Quando eu era criança, minha mãe sempre me dizia que, nesta vida, a única certeza que possuíamos era de que os humanos tinham solução para tudo, exceto para a morte. Pois...

A finitude sempre foi certa, verdade absoluta! Embora saibamos que ela nunca foi aceita por todos e em nome deste temor ou pavor, nós criamos mitos e religiões. Saber que não teremos mais utilidade, que possuímos uma doença mortal ou que as relações acabam sempre foi difícil para a nossa mente humana, na verdade nós temos dificuldade em aceitar que somos finitos.

Quando estamos de frente para o fim, clamamos por mais chances, mais oportunidades, nós clamamos pela Vida (Deus). Nós aprendemos na escola o que o Budha chamava de Samsara ou Sangsara (roda do sofrimento). Aprendemos que nascemos, crescemos, reproduzimos ou não, envelhecemos e morremos, não é mesmo?Então, por que tememos a morte, sendo que ela é a única certeza que temos? Por que tentamos fugir desse encontro inevitável?

As dores são inevitáveis, mas o sofrimento é opcional.

(Budha)

O entristecer faz parte! É do ser humano se sentir triste, ficar aborrecido, chateado e pensativo, e isto é diferente de não aceitar. O luto pode e deve ser sentido. Ninguém precisa ficar feliz ou menos triste porque não pode mais se lambuzar de doces e é proibido de tomar uma cervejinha, correto? Nós sabemos como gira a roda do Samsara, compreendemos que tudo o que começa, termina e que tudo que nasce, morre. O que traz algum conforto é saber que os sentimentos existem, são mutáveis e não nascem, ufa que sorte! (risos).

Ninguém terá as suas dores, por mais que as pessoas sejam solidárias a si, as suas dores são suas. Ninguém morrerá no seu lugar, ainda que alguém diga que deu ou dará a vida por si, esse alguém não terá como morrer no seu lugar. Se a pessoa morrer terá dado fim à vida dela e não à sua.

Portanto, parece-me que o melhor que se pode fazer, é compreender que somos os únicos responsáveis pela própria nossa existência, e só você sabe quem você é! Ser honroso é ser responsável.

Se ninguém mais pode sentir por mim, se não há quem possa falar as palavras que estão na minha boca, é mais que uma necessidade, um dever, uma questão de honra saber quem sou, para que eu possa dizer ao mundo a que vim. É uma obrigação moral.

(Carl Jung)

Mas, e se a areia da ampulheta estiver prestes a se esgotar? A finitude sempre foi um dos dilemas mais melindrosos da cultura ocidental. Somos relapsos com o tempo, investimos muito tempo em chateações e ficamos constrangidos de quando estamos contentes. O dia passa e a gente só se dá conta disso quando já entardeceu e a noite chega tão rápido quanto o cansaço.

E, quando retiramos o relógio cronológico do pulso no final do dia, exaustos e loucos por uma boa noite de sono, é quando os relógios psicológicos e biológicos começam a correr, e eles têm uma predileção imensa por correr. Cansados e já sem tempo para reflexões, muitas vezes adormecemos com o pensamento: Mas, e o tempo? O tempo perdido não pode ser recuperado, e o tempo vendido também não! Então?

Diz o sábio que o tempo é o bem mais valioso que possuímos na prateleira, pois uma vez vendido, perdido, emprestado ou doado, não há como tê-lo de volta. Nunca mais teremos o mesmo tempo. O tempo vai passar, ele é como o aroma das manhãs de outono aqui nas montanhas, assim que o Sol aparece elas se dispersam, é preciso ter a atenção plena, voltada para si para que suas narinas percebam os aromas da vida.

O que é valorizar o seu tempo, para você? Geralmente, quando paramos para refletir sobre a finitude da vida, começamos a atribuir a nós mesmos mais obrigações. Começamos a pensar que deveríamos nos aproximar mais de Fulano, dar mais atenção a Ciclano e não responder de forma rude aos Beltranos, não é mesmo? Entretanto, devemos entender onde nosso mundo desmorona, onde o cinto aperta e qual é a paz que não queremos perder.

Em uma palestra sobre as questões profundas, dramáticas e necessárias da vida, o palestrante afirmou que o existencialismo deveria ser mais estudado, porque ao nos conscientizarmos de nossa finitude, nos tornaríamos seres melhores. Argumentava sobre quando você sabe que vai “acabar” você muda, então a finitude seria um polidor da moral.

Hummm! Será? Vamos refletir sobre isso!

Existem muitas pessoas que reagem bem quando percebem que algo está próximo do fim, elas se tornam mais meigas, serenas e gentis, por assim dizer. No entanto, também sabemos que existem os amigos que vão "pôr para arrebentar" e pouco vão se importam com o que vai restar, certo?

Há pessoas que, ao compreenderem que o tempo está se esgotando, optam por contribuir com o mundo com boas ações, são as pessoas que assimilaram o karma e, por isso, tentam escapar da samsara.

Por outro lado, estão aquelas pessoas que não assimilaram ou não aceitaram o karma e, por mais que a vida as tenha ensinado, não aprenderam. São hostis, rudes, ingratos e autoritários. Estas pessoas terão que passar por muitos samsaras para entenderem que há coisas muito valiosas que o dinheiro não pode comprar.

Portanto, a finitude não afeta a humanidade de forma igualitária e nem poderia. Existem vários karmas sendo vividos e divididos no Universo. É mais sábio colecionar bons momentos do que muitas coisas, e é por isso que o cheiro do amor ainda acalenta e o sexo apenas esquenta, é por isso que a amizade conforta e a gula só engorda, é por isso que os olhares ainda se cruzam e se encantam. É por isso!

Cada um tem sua própria compreensão. Pode ser que ninguém tenha entendido nada, e também pode ser que aqueles que afirmaram ter entendido também não tenham percebido (risos).

O mundo é extremamente diverso, e não há nada igual. Somos singulares e apenas semelhantes, como o grande Aristóteles já disse. Saber como enfrentar a morte é essencial e fundamental, ter liberdade é saber que ela só vem com alguma perda. Nada é absoluto, nada é eterno, e, portanto, tudo é impermanente. O que transcende, ou seja, o que passa de uma vida para outra são conceitos, padrões e, ocasionalmente, doenças hereditárias.

Com tudo isso em mente, acho que vale a reflexão de sabermos o que realmente desejamos quando tudo chegar ao fim, não é mesmo?

Por hora, deixemos o sol entrar e fazer morada.