Alucinógeno. Essa é a melhor palavra para tentar descrever a “experiência” exclusiva para um pouco mais de 100 pessoas no lançamento do quinto álbum de estúdio do poeta. Sim, se as letras do compositor, baixista e um dos criadores de uma das maiores bandas de rock do mundo, o Pink Floyd, não serem consideradas poesias e crônicas, nao sei como defini-las.

Catarse? Alucinantes letras e melodias com o selo do Pink Floyd, incontestável.

Programado para ser lançado o dia 2 de junho de 2017, a gravadora Columbia convidou um seleto grupo de pessoas para o lançamento do CD há dois dias e lá fui eu numa tarde de um verão que, finalmente começou a dar as caras por aqui, e aguardei na fila junto com meu grande amigo Ilmar Calazans e com mais de 100 pessoas à espera da chegada do horário marcado para ouvir o álbum que demorou mais de duas decadas para sair do "forno".

Não posso dizer que foi um lançamento de mais um CD, mas sim um experimento!

Num estúdio localizado no subsolo de um prédio antigo próximo a Carnaby Street, no centro de Londres, foi esse o local escolhido e ambientado para o lançamento do CD.

Fãs, críticos e jornalistas que, como eu, tiveram a ”sorte” de estarem na hora e no local exato e histórico. Uma sala com cadeiras organizadas em semicírculo, três monitores que mostravam os últimos shows do Roger Waters nos EUA e que refletiam os títulos das novas musicas.

Silêncio. O lançamento de um CD de uma lenda do rock nao é apenas “um lançamento”, mas uma experiencia complicada de narrar, mesmo um playback de Roger Waters sem a presença física do artista é além do entendimento, quase uma experiência transcendental.

Esse é o primeiro álbum gravado em estúdio em quase 25 anos desde Amused to Death (1992), e também o seu primeiro álbum solo em 12 anos desde Ça Ira (2005).

A única vez que vi e ouvi o Pink Floyd ao vivo foi aqui em Londres, em 2005, no Hyde Park. Foi no Live 8 que Waters conseguiu reunir Mason, Wright e Gilmour desde a última apresentacao do Pink Floyd em Londres, 24 anos antes da participação no Live 8.

No subterrâneo iluminado em Pink, a alma que não é pequena enlouqueceu, valeu mesmo a pena correr pelo underground do metrô. As letras do CD falam da situação atual do mundo, faz criticas ao nosso modo de vida e a pergunta: Essa é a vida que realmente queremos?

Durante mais de uma hora ouviamos as músicas e acompanhamos as letras num papel parecido com a capa do disco que lembra os relatórios confidenciais que o Governo dos EUA libera.

O CD traz doze músicas. When We Were Young, na faixa Déjà Vu começa com a inquieta pergunta: If I had been god (Se eu tivesse sido deus), The Last Refugee, Picture That, Is this the Life We Really Want? Em Broken Bones a letra diz: «We chose to adhere to abundance, we chose the American dream» («escolhemos aderir à abundância, escolhemos o sonho americano»), Bird In A Gale, Smell the Roses, The Most Beautiful Girl, Wait for Her, Oceans Apart, Part Of Me Died.

Sintetizadores marcantes e acordes em tons menores, melancólicos e uma bateria com batida marcante casando com a pulsação do contra-baixo de Waters, não tem como nao comparar e se lembrar do disco The Wall.

Roger Waters passou o recado, mas deixou uma dúvida: Roger Waters é o Pink Floyd ou o Pink Floyd é o Roger Waters? Me perdoem os adoradores do David Gilmour.

Após uma hora e meia e mais de um minuto de aplausos, muitos aplausos, voltamos a superficie do prédio com a certeza de termos o privilégio de ouvirmos pela primeira vez uma obra prima de um mestre do rock com direito a mais uma tatuagem na alma e o título do álbum marcado no chão da entrada do prédio.

Is This the Life We Really Want? é um dos melhores CD's dos últimos anos.

A vida que queremos ter é uma escolha, nem sempre tão simples, tão fácil de fazer, mas com certeza, não terei de pensar tanto para comprar esse CD hoje.