O ano era 1980, lembro muito bem da primeira vez em que pisei no “templo”; como meu avô, o “portuga” Manoel Gomes, chamava na década de 80 o maior estádio de futebol do mundo.

Aos seis anos de idade fui assistir a um clássico, mal sabia que aquele dia entraria para a minha história. Na fila de uma das várias entradas daquele gigante, via um show de cores vermelhas, verdes, pretas e brancas. Bandeiras flanavam como bailarinas no ar, pessoas com os rostos pintados nas cores dos dois times, rivais? Só no campo. Não era apenas um clássico, mas: O clássico!

Flamengo e Fluminense, o famoso Fla X Flu. Catarse, muito mais que coletiva, a primeira da minha vida. O Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, ganhou o nome por causa do vizinho, o rio Maracanã, no bairro da Tijuca, zona norte da cidade maravilhosa: Rio de Janeiro, no Brasil. Para os mais "chegados" o Maracanã vira Maraca. Lá estava eu, de mãos dadas com meu avó, no local com quase 75.000 fanáticos. Naquela época o Maracanã poderia comportar até 200.000 torcedores sentados nas suas arquibancadas e em pé na “geral”, área famosa por permitir que os torcedores dos dois times pudessem torcer lado a lado. Alguns “Geraldinos” se fantasiavam dependendo da moda da época.

No meio da arquibancada eu não sabia se assistia aos 22 homens correndo atrás da bola, ou os Geraldinos festejando e não parando de gritar. Era mágico.

Democraticamente e sem nenhuma imparcialidade, meu avô fazia uma verdadeira lavagem cerebral: “Patrícia, grita: neeeeeenseeeeee, neeeeennnseee, vai Flu!”.

Mas... Uma, duas, vezes Flamengo, sempre Flamengo, o coro de: “Meeeengooo, meeeengooo, mengoooo, meeeeenGOOOOL!!!!”, era muito mais sonoro, forte e contínuo.

Não adiantaram os meus gritos, ficar rouca, meus berros não surtiram muito efeito. O Flamengo comandando pelo galinho de Quintino, Zico, ganhou do Fluminense por dois a zero.

Lembro que olhei para o meu avô e disse: posso torcer para o moço da camisa número 10? Lembro do sorriso dele me respondendo baixinho: “Para o Zico pode, mas não para o Flamengo!”. Zico era o ídolo do Flamengo e até hoje o maior artilheiro do Maracanã, marcou 333 gols em 435 jogos.

Saímos de lá tristes? Meu avô: um pouco; eu? Feliz da vida! Ganhava o meu primeiro ídolo e virei flamenguista depois de 90 minutos.

O maior torcedor do Fluminense, quem me levou a primeira vez não apenas num estádio de futebol, mas no “templo”, partiu para outro campo muitos anos depois. Meu avô não viu as mudanças que o Maraca passou, muito menos a alegria de ver outra Copa do Mundo, no Brasil e logo, logo uma Olimpíada.

O sonho de construir o maior estádio do mundo começou em 1938, quando o Brasil pela primeira vez quis sediar uma Copa do Mundo, o anúncio foi feito num congresso da Fifa, em Paris.

No ano seguinte o presidente da entidade, Jules Rimet, visitou o Rio de Janeiro. A beleza natural da cidade, a alegria, hospitalidade, a loucura dos cariocas pelo futebol e o sonho de construir um grande estádio, deixaram o francês muito bem impressionado.

A Europa estava arrebentada no fim da Segunda Guerra Mundial, sem nenhuma possibilidade de sediar os jogos da Copa de 1950 e o Brasil passou a ter a aprovação para ser a sede da Copa do Mundo depois de muitas oposições para que o estádio fosse construído.

Em 29 de outubro de 1947, a Câmara aprovou o projeto relativo à construção e as obras começaram definitivamente em 1948.

O pontapé inicial foi em 1951, entre as seleções de São Paulo e Rio de Janeiro, os paulistas inauguraram o estádio com vitória.

Depois de uma completa reforma, o Maracanã foi novamente o centro das atenções no mundo, em 2014 sendo um dos estádios dos jogos da Copa, além da festa de encerramento e presenciando, pela terceira vez, uma final, o levantar da taça do campeonato mais importante do mundo.

E lá estava eu, 34 anos depois no Maracanã. Ele, gigante, reformado depois de dois anos e oito meses ficou mais moderno, no lugar da “geral”, cadeiras confortáveis em diferentes tonalidades de azul, amarelo e branco, mas mesmo vazio ainda ecoavam nos ouvidos da minha alma, os hinos entoados daquela torcida do Fla-Flu, no começo dos anos 80.

O grande e velho Maraca pode não ser mais o maior estádio do mundo, sua capacidade foi reduzida para dar mais conforto e visibilidade nos jogos e shows para quase 80 mil pessoas, mas... uma vez majestade, sempre majestade. O Maracanã já está preparado!

Que venham os jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Brasil, em 2016.