A passagem de Casimiro de Abreu por Portugal, se bem que fugaz – uns escassos quatro anos –, deixou marcas que não devem ser ignoradas quer no estudo da sua poética quer nas relações estabelecidas com escritores portugueses. Tal se deve, em parte, à sua colaboração activa no I Volume do periódico A Ilustração Luso-Brasileira de onde resultou a divulgação em Portugal do seu génio poético, bem como um estreitar de relações com escritores e intelectuais portugueses colaboradores ou não deste jornal literário.

Naturalmente que a situação levanta o problema do seu (re)conhecimento deste lado do Atlântico se não tivesse colaborado na referida publicação. Ignorado nunca teria sido, pelo menos pelas elites culturais ligadas ao romantismo, mas ainda mais desconhecido do grande público, não tenho qualquer dúvida que fosse ainda que, paradoxalmente, a sua produção agrade sobretudo aos que pedem pouco à literatura.

Há pois que fazer justiça às revistas e jornais literárias que em muito contribuíram para a divulgação de certos nomes e estéticas. Este tipo de publicações está directamente ligado à sociologia da criação, enquanto afirmação grupal e à da recepção enquanto criação de espaços de divulgação. Nelas se define o locus de confirmação e de encontro de criadores já reconhecidos e daqueles que procuram o reconhecimento de forma individual ou colectiva facilitando, obviamente, os mecanismos de produção em grupo como sejam o estímulo mútuo, a hetero-correcção, a hetero-formação bem como a partilha de ideais estéticos. De facto, são muitos os autores que, ao longo da História da Literatura, se deram a conhecer através de revistas e jornais literários prosseguindo, posteriormente, um caminho estritamente individual, o que não quer dizer que todos os colaboradores destas publicações periódicas tivessem feito este percurso. Tal depende do génio e das condições de produção e de recepção a que, presentemente, não serão alheias determinadas técnicas de marketing.

A Ilustração Luso-Brasileira, Jornal Universal foi publicada em Lisboa pela primeira vez a 5 de Janeiro de 1856 e tinha como público-alvo leitores portugueses e brasileiros. Era seu objectivo a promoção das letras e das artes e a divulgação de conhecimentos de índole vária. Publicava poesia, ficção, ensaio crítico, texto noticioso, notas bibliográficas que acompanhava com ilustrações e retratos. Tinha uma periodicidade semanal e a sua publicação estendeu-se até ao fim de 1859, ainda que tivesse sido suspensa em 1857 devido à escassez de papel. Neste espaço temporal foram publicados 3 volumes.

Editada pelo tipógrafo António José Fernandes Lopes, também editor do jornal literário O Panorama (1837-1868), o jornal ou revista (encontrei as duas designações) tinha uma seleccionada lista de colaboradores portugueses de que destaco Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Lopes de Mendonça, Mendes Leal Júnior, Raimundo Antônio de Bulhão Pato, Francisco Duarte de Almeida e Araújo, Luiz Augusto Palmerim e demandava também colaboradores brasileiros. Por questões que se prendem com limitações de ordem vária, mormente a distância geográfica dos dois países e a dificuldade comunicacional nestes meados do século XIX, Casimiro de Abreu, que estava em Lisboa desde 1853, foi, aos 16 anos, o único escritor brasileiro a fazer parte do corpo redactorial da revista durante o ano de 1856, ficando o seu nome ligado apenas ao I Volume.

Poder-se-á questionar o protagonismo dado pelo editor a um escritor considerado médio com uma pequena produção em tudo inferior à dos seus antecessores / contemporâneos Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo ou Junqueira Freire. A verdade é que, como é recorrente, se verifica aqui uma permuta de interesses. António José Fernandes Lopes legitimava os objectivos e o título da revista com o nome do brasileiro Casimiro de Abreu. Este, por sua vez, tinha acesso a uma série de afamados escritores e inscreveu o seu nome na cena literária portuguesa com a publicação de 11 poemas e 3 capítulos do romance Camila :

Ilustração Luso-Brasileira Textos de Casimiro de Abreu
n.º 16 Poema “Minha Terra” *
n.º 17 Poema “Saudades” *
n.º 18 Poema “A Rosa”
n.º 19 Poema “Suspiros”
n.º 20 Poema “Rosa Murcha” *
n.º 22 Poema “Elisa”
n.º 23 Poema “ A Vida”
n.º 24 Poema “O Castigo” * “Cena íntima”
n.º 25 Poema “A Amizade”
n.º 26 I capítulo do romance Camila
n.º 27 II capítulo do romance Camila + Poema “Os meus sonhos”
n.º 28 III capítulo do romance Camila
n.º 52 Poema “Ilusão” *

