Recebi a difícil missão de realizar o sonho de uma pessoa formada em turismo louca para visitar uma das cidades mais conhecidas do Brasil; diz ele que se surpreendeu.

Um dia desses me deram uma missão que classifiquei como muito difícil: levar um turismólogo para conhecer o Rio de Janeiro. A gente não está falando de qualquer lugar, estamos nos referindo a uma das cidades mais visitadas e conhecidas do Brasil. Ao mesmo tempo que é fácil, já que existem pontos óbvios para ir, como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, essa facilidade também dificulta tudo, porque é preciso sair do óbvio e, além da pessoa ser formada em turismo, também tinha como grande sonho conhecer a cidade maravilhosa. Sou suspeita para falar sobre esse lugar, já que estive lá diversas vezes e tenho minhas críticas e encantos, por isso, escrevo agora, com base no que me foi relatado pelo turismólogo que levei, o Rio de Janeiro pelo ponto de vista de quem sempre sonhou em ser turista na cidade e é especialista em promover o desenvolvimento do turismo levando em conta aspectos culturais, ambientais e econômicos. Conheça a cidade pelos olhos de Mateus Júlio.

Minha ida ao Rio de Janeiro teve seus altos e baixos, surpresas e decepções, mas tudo saiu como planejado dentro de um encantamento que já tinha sobre a cidade e o sonho de conhecer. Como de costume, se tratando de um desejo de infância, sempre colocamos a expectativa lá em cima e, por essa razão, às vezes, acabamos nos decepcionando. Entretanto, fui previamente preparado pelo meu pai - ele conheceu a cidade e viajou para lá algumas vezes e odeia o lugar - para lidar com o outro lado do Rio de Janeiro que as pessoas não contam. Então, quando planejei essa viagem tinha três visões: a de alguém que odeia, quem já foi várias vezes e iria me acompanhar, a escritora deste artigo - Sarah - e a visão de turista e turismólogo que tenho.

Desde minha chegada me surpreendi de várias formas, tanto negativas quanto positivas. Para mim, foi impressionante como muitas coisas não faziam sentido algum e me chocavam constantemente, como, por exemplo, os transportes públicos da cidade que são muito diferentes dos que estou acostumado em São Paulo. Em contraponto, a estrutura de algumas praias é excelente quando comparada às do litoral paulista. Quando se conhece outro lugar, uma coisa que não pode ficar de fora é a culinária. Por isso, dei o braço a torcer e experimentei o tão falado mate carioca, e por incrível que pareça, por mais que eu não goste de chá, a bebida realmente vale a pena - acredito que seja por causa do suco de limão que vai junto. Relacionado a comida, além do biscoito Globo, não comi nenhum prato típico, mas experimentei comidas com as quais não estava acostumado, como o hambúrguer com abacaxi.

Algo nítido que dá para perceber logo de cara, é como São Paulo e o Rio são absurdamente diferentes. Em um lugar, é cada vez mais comum nos depararmos com o crescimento vertical da cidade, mas também o afastamento horizontal das periferias e o aumento exponencial da cidade para todos os lados possíveis. Já no Rio, é o movimento ao contrário, não há para onde expandir horizontalmente devido a geografia do lugar, e você sente cada vez mais a periferia empurrando a cidade para o centro. Algo que me decepcionou foi o transporte público, que passa longe de ser o ideal para o lugar, e o atendimento nos estabelecimentos, como restaurantes ou supermercados, que é péssimo e zero prestativo ou atencioso. Por outro lado, preciso destacar as praias e sua estrutura. Mesmo me hospedando em Copacabana, que é vista como uma praia de mais prestígio econômico, a estrutura de quiosques, restaurantes, acessibilidade, beleza e interação com esportes e lazer é muito bem-feita, tendo quadras em todos os lugares, receptividade de vendedores ambulantes e equipe de cadeiras e guarda-sol que você mal chega na areia e alguém já está esperando para lhe oferecer algo, seja um biscoito, chá, água, cadeira ou uma caipirinha.

A visão que nos é apresentada sobre o Rio de Janeiro, vem muito do slogan do marketing pesado do título de "cidade maravilhosa”, que, por sua vez, realmente é linda, mas não necessariamente da maneira como é vendida. As paisagens, praias e pontos turísticos são realmente maravilhosos, e isso a torna um lugar de forte encantamento, porém, não é necessariamente a cidade - repleta de arquitetura antiga - em si que encanta, pois ao caminhar pelas ruas, em qualquer lugar que não seja a praia, você acaba se deparando com uma realidade próxima ao centro de qualquer cidade. Contudo, algo que, a meu ver, não se pode negar, é que o Rio tem uma grande representatividade do nosso povo e da cultura brasileira e do que é vendido do Brasil: sol, praia, calor, vegetações e pontos turísticos com vistas lindas.

Após conhecer o Rio de Janeiro, ainda tenho gravado em mim que sim, a cidade é maravilhosa, porém depende de onde se olha e como se vê, o que me faz pensar que muito provavelmente nunca moraria lá. Algo que recomendo a quem está indo, seja pela primeira ou milésima vez, é ver os dois lados dessa moeda chamada Rio de Janeiro. Se proponha a olhar para a cidade mais do que é vendido, isso vai te ajudar a valorizar o que realmente é incrível, como o povo que, quando quer ser receptivo, é convincente e fazem como ninguém, ou destacar o quanto a cidade poderia ser mais bem cuidada e a política prejudica muito o local em si, o que também afeta quem mora ou trabalha lá. Se Copacabana é linda, experimente andar mais e ver outras perspectivas além do que lhe é vendido. A comunidade, só vem a ser bonita em livros de geografia que retratam a diferença das classes sociais, pensar de outra forma e tentar ver melhor isso pode ajudar a encontrar o seu real carinho pelo tão falado e conhecido Rio.