Sem esta ferramenta digital, VPN, é impossível aceder à grande maioria dos websites internacionais, tornando impossível tarefas tão simples como comunicar com a família ou elaborar trabalhos de pesquisa. Ficamos completamente bloqueados pela Grande Muralha Digital da China.

Foi o que aconteceu durante o mês de Março, onde a maioria dos VPNs estavam constantemente a serem bloqueados pelo governo chinês, o que levou muitos estrangeiros a pensarem no fim do mundo, no regresso à idade das trevas, ao obscurantismo.

Mas não! O «crackdown» do VPN tende a estar correlacionado com grandes eventos públicos de escala nacional, foi assim com a comemoração dos 70 anos da vitória sobre o Japão na II Guerra Mundial, e foi no mês passado durante o encontro legislativo do Partido Comunista Chinês em Pequim, comumente conhecido como «Liang Hui», em tradução livre, Sessão Dupla.

O Liang Hui é um género de parafernália política, mais uma daquelas chinesices do género loja do chineses onde se entra e se encontra tudo e mais alguma coisa, mas na realidade metade das coisas não funcionam ou não se sabe para o que servem.

No entanto, acaba por ser um dos marcos de transparência no nublado sistema político chinês de partido único, onde muitas das decisões são tomadas atrás de portas fechadas. O Congresso Popular Nacional é o evento principal do Liang Hui, cerca de 3.000 congressistas juntam-se em Pequim para propor e discutir medidas para o ano seguinte.

Congressistas e legisladores vindos dos mais variados quadrantes da sociedade e setores económicos têm a oportunidade de apresentarem medidas que vão ao encontro das problemáticas reais da sociedade chinesa.

Uma das propostas lei mais sonantes, e que mais repercussão teve junto da sociedade chinesa, foi a Intenção de Proibição e Controlo para a Comercialização de Carne de Cão e de Gato. Mais de 8 milhões de pessoas subscreveram a petição para aprovação da proposta de lei, e no site oficial do governo chinês é já a proposta com mais subscritores de sempre.

Apesar de o encontro legislativo deste ano já ter acabado, e de a proposta de lei ser aprovada, poder vir a ser posta em prática somente em 2017, não deixa de ser a maior demostração de força na China contra a prática desumana e selvagem da morte e venda de carne de cão e gato.

A proposta apresentada pelo congressista Zheng Xiaohe vem mesmo antes do infame Festival da Carne de Cão em Yulin, que decorre por volta de meados de Junho. O evento que todos os anos recebe atenção mundial é condenado tanto fora como dentro da China pela forma cruel de como cerca de 10 mil cães e um sem número de gatos são mortos e comidos.

Contudo o problema do cruel comércio de carne de cão é transversal a vários países asiáticos, cerca de 40 milhões de cães são mortos anualmente na Ásia, 10 milhões na China e 30 milhões em países como a Tailândia, Filipinas ou Coreia do Sul.

Várias são as organizações locais e internacionais que testemunham e lutam contra os cruéis atos desta horrível industria. No Festival da Carne de Cão de Yulin milhares de cães são acometidos em sacos de rede ou gaiolas e postos em camiões, a maioria são animais de estimação roubados nas ruas ou em casas particulares, mortos ainda com as suas coleiras. Muitos viajam dias nos camiões para chegar a Yulin. Ao chegar à cidade são descarregados em matadouros ilegais e mortos à paulada, outros sofrem pior destino e são colocados vivos em alguidares com água a ferver.

O Festival de Yulin não tem qualquer significado cultural, é apenas um certame organizado, desde 2010, pelos comerciantes de carne de cão de forma a estimular o crescimento deste bárbaro negócio e de fomentar a falsa ideia de tradição gastronómica e iguaria culinária chinesa.

Apesar de a carne de cão estar presente na China, esta é apenas consumida por uma pequena parte da população, se bem que na China pouca gente é o equivalente à população inteira de muitos países. Não existe sequer nenhuma conexão com a realidade gastronómica chinesa, na ancestral culinária chinesa não existe referências a receitas com carne de cão ou gato.

Mas quem é que nunca comeu Cãobrito no forno com batatinha assada e grelos salteados?