Houve pois, uma colaboração sistemática de Casimiro de Abreu entre os números 16 e 28 – apenas não publicou no número 21 – tendo mesmo protagonizado a página de rosto, normalmente ocupada por vultos já consagrados. Note-se, contudo, que apenas 5 poemas (*), de que a seguir me ocuparei, foram posteriormente por si inseridos na obra As Primaveras segundo um critério que o próprio define: “separei muitos cantos sombrios, guardei outros que constituem o meu – livro intimo –“ (Abreu, 1871: 70).

Quanto aos capítulos do romance Camila, a que foi dado grande protagonismo, têm a sua génese nas memórias do próprio autor. Trata-se de uma auto-ficção em que o eu vai de Lisboa ao Porto e se mostra fascinado com a cidade invicta – “pérola do Minho que se debruçava graciosa sobre a corrente ligeira do Douro” (Abreu, 1871: 229) – e com as “ribas pittorescas do Douro” (Abreu, 1871: 230). A sua importância está também no facto destas Memórias d’ uma Viagem ajudarem a reconstituir o deambular de Casimiro de Abreu por Portugal e, porque incompletas, aguçarem mais o apetite do leitor. Mas não só. Nelas se nota uma clara influência de Garrett não só na temática como também no estilo coloquial, com rasgos da irreverência característica do narrador de Viagens, no apelo sistemático a uma instância narrativa de segundo grau. Há igualmente em Camila uma preocupação constante com a entidade ficcional que é o narratário extradiegético – “Ah! É verdade; ia-me esquecendo de lhes dizer que este capítulo passa-se em Lisboa. Eu torno a principiar” (Abreu, 1871: 221) – não só enquanto garante de verosimilhança, como também naquele jeito exibicionista que tanto marcou a geração romântica. Convoca ainda Casimiro de Abreu a parafernália de escritores franceses lidos à exaustão pelos escritores românticos portugueses. Suportam estes considerandos a introdução de Camila onde se pode ler:

Decididamente estamos na época dos romances. Está provado que não se póde passar sem elles; todos são necessários, porque todos são úteis. Uns, deleitam pela suavidade do estylo; outros, são excellentes narcoticos. Este pertence aos ultimos, e se eu não estivesse convencido de quanta utilidade póde elle ser a um desgraçado que não durma há tres dias, de certo modo não o escreveria. É verdade que incommódo horrivelmente os pacíficos cidadãos acostumados ás bellezas de Musset ou de Vigny, de Balzac ou Dumas, mas tenham paciência: é preciso provar de tudo. Unicamente para não se assustarem dir-lhe-ei que são apenas cinco ou seis capítulos. Dado este cavaco, que fica servindo de prologo, eu principio. [Sic] (Abreu, 1871: 221)

Interessantemente os ilustres colaboradores de A Ilustração Luso-Brasileira não se detiveram sobre o nosso autor. Apenas Camilo Castelo Branco em Cancioneiro Popular de Poetas Portugueses e Brasileiros e Noites de Insónia, n.º 4 e Botelho de Andrade em Quarenta Anos de Vida Literária (carta dirigida a Teófilo Braga) o referem, mais pelo carácter que pela obra. Posteriormente Pinheiro Chagas e Ramalho Ortigão prefaciariam algumas das várias edições de As Primaveras.

Detenho-me, pois, nos poemas recuperados da revista para As Primaveras, no respeito pelo critério autoral, e nas suas afinidades com autores portugueses.

Quando o próprio Casimiro de Abreu escreve “Meu Deus! Que se há-de escrever aos vinte anos, quando a alma conserva ainda um pouco da crença e da virgindade do berço?” (Abreu, 1871: 70), reivindica e legitima, de certa forma, uma leitura carregada de benevolência. A referida benevolência não implica menosprezo outrossim uma aposta na “promessa dos fructos de outomno” [Sic] (Abreu, 1871: 70) que, lamentavelmente, nunca chegaram a existir, uma vez que o poeta parte com 21 anos de idade.

