Para cada um dos dezoito buracos do Campo Olímpico de Golfe dos Jogos Rio-2016 há pelo menos um punhado de ilegalidade.

Tudo começou na década de 60, quando um dos maiores grileiros (invasores de terras) do Brasil conseguiu fazer uma manobra para obter documentos até conseguir, na Justiça do Rio de Janeiro, a posse de um terreno de 1 milhão de metros quadrados, situado numa região cada vez mais valorizada na cidade dos Jogos.

Na época em que Pasquale Mauro, um italiano de 84 anos radicado no Brasil alterou os documentos em um cartório de uma cidade da região serrana do estado, distante 90 quilômetros do terreno que até hoje está em litígio, ou seja, em disputa judicial – o caso sob suspeita até gerou uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

Neste terreno, onde se encontra uma vasta vegetação de mata Atlântica, animais e plantas nativas, há também um areal, de onde saiu parte do material para a construção do prédio de Sérgio Naia: o Palace II, que em 1998 desmoronou por terem usado na sua construção uma areia imprópria.

O cartório de Petrópolis foi o responsável pela transferência da escritura. O documento foi assinado em 1968, por um funcionário que já havia falecido quatro anos antes.

Conversamos com os denunciantes, Maurício Memória e seu primo Alberto Tavares, que disseram que seus pais foram recebidos a bala, num dia em que foram visitar a propriedade.

Eles tinham comprado o gigantesco terreno em 1963.

O certo é que nesse terreno, hoje avaliado em 1 bilhão de dólares, estão sendo erguidas dezenas de torres, com centenas de apartamentos de alto padrão. Pior, nesse mesmo terreno, onde famílias brigam pela posse na Justiça, está sendo construído às pressas o Campo de Golfe para as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016.

Por que o campo?

A manobra envolve muita gente poderosa da classe empresarial, jurídica, esportiva e política da cidade do Rio de Janeiro. Segundo o jornal The Guardian, do dia 25 de fevereiro deste ano, há envolvimento, inclusive, do atual prefeito Eduardo Paes, que teria recebido 500 mil reais para sua campanha de reeleição à prefeitura. Dinheiro doado pela RJZ Cyrela, responsável pelas construções dos prédios de luxo na Riserva Uno, na área de proteção ambiental de Marapendi, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Em troca, a Prefeitura liberou a construção de muitas torres, mais altas que o permitido no local e alterou a Lei Ambiental para a construção do Campo de Golfe, que será pago pelas construtoras com a promessa de virar um campo público de golfe no Brasil – instalação esportiva que custará 600 mil mensais para sua manutenção. Resta saber quem pagará essa despesa.

Vale lembrar que menos de 1% da população brasileira tem acesso a esse esporte, considerado por aqui de elite.

Há alternativas

Há pelo menos cinco campos de golfe no estado do Rio de Janeiro que poderiam receber reformas para se adaptar às exigências da Federação Internacional e do Comitê Olímpico Internacional. Mas os interesse imobiliários, numa área muito valorizada, falaram mais alto. O pior é o que o custo inicial da construção era de 60 milhões e hoje já está em 100 milhões – tudo bancado pela construtora, que com certeza absoluta não terá prejuízos, mesmo em um terreno sob disputa judicial.

Na cidade dos Jogos há pelo menos dois campos que poderiam muito bem ser reformados a tempo da Olimpíada: o Itanhangá e o Gávea, mas os dirigentes olímpicos manobraram e optaram pelo mais difícil e lucrativo...

O presidente da Confederação Brasileira de Golfe, o empresário Paulo Pacheco comprou, quatro anos atrás, um apartamento luxuoso com uma sacada com mais de vinte metros, com vista privilegiada para onde o campo Rio-2016 está sendo construído.

Segundo o dirigente o campo será público para dar oportunidade aos menos favorecidos de praticar o nobre esporte. Será verdade?

Paulo Pacheco também afirma que mesmo pelo fato de não ter a escritura do seu apartamento, avaliado em 5 milhões de reais, não se preocupa de seu imóvel estar construído num terreno sob intensa briga judicial e que pode ser embargado a qualquer momento.

Verde para quê?

Como afirmamos, devido a intensa retirada de areia do local, imprópria para a construção, o gigantesco terreno situado na Avenida das Américas, número 10.333, ficou muito deteriorado, mas sua vegetação nativa, que circunda todo o Rio Marapendi, ainda guarda muita vida.

Portanto há risco de devastação da mata nativa e de extinção de espécies que só são encontradas por ali – um local onde o rio Marapendi recebe esgoto e exala um cheiro insuportável.

Por se tratar de uma área de Proteção Ambiental, o prefeito Eduardo Paes, junto com sua Secretaria do Meio-Ambiente e os vereadores, conseguiu alterar a Lei do Parque para que fosse permitida a construção do campo Olímpico.

Como se pode ver a corrupção no Brasil ultrapassa as fronteiras do esporte e da política. A corrupção na terra dos Jogos Olímpicos é uma praga que corrompe e destrói nosso povo há 515 anos, desde o descobrimento do país.

Abaixo os links das reportagens feitas em 2012 por mim (Marcelo Gomes) e o jornalista Roberto Salim com as denúncias escabrosas, da construção e os interesses do Campo de Golfe Olímpico – Rio 2016.