A Netflix lançou no final do ano de 2023 um filme chamado ‘O lado bom de ser traída’, que nos leva a refletir se realmente existe algo positivo de se extrair de uma ação tão desumana. A obra cinematográfica, que é brasileira, fala sobre uma mulher prestes a se casar que descobre que está sendo traída pelo noivo. Após a descoberta, ela se transforma e volta a realizar atividades que gostava de fazer e até mesmo mudar o visual para, como ela mesmo mostra no filme, um que nunca faria caso ainda estivesse com o seu companheiro. Após voltar, vamos dizer, ao seu eu, ela começa a se relacionar com um cara com o qual ela já vinha sonhando há tempos, mas, ao que tudo indica, nunca havia se conhecido até então.

Com o desfecho da história, ela acaba descobrindo outras coisas ao seu redor e até mesmo que estava sendo traída por mais de uma pessoa que ela amava e confiava. Isso nos leva a questão: a traição seria na verdade uma libertação? Longe de mim passar pano para algo como isso, mas e se realmente fosse possível olhar a luz por trás da escuridão? Antes de assistir esse filme, já estava com esse pensamento, porque neste ano havia passado por uma situação semelhante e totalmente desagradável, o que fez com que eu desse outro significado para esse ato ardil, porque não vale a pena ficar sofrendo por alguém que foi capaz de te apunhalar pelas costas quando você fornecia o mais puro dos sentimentos e dava o seu tempo e energia, algo impossível de se recuperar.

Quando falamos de traição, automaticamente pensamos em relações amorosas, mas ela também tem ligação com amizades, e, talvez, não sei e nem mesmo sou capaz de mensurar, até porque cada um sente de um jeito, às vezes pode até mesmo ser a mais dolorosa. É meio clichê de dizer, mas, infelizmente, as traições não acontecem por acaso, do dia para noite, elas vão dando sinais, mas, quando estamos envolvidos, somos incapazes de enxergar, ou, melhor dizendo, querer acreditar, o que nos faz ficar cega diante desta situação, e, quando ela realmente acontece, sentimos uma dor profunda que parece que nunca vai curar. Mas, tem sim solução. Para uns leva mais tempo, enquanto para outros, demora mais tempo. Em casos extremos, as pessoas nunca conseguem se recuperar.

Ao associar a traição à libertação, me refiro ao fato de que, dessa forma, conseguimos enxergar melhor as coisas e as pessoas, e, desenvolvemos o dom de saber mensurar quem realmente está com a gente e aqueles que não faziam tanta questão, só pronunciaram palavras vazias, ou, em alguns casos, se deixaram manipular por terceiros, o que também nos mostra que não é bom tê-las ao nosso lado, porque não precisamos de pessoas que não somem na nossa vida. É aquele velho ditado: 'São nos momentos difíceis que realmente vemos quem está com a gente’. A libertação da traição é mais do que conseguir fazer uma leitura das pessoas ao nosso redor, também está associado a conseguir encontrar o nosso ‘eu’, como a protagonista do filme nos mostra. Muitas vezes, quando iniciamos um relacionamento, seja de amor ou amizade, nos esforçamos tanto para ser perfeita e a melhor pessoa, ou a pessoa certa, que acabamos deixando a nossa essência de lado, algo totalmente errado, visto que nos moldamos para os outros e não para nós mesmos. Fazemos a felicidade dos outros, mas não a nossa. Deixamos de fazer o que gostamos para nos inserir nos padrões que alguém a qual queremos nos relacionar gosta. Mas, o quanto vale abrir mão das nossas coisas em prol de uma pessoa? Ou melhor, vale a mão deixarmos a gente de lado em prol de outra pessoa? Ela faz a mesma coisa por você ou não?

Tenho para mim que um relacionamento é um equilíbrio entre as partes envolvidas, se uma precisa desistir de algo, o outro também precisa ceder, e não apenas um lado, porque dessa forma não é possível manter a estabilidade que a corda fica pendendo para apenas um lado. É por isso que precisamos sempre nos colocar em primeiro lugar e termos bem decididos as coisas com as quais gostamos e vamos lutar por elas e que quem quiser estar com a gente vai precisar acertar, sejam elas perfeitas ou não. Ser traído está longe de ser a melhor coisa do mundo, porque não é, porém, por servir de esforço para que a gente se liberte e deixe ir algo ou alguém que a gente já nem fazia mais tanta questão mas estava lá por pura comodidade.

Foi assim comigo. Sempre dizia que ia me desapegar, mas sempre achava uma desculpa para ficar. Até hoje não sei a razão. Talvez fosse medo de deixar ir, medo de perder as pessoas, medo de ser esquecida ou uma zona de conforto com a qual eu me sentia bem e não queria me desafiar ao novo, porém, ao ser apunhalada pelas costas no meio da madrugada e descobrir por meio de uma amiga, foi doloroso, passei dias pensando remoendo, com raiva, mas no fim, tudo ficou normal, e como eu sempre digo para mim, não perdi nada, porque o melhor que eu poderia fazer, eu fiz, e tudo o que tinha para viver, vive. Agora é seguir em frente com o coração livre e sabendo que apesar de ter sido do pior jeito possível, me libertaram de algo que não estava sabendo me desprender, mas que depois que olhei com clareza, percebi que foi a melhor coisa que podia acontecer.