O que antes era conhecido como ervas daninhas, tiriricas ou pragas hoje ganha grande importância junto a outros ingredientes servidos à mesa; essas são chamadas de PANCs (plantas alimentícias não convencionais).

O termo plantas alimentícias não convencionais (PANC) foi empregado por Kinupp em 2007, na apresentação de sua tese de doutorado, na região de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Ainda na graduação, Kinupp conheceu o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, autor do livro de botânica e idealizador do Instituto Plantarum em Nova Odessa (SP). Após estreitar laços, os dois pesquisadores, ao longo de dez anos, fizeram uma intensa busca, viajando pelo Brasil na identificação de plantas com potencial culinário. O resultado dessa pesquisa foi publicado em 2014 com o livro: Plantas alimentícias não convencionais no Brasil. Esse livro é uma espécie de “bíblia” dos conhecedores e entusiastas desse assunto. O livro conta com a identificação, tabela nutricional e receitas de 351 espécies de plantas que antes eram consideradas “pragas” nos jardins.

O movimento em volta das PANCs não é só em nível nacional; já em 1995, o Chef inglês Hugh Fearnley-Whittinstall ganhou reconhecimento por participar do programa de TV Cooking on the Wild side, onde misturava a colheita de Pancs em suas receitas. Mas foi com o trabalho de Miles Irving, autor do livro The Forager Handbook (O manual do coletor) e dono da Forager, que fornece plantas silvestres comestíveis para os melhores restaurantes do país, que as PANCs ganharam força internacional.

O título “não convencional” significa que não são produzidas ou comercializadas em grande escala. Porém, essas plantas possuem grande potencial medicinal e culinário quando utilizadas da forma correta. Além de proporcionar uma base mais ampla de alimentação, muitas dessas plantas alimentícias não convencionais possuem teores de proteínas, vitaminas e outros nutrientes em quantidades muito mais elevadas do que os alimentos que costumamos consumir em nossas refeições. As PANCs são um ótimo caminho para uma alimentação adequada, saudável e responsável.

As PANCs apresentam um rápido crescimento, ótima adaptação climática, fácil dispersão e germinação e alta longevidade, mesmo em solos mal cuidados. Elas também são ótimos indicadores de solo, pois cada uma surge em uma condição específica, e muitas delas não crescem se “forçado” seu crescimento em alguns terrenos. Ainda assim, diante de todos esses benefícios, muitos de nós não possuímos conhecimentos suficientes do que é cultivado em nossos jardins ou calçadas.

Atualmente, a alimentação se reduz a um consumo principal de trigo, batata, milho e arroz, o que conta com basicamente 110 espécies, e essas em sua maioria são cultivadas de forma intensa e com uso excessivo de agrotóxicos. Quando, na verdade, existem mais de 12.000 plantas em potencial alimentício no mundo e são pouco exploradas para a produção e comercialização. No Brasil, estima-se que consumimos apenas 0,4% da biodiversidade que plantamos, além do desperdício de grandes quantidades dos alimentos convencionais que produzimos, a humanidade não utiliza, subutiliza as espécies nativas com potencial para complementação alimentar, diversificação dos cardápios e com grande possibilidade econômica.

Contudo, com o novo cenário que se desenha para busca de uma melhor alimentação e longevidade, as PANCs vêm ganhando destaque nesse novo quadro que se apresenta. Boa parte do crescimento em busca de seus benefícios vem do espaço que essas plantas têm ganhado na mídia, junto a programas de TV, mídias sociais e chefs estrelados que fazem cada vez mais uso dessas plantas em seus restaurantes. Nomes como da Chef Brasileira Helena Rizzo, Maní, e do dinamarquês René Redzepi, Noma, eleito cinco vezes consecutivas como melhor restaurante do mundo, trazem o destaque merecido para essas plantas não convencionais.

Com outros olhos direcionados para essas plantas, a EMBRAPA vem chamando essas hortaliças PANCs de hortaliças tradicionais, por elas estarem cada vez mais exercendo influência na alimentação e cultura regional.

Essas plantas alimentícias não convencionais têm um valor nutricional incrível, e muitas delas também podem ser utilizadas somente como ornamentais, como a capuchinha, major gomes e tagete, proporcionando assim jardins comestíveis. Algumas delas mais utilizadas para benefícios à saúde, que é o caso da ora-pro-nóbis, que pode até ser consumida em cápsulas todos os dias. O importante é explorar cada vez mais essas plantas que estão ao alcance das nossas mãos.

Porém, é importante ressaltar que nem todo mato ou planta encontrada em casa pode ser consumida. Em caso de dúvida, a melhor opção é não consumir e, se necessário, fazer uma pesquisa junto a pessoas que tenham conhecimento sobre essas plantas não convencionais.

Para não deixar só na imaginação a utilização dessas plantas, deixo aqui uma receita para servir e colorir a sua mesa.

Salada de flores e pancs

Ingredientes

  • ½ Alface baby;
  • Tomates cereja;
  • 1 Laranja;
  • 10 Amêndoas;
  • Sementes de gergelim a gosto;
  • Flores comestíveis (lanterna chinesa, malvavisco rosa, cosmos, tumbergia, capuchinha);
  • Sal, azeite e lemon pepper para temperar.

Modo de preparo

  • Lave bem os ingredientes, seque e misture;
  • As folhas de alface e flores cortar a mão;
  • Descasque e corte a laranja em algumas fatias;
  • Coloque as amêndoas cortadas e o gergelim por cima;
  • Tempere a gosto.

Bom apetite!