Se tivéssemos que destacar uma das peculiaridades mais chamativas da actividade científica desenvolvida em Portugal nas décadas que seguiram a expansão marítima esta seria sem dúvida o aparecimento de figuras multifacetadas como Luís Serrão Pimentel (1613-1679), autor póstumo do Methodo Lusitanico de desenhar as fortificações (1680), entre outros trabalhos.

Luís Serrão Pimentel continua a tradição de nomes da altura de Pedro Nunes, D. João de Castro, Garcia de Orta ou João Baptista Lavanha. Portugal foi sempre um viveiro de individualidades ilustres no mundo das ciências aplicadas. Estamos a falar do verdadeiro homem de ciência português da Idade Moderna, o cientista total, aquele que disfrutava de reconhecimento social e de grandes competências científicas, e que dedicou boa parte da sua vida a formar e ilustrar a gerações e gerações de jovens matemáticos portugueses.

Luís Serrão Pimentel foi um de aqueles homens habilidosos que andaram a meio caminho entre diferentes estratos sociais, como a corte de D. João IV, o Colégio jesuíta de Santo Antão em Lisboa, a Ribeira das Naus ou as obras de fortificação levantadas na fronteira seca como consequência da Guerra da Restauração com os espanhóis entre 1640 e 1668.

Ele desenvolveu-se com soltura nos três grandes estamentos da altura: o mundo do poder monárquico, o mundo da religião e o mundo militar. Foi Engenheiro-Mor do Reino, Cosmógrafo-Mor, professor de matemáticas na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão e na Aula de Fortificação no Paço da Ribeira, amante dos livros de ciência e, sobre todo, um prolífico tratadista e um óptimo matemático. Foi também pai e avô de dois consagrados cientistas, Manuel e Francisco Pimentel respectivamente. O apelido Pimentel dominaria a ciência aplicada do século XVII em Portugal.

Não alheios à importância de desenterrar a história científica do país, a Biblioteca Nacional de Portugal, em colaboração com o mundo académico português, inaugurou no 28 de Fevereiro na sua sedde Campo Grande uma exposição dedicada a recuperar a figura de este cientista português do século XVII . A exposição é comissariada pelo historiador da ciência do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade de Lisboa, Henrique Leitão, e por Miguel Soromenho, investigador do Museu Nacional de Arte Antiga.

A abertura da exposição contou com a presencia de Maria Inês Cordeiro, diretora da Biblioteca Nacional de Portugal, de um representante do Exército português, dos comissários e de muitos curiosos que esperavam ansiosos que as portas da sala permitiram o acesso ao conhecimento. E entre os curiosos, um visitante que não podia passar desapercebido, o ministro de Educação e Ciência, o senhor Nuno Crato, grande amigo dos números.

A exposição de Lisboa homenageia os 400 anos do nascimento de Luís Serrão Pimentel e fecha da melhor forma possível uma série de actividades, como o colóquio Luís Serrão Pimentel e a ciência em Portugal no século XVII, decorridas na Biblioteca Nacional para celebrar este português ilustre.

A mostra destaca com uma rica variedade de documentos – muitos deles conservados nos fundos da Biblioteca Nacional – os anos de formação de Luís Serrão Pimentel, os seus trabalhos como engenheiro especializado no desenho de fortes e a sua faceta bibliófila (além das suas obras podem ser contemplados os livros de grandes vultos da ciência moderna, como Copérnico ou Kepler, autores que estiveram presentes na sua biblioteca pessoal, conhecida em várias partes de Europa).

A sua afeição pela conservação de edições originais e a sua amizade com outros amantes internacionais dos livros – como por exemplo Cosmo III de Médici – levaram recentemente Francisco Melo ao encontro e identificação do único texto manuscrito de Pedro Nunes e de outro documento, do início do século XVI, do matemático português.

A visita desta exposição, aberta até o 30 de Abril, não só é a melhor forma de se aproximar à figura de Pimentel, mas também de entrar no apaixonante mundo da ciência do seculo XVII.