Três jogadores em cada time. Um gol de cada lado. Todos atacam e todos defendem. Objetivo: fazer gol com a mão. Parece handebol, não é? Mas e se eu te dissesse que todos os jogadores são deficientes visuais, mas marcam e defendem gols? Você acharia estranho? Ficaria curioso? Pagaria pra ver? Pois é. Esse é o Goalball, modalidade disputada por homens e mulheres com deficiência visual.

Apesar de ter sido concebido em 1946 como forma de ressocialização dos veteranos da II Guerra Mundial que haviam perdido a visão por completo ou parcialmente (como muitas vezes é a gênese dos esportes paralímpicos) o Goalball não foi uma adaptação dos esportes tradicionais. Ele é um esporte exclusivamente paralímpico e sua singularidade não para por aí.

No Goalball os atletas se orientam pelo tato e pela audição, pois eles se posicionam de acordo com as linhas sobressalentes na quadra. Sentados no chão eles conseguem defender a bola movimentando-se por essas linhas ao ouvirem os guizos que ela possui em seu interior. Todos são vendados e devem arremessar a bola de forma rasteira ou quicando. E o mais importante: o silêncio do local de competição deve ser absoluto para que ambos os times possam ouvir não só os guizos da bola, mas também a narração do jogo feita pelo árbitro principal. Assim, agora você pode entender por que a torcida levou tanta bronca na Rio 2016 a ponto de uma juíza pedir para que um bebê fosse retirado da arquibancada (sim, isso é um fato verídico!).

E como a bola não para entre uma defesa e outra, o jogo é muito rápido e pode ter reviravoltas eletrizantes no placar em menos de 1 minuto. A propósito, o jogo é disputado em dois tempos de 12 minutos com um intervalo de 3. Em caso de empate, como no futebol, tem dois tempos de prorrogação de 3 minutos cada e se o empate persistir, há o tão temido Golden Goal. Atingindo-se 10 gols de vantagem, não importa quanto tempo ainda haja de jogo, a partida é encerrada. E por fim, também tem uma penalidade. Como a quadra é dividida em zona de ataque, zona de defesa e zona neutra, cada time pode arremessar a bola rasteira ou quicando sem invadir a zona de defesa do adversário. Caso invada ou a bola não toque obrigatoriamente a zona de seu time antes de adentrar a zona de defesa do adversário, há uma cobrança de penalidade: apenas um defendendo e um atacando.

Dinâmico e singular, esperaríamos que atraísse muito o público, mas o esporte ainda está restrito aos meios dos deficientes visuais no Brasil. Enquanto a Arena do Futuro no Parque Olímpico durante os Jogos Paralímpicos fervia com o Goalball e a arquibancada tomava inúmeras broncas, o cenário do Centro Esportivo Dr. Romão de Souza em Jundiaí, palco da Copa Caixa de Goalball no mês passado, estava praticamente às moscas em plena final.

Mas por que se os craques do inédito bronze brasileiro na modalidade estavam lá, pulverizados em diversos times estaduais e as meninas da disputa pelo bronze também? Infelizmente essa parece ser a realidade das modalidades paralímpicas fora dos holofotes olímpicos à cada 4 anos. Não posso afirmar que todas sejam assim, mas pelo que presenciei em Jundiaí e na final da Copa Loterias Caixa de Futebol de 5, o Campeonato Brasileiro Série A, o público era minúsculo, mesmo depois de atividade intensa do comitê nas redes sociais e de transmissão ao vivo pelo youtube. É claro que o mundo esportivo e a mídia têm como o timão de seus barcos aqueles mesmos esportes de sempre que arrastam multidões. O que faz ter público e traz renda são os esportes de massa. Mas são de massa porque a mídia os vende ou a mídia os vende porque são de massa? Esse dilema Tostines na verdade pouco importa, pois a finalidade é o capital.

Entretanto, em relação aos esportes paralímpicos, outras coisas estão em jogo. O esporte para essas pessoas muitas vezes é a única oportunidade de sentimento de pertencimento em uma sociedade hostil ao diferente. No esporte paralímpico encontramos grandes lições de superação e motivação além de aprendermos a tolerância, o respeito e exercitamos o caráter humano da vida, coisas que as novas gerações, que começam agora a remar e a girar nesse imenso carrossel caótico que é a vida, precisam saber para poderem não naufragar nessa onda extremista e conservadora dos dias de hoje.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio acabaram há dois meses e com eles as propagandas e as reportagens especiais desses atletas. Por que não dar sequência e aproveitar que os jogos paralímpicos lotaram mais o parque olímpico e foram aceitos muito bem pelo público? É importante, assim, que o Goalball (e as outras modalidades paralímpicas, claro) ganhe mais visibilidade e espaço na nossa mídia esportiva, pois além de ele ser um esporte fantástico e emocionante, ele pode nos trazer muito aprendizado, como a tolerância com os portadores de deficiência. Vem ver Goalball e ser um entusiasta desse esporte! Você certamente será contagiado por uma energia positiva e cativante!