Ora estas poesias, escritas em Portugal, são amplamente denunciadoras de vários parâmetros por que se deve pautar a sua leitura a saber: a idade do autor, a sua circunstância vivencial e as tendências estéticas predominantes no país de acolhimento. Depois, há que assinalar que Casimiro de Abreu “reduzia a natureza e o próximo a um ângulo visual menor: o do seu temperamento sensual e miniero” (Bosi, 1995: 127). A sua poesia agradou sobretudo pela coerência manifesta e por “um ritmo cantante, uma expressão fácil, uma palavra brejeira” (Bosi, 1995: 128). Mas agradou a um público médio, pouco exigente que esqueceu ou ignorou escritores, que trataram os mesmos temas, como os já referidos Gonçalves Dias, Junqueira Freire ou Álvares Azevedo. Não quero com isto deixar de ressaltar a sua singularidade no “modo de compor, que remonta, em última análise, ao seu modo de conhecer a realidade na linguagem e pela linguagem” (Bosi, 1995: 127).

Os poemas que colhi para este corpus foram escritos em Lisboa sendo datados de 1856, andava o poeta pelos 17 anos de idade. Por mais que a vida lhe tenha sido madrasta, agilizando um amadurecimento precoce, soam claros os vestígios de pós-adolescência, irreflexão e inexperiência que apontam para o que Pinheiro Chagas denomina “espontaneidade, ardor muitas vezes irreflectido, expansão fervente de todos os sentimentos que lhe abrazavam [Sic] a alma” (Abreu, 1871: 4) ou, em suma, “revelações de criança apaixonada” (Abreu, 1871: 3) que “desfolhava com as mãos febris as flores da sua dupla grinalda de poesia e juventude” (Abreu, 1871: 4).

Quanto às suas circunstâncias vivenciais, quero crer que “Casimiro de Abreu não viu nunca senão a face negra da vida” (Abreu, 1871: 5). Carregando o estigma da bastardia, sofreu também os horrores de um exílio precoce marcado pelo sentimento nativista e pelas saudades da família que a sua poética tão claramente manifesta, como bem refere Justiniano José da Rocha: “A saudade da pátria, a confiança nos destinos d’ella, a saudade da família, a lembrança do affago materno, do berço do irmão, tudo isto inspira o poeta; tudo que é sentimento terno acha-se no seu thesouro” [Sic] (Abreu, 1871: 16). São, acrescenta Pedro Luiz de Sousa, “cantos saudosos, aspirações queixosas de quem precisa para viver do embalsamado da sua terra” (Abreu, 1871: 19), confirmados, de resto, pelo próprio poeta que escreve: “nas ribas pittorescas do Douro ou nas varzeas do Tejo, tive saudades do meu ninho das florestas e cantei; a nostalgia me apagava a vida e as veigas risonhas do Minho não tinhão a belleza magestosa dos sertões” [Sic]. (Abreu, 1871: 69).

Convive Casimiro de Abreu através das páginas de A Ilustração Luso-Brasileira com a chamada geração romântica portuguesa que desenvolve um movimento literário e cultural de longa duração . Tal convivência está plasmada na sua poética através de práticas intertextuais explícitas e implícitas como sejam a epígrafe, a paráfrase, ou o pastiche. Note-se, contudo, que nela respira uma perfeita integração na 2.ª geração romântica brasileira sem que, com isso, as interferências portuguesas sejam pospostas.

Os poemas a que me refiro – “Minha Terra”, “Saudades”, “Rosa Murcha”, “Ilusão” e “O Castigo” – recuperam marcas distintivas do romantismo português como sejam o individualismo, o subjectivismo, a idealização, o sentimento exacerbado, o egocentrismo, a identificação do estado de espírito com a natureza, o contraste entre o grotesco e o sublime e a liberdade formal; vão, no entanto, buscar ao romantismo brasileiro o indianismo, o nacionalismo e o ufanismo – distante, contudo, de qualquer vestígio lusofóbico – o vocabulário brasileiro, a religiosidade e o escapismo, este uma constante na poética de Casimiro de Abreu.

