Sente-se uma atmosfera especial quando vemos o relógio a aproximar-se da meia-noite, sente-se o burburinho, algo está para acontecer. Contudo enganem-se aqueles que pensam que está a chegar o ano novo, não! Mal batem as doze badaladas e o calendário vira para o 11 de Novembro, milhões de chineses dão por si a deslocarem-se à Mecca das compras online.

‘’Triste, só e abandonado, amarrado ao portátil ou smartphone e a afogar as mágoas em doces? Porque não comprar algo novo, um gadget última geração ou um relógio.’’

Esta é a frase que resume a ideia-chave por detrás do dia dos Solteiros, um festival chinês que impele os marmanjões solitários a comprarem presentes para si mesmos, um evento celebrado na data com mais ‘’1’’ do ano e que virou o dia mais rentável da história das vendas online.

Reza a lenda que por volta do início da última década do século XX, jovens estudantes das universidades de Nanjing, aborrecidos com as suas vidas de nerds solteirões decidem assinalar a data de 11 de Novembro como o Festival dos Solteiros, 光棍节- Guānggùn Jié, uma data que remete para a simbologia solitária do número 1. Este dia seria uma espécie de celebração anti-São Valentim, em que a rapaziada se juntava para comer, trocar uns presentes, beber uns copos e tentar a sorte com as miúdas.

Com o passar dos anos, esta data ficou amplamente enraizada na sociedade chinesa. Não é um dia exclusivo dos solteirões, mas de todos os géneros, de convívios em jantares, festas blind date, bares de karaoke e outro tipo de eventos que juntam milhões em busca de diversão e companhia.

No entanto a data fica marcada pelos enormes descontos, é uma época de saldos online onde só quem não tem acesso à internet, é que não compra. Com isto, as empresas de comércio e serviços aperceberam-se que com a correta gestão de campanhas de marketing, esta data poderia ser bastante lucrativa. Assim como a Coca-Cola criou o mito do Pai Natal, houve uma empresa chinesa que soube utilizar esta data para elevar a níveis estratosféricos o consumismo chinês.

Pois bem, em 2009 o grupo Alibaba, gigante chinês de comércio online, olhou para o 11/11 como uma mina de ouro por explorar. Porque não aliciar aqueles que estão sozinhos a comprarem algo para si mesmos? Foi este o pensamento simples e eficaz, que não só resultou com os solteiros, mas também com as solteiras, com os casados, os namorados, com todos aqueles que dispõem de uma ligação à Internet. Toda a gente tem uma desculpa para comprar algo, mesmo que não faça falta. No ocidente, temos o Natal.

O grupo Alibaba, com sede na cidade de Hangzhou, província de Zhejiang, agrega várias plataformas de e-commerce. O Alibaba, site de vendas por atacado em grandes quantidades, de empresas para empresas; o Aliexpress, que liga consumidores finais a empresas chinesas e internacionais; o TMall, site onde se encontram produtos de elevada qualidade e de marcas conceituadas; e por último, o TaoBao, o ebay chinês, onde podemos encontrar de tudo o que se possa imaginar, género feira de Barcelos mas com mais de um milhão de produtos diferentes à venda.

Mas vamos ao que interessa, os números!

Esqueçam aquelas promoções estilo Black Friday ou qualquer outro tipo de mega descontos, esqueçam o Ebay, o Amazon, somem a esses dois mais trinta sites de vendas online que conheçam e juntem-lhes esteróides, essa é a dimensão do Double 11. A edição de 2014 superou a do ano transato em 60% gerando uma incrível receita de ¥ 57 mil milhões, cerca € 7.500 milhões em 24 horas. Este ano de 2015, somente nos primeiros 30 minutos gerou mais de ¥ 20 mil milhões, algo como cerca de € 3 milhões.

Este ano as vendas não se mantiveram apenas em território chinês, alcançaram a expressão global. O 11/11 faz cada vez mais parte integral da cultura consumista chinesa, como tal é de esperar vendas com números exorbitantes a cada edição do Festival dos Solteiros.