Eu sou da geração coca-cola, fortemente influenciada pelas canções da banda Legião Urbana, por isso sempre acreditei que todos os dias quando eu acordo, o tempo que passou já não me pertence mais. Na minha cabeça, depois dos quarenta anos de idade, aquela ilusão de que seria jovem ad eternum não prevalece mais. As dores nas “juntas” e nas costas, o cansaço, a visão e a disposição parecem se diluir com os segundos, minutos e horas. Outrora, eu adoraria que houvesse um elixir da juventude ou uma possibilidade como aquela exibida no filme Cocoon de 1985, mas a maturidade, para quem compreende e aceita, vai acalentando e enfatizando a fragilidade e finitude da vida, ratificando a certeza da morte a cada dia que passa.

Ainda faltam alguns anos para eu atingir aquilo que foi denominado “melhor idade”, aguerrido pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros. Porém, há uma forte tendência estética, fomentada pelo neoliberalismo - via redes sociais e o poder dos algoritmos - de forjar os efeitos do tempo e da gravidade em nossos corpos, seja por preenchimentos com ácido hialurônico, botox, implante capilar ou lentes de contato para os dentes. Até uma simples ida ao barbeiro pode se tornar um momento no qual são oferecidos diversos serviços que vão além de um corte de cabelo ou o feitio da barba.

Mas será que a nossa mente corresponderá aquilo que a ciência possibilita para nosso corpo? Por mais que haja recursos para garantir a longevidade humana, há também uma obsolescência “programada”, como feito pelas indústrias de equipamentos eletrônicos.

Voltei a morar com meus pais, que beiram os oitenta anos de idade, há três anos e é naquilo que observo no dia-a-dia de dois sujeitos que se esforçaram além da normalidade para criar os filhos, assim como minhas memórias de infância que me permitem fazer esta afirmação com veemência. Longe de querer questionar as pesquisas, os recursos e os dispositivos para se melhorar o envelhecimento, consigo perceber que apesar de toda a disposição, vontade, desejo e disponibilidade, muitas vezes meus pais não conseguem executar tudo o que querem do jeito que gostariam. O corpo e a mente vão se tornando mais frágeis e muito mais vulneráveis. Os imprevistos vão se tornando cada vez mais recorrentes não apenas pela saúde do corpo, mas também da mente. E como filho, não posso deixar de dizer que não fui preparado para este momento, no qual os papéis se invertem e o cuidado que tiveram comigo precisa ser transformado em cuidado com meus pais. Por isso, acredito que o assunto precisa ser mais debatido em discussões amplificadas para que a convivência entre mais jovens e idosos possa ser otimizada, mais saudável e adequada para ambos os grupos.

O círculo de amigos vai se afunilando e as oportunidades de interação social também. Por isso, acredito que precisamos falar mais das relações entre os mais jovens e os mais velhos, seja por meio da educação formal ou informal. Além disso, penso que mais ações que levem os idosos a interagir uns com os outros nas diversas camadas sociais precisam ser oportunizadas. No município em que vivo, há uma gama de programas sociais voltados para as pessoas idosas, mas acredito que possamos ir mais longe se pensarmos um futuro próximo com cada vez mais uma população com mais idade para que haja mais vínculos sociais e o sentimento de solidão seja minimizado. Por isso, voltando aos meus pais, percebo que a vivacidade foi estimulada à partir do momento que começaram a participar de um programa oferecido pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Três Lagoas, no qual são oferecidas diversas atividades que valorizam a pessoa idosa.

Por fim, acredito que devemos sempre lembrar que o corpo, embora possa se munir das últimas novidades estéticas de rejuvenescimento, pode não estar alinhado à mente. Afinal, não temos ainda o tão esperado elixir da juventude, que contemple o rejuvenescimento da carcaça e dos pensamentos, nem mesmo domínio sobre o que está por vir, seja no âmbito físico, mental ou social.