“Minha Terra” (Abreu, 1871: 74-77) e “Saudades” (Abreu, 1871: 77-78) são, sem dúvida, hinos de amor a uma pátria distante. Neles se encontra aquilo a que Velho da Silva chamou “saudades da pátria; a nostalgia poética” (Abreu, 1871: 49) evocadoras de passagens de Camões, de Flores sem Fruto ou de Folhas Caídas de Garrett:

_Saudade! Gosto amargo de infelizes Delicioso pungir de acerbo espinho (Garrett, 1963; 301

Terra, a terra da pátria! (Garrett, 1963: 303)

Vira o Tejo suas águas cristalinas (Garrett, 1963: 309)

Lindo vale escuso e quieto Que banhas os pés do Tejo (…) Tuas águas a correr, A suspirar a tua brisa, Os teus braços a gemer (Garrett, 1963: 138)

Ai! o negro dos montes erguidos, Ai! o verde do triste pinheiro! Que saudades que deles teremos… (Garrett, 1963: 198);_

do Só de António Nobre

_Saudade, saudade! palavra tão triste, E ouvi-la faz bem: Meu caro Garrett, tu bem a sentiste, Melhor que ninguém! (Nobre, 1976: 69)

Ó Portugal da minha infância Não sei que é, amo-te à distância, Amo-te mais, quando estou só… (Nobre, 1976: 79);_

ou da exaltação pátria de Luis Augusto Palmeirim

Desde então a minha terra Foi só tudo para mim; As crenças que o peito encerra, Depôr-lhas aos pés eu vim.

É porém o amor, segundo Justiniano Rocha, “o que mais lhe faz vibrar o coração” (Abreu, 1871: 16). Casimiro de Abreu “tem a habilidade de fallar do amor quasi sempre, como d’ uma matéria nova. O canto do amor é melodioso e sublime” [Sic] (Abreu, 1871: 28) como é visível em “Rosa Murcha” (Abreu, 1871: 81-82), “Ilusão” (Abreu, 1871: 86-87) e “O Castigo / Scena Íntima” (Abreu, 1871: 105-107). Aqui recupera uma imagologia por vezes ultra-romântica, usando a retórica do eu como sábio artifício de ocultação de uma amarga auto-condenação nem sempre sentida, ao jeito de Bulhão Pato:

Não sabes que ao ver-te triste, E pensativa a meu lado, O rosto na mão firmado. E os olhos postos no chão, Calado, ancioso, anhelante, Quero ler no teu semblante A causa da dôr constante Pois não basta o meu amor Para te dar a ventura? [Sic] (Pato, 2008:7-8)

Offendi-te num momento De terrivel desvario; Era o ciume violento! O rubor da castidade A tua face affrontava, E eu cego, eu perdido, ousava Proseguir! oh! por piedade, Por piedade, anjo do ceo, Perdoa a quem te offendeu! [Sic] (Pato, 2008: 21-22);

o locus horrendus de Mendes Leal Júnior

_Pálida e triste, a flor, medrada a custo Na fenda de um rochedo, Pendido o cálice, trémula vertia Como um pranto, em segredo!

Do vendaval cortada, foi seu fado Nascer, sorrir, findar!... Teve por salva o estrondo da tormenta, E por sepulcro o mar! (Leal, 1858: 130),_

ou a simplicidade rítmica que tem paralelo em João de Deus.

Na temática amorosa coexistem, como se viu as cores alegres e sombrias. “No sorrir do mancebo”, diz Pedro Luiz de Sousa, apparece às vezes uma contracção irónica, um vislumbre de tristeza, fraco lampejo d’ alguma dôr secreta”. É então que jazem “flores spulchraes ao lado de flores festivas” [Sic] (Abreu, 1871: 18).

Os textos de que me ocupo são programáticos de toda a poética breve de Casimiro de Abreu. Neles se encontram os temas predilectos que o identificam com o lirismo romântico como sejam as saudades pátrias, o gosto pela natureza, a nostalgia da infância, o temor da morte, a ingenuidade religiosa, e a idealização da mulher.

