A perceção que obtemos de um espaço resulta da definição concreta dos seus limites físicos, sejam estes materializados em tetos, paredes ou pavimentos. A presença ou ausência de cada um destes planos determina a leitura e vivência que experienciamos em qualquer espaço ao longo da nossa vida.

Os edifícios que habitamos quotidianamente estabelecem um diálogo físico que nos conduz a determinados estados de espírito e sensações. Os nossos sentidos são estimulados pelos materiais que compõem o espaço que nos envolve, criando-se uma comunicação aberta e permanente entre indivíduo e edifício. A escala e dimensão de um espaço é dada pela relