mais tarde veio a ser designada como loxodromia, foi fundamental para um aumento significativo do rigor da navegação.

Em data que se desconhece, mas certamente após o Tratado da Esfera, publica Astronomici Introductorii de Spaera Epitome. Em 1542 dá à estampa De Crepusculis liber unus, seguindo-se, em 1564, De erratis Orontii Finaei. De notar que depois do Tratado da Esfera, Nunes publica em latim, para poder chegar junto da comunidade internacional, uma vez que esta era a língua de ciência da época. A única exceção é o Libro de Algebra en Arithmetica y Geometria, publicado em castelhano, em 1567.

Mas a grande obra de Nunes, no campo da náutica, é o De arte atque ratione navigandi publicado em Coimbra, em 1573. Este texto foi publicado pela primeira vez em Basileia, em 1566, sob o título Petri Nonii Salaciensis Opera. No entanto, Nunes ficou desagradado com imensas gralhas que a edição de 1566 tinha e decidiu reeditá-lo, mudando-lhe o título.

Recentemente, a Academia de Ciências de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian promoveram a edição de todas as obras impressas de Nunes. Os textos foram publicados em seis volumes, contendo a transcrição dos textos originais, a tradução dos textos em latim, assim como inúmeras notas elaboradas por uma comissão científica. Além dos seis volumes mencionados, serão publicados mais dois, com dados suplementares.