A esta simplicidade semântica vão dar forma versos que Pinheiro Chagas diz “rebeldes à lei do metro, uma folhagem parasita de methaforas que se lhe enroscava à roda das estrophes cinzeladas” (Abreu, 1871: 3) de forma amaneirada, mas que conseguem transmitir a cadência da inspiração. A simplicidade rítmica e rimática, a liberdade métrica e a lhaneza temática sublimam em débil ternura uma sensualidade pujante que faz esquecer o seu exagerado sentimentalismo e que levou Ramalho Ortigão a afirmar:

Desconhece os segredos da linguagem com que se enfeita a pobreza de espírito, não estudou em alheios moldes a fórma em que tem de vazar-se a inspiração, não aprendeu a mechanica de palavra nem o contraponto da versificação. Não é um génio desenvolvido nem um grande litterato; é uma grande alma e um grande infeliz. Não verseja, poeta; não canta, suspira-se, lamenta-se, chora. Diz-nos simplesmente o que sente, dá-nos em cada verso um sorriso ou uma lagrima; em cada estrophe um pedaço da sua alma, e, sem o querer, sem o pensar talvez, offerece-nos […] o completo romance d’ um coração, um poema inteiro cujo heroe é o auctor (Abreu, 1871: 4)

Assim é, de facto. Mas que mais exigir de um poeta cuja breve vida foi ceifada aos 21 anos? Que mais exigir de alguém que carregando o complexo da bastardia sofreu desde cedo as agruras da migração, de alguém a quem coube viver tempos históricos conturbados com ódios à flor da pele e que, mesmo assim, sofreu resignadamente impregnando a sua poética de uma afectuosa lucidez de que dá conta em “Illusão” (Abreu, 1871: 87):

Illusão!... que a minha alma, coitada, De illusões hoje em dia é que vive; É chorando uma gloria passada, É carpindo uns amores que eu não tive! [Sic]

Casimiro de Abreu fez mais do que lhe competia, “foi um d’ estes génios que parecem ter nascido poetas. Espírito de melancolica tristeza, porém forte e altivo, conservou-se puro até o instante de fechar os olhos” (Abreu, 1871: 55). Absorveu os valores geracionais, cooperou com A Ilustração Luso-Brasileira, estabeleceu pontes entre portugueses e brasileiros e deixou, em sinal de fraternidade, “os cantos do sabiá” (Abreu, 1871. 75), viabilizando a caminhada pela “alcatifa de flores” (Abreu, 1871: 77) de que a sua obra é feita. Deu e colheu. Assim se faz literatura, assim se faz poesia. Começou bem, acabou demasiado cedo.

E ainda que no Brasil os seus contemporâneos não se refiram com frequência à Ilustração Luso-Brasileira, a verdade é que foi através desta publicação que Portugal contactou com o Poeta de As Primaveras agilizando o facto de hoje o podermos estudar sem preconceitos de distinção entre poetas maiores e menores. Esta e outras publicações periódicas não podem ser descuradas, porque são o único meio de se fazer justiça a vultos cujo tempo deixou de nomear, mas que são parte integrante do nosso património literário e artístico.

Tentemos, com estas e outras reflexões, remediar aquilo que, como observou, Henrique Campos Ferreira Lima (1939: 5), Director do Arquivo Histórico Municipal de Lisboa, não foi feito em 1939, ao passar despercebido o primeiro centenário do nascimento de Casimiro de Abreu, justamente em Portugal, país onde o poeta “compoz as suas mais belas poesias, inspiradas no exílio, pela recordação dos seus primeiros amores, e pelas saudades da pátria distante”.

Referências

Abreu, C. (1871). As Primaveras. Lisboa, Imprensa de Joaquim Germano de Sousa Neves.
A Ilustração Luso-Brasileira: jornal universal. (1856). Lisboa, António José Fernandes Lopes, Vol. I.
Bosi, A. (1995). História concisa da Literatura Brasileira. S. Paulo, Editora Cultrix.
Garrett, A. (1963). Obras de Almeida Garrett. Porto, Lello & Irmãos – Editores.
Leal, M (1958). Cânticos. Lisboa, Tipografia Panorama.
Lima, H. (1939). Casimiro de Abreu em Portugal, 1853-1857, in Revista do Arquivo Municipal de S. Paulo, Ano V, Vol. LVIII, pp. 5-12.
Nobre, A. (1976). Só. Porto, Livraria Tavares Martins.
Palmeirim, L. (2011). Poesia. [Em linha] Disponível em < http://viciodapoesia.wordpress.com/2011/06/09/luis-augusto-palmeirim-1825-1893-uma-arte-poetica-do-romantismo/> [Consultado em 15/06/12].
Pato, B. (2008). Versos de Bulhão Pato. [EBook #25840]. Disponível em http://www.gutenberg.org/catalog/world/readfile?fk_files=1542124&pageno=12 [Consultado em 18/06/12].
Pessoa, F. (1981). Obra Poética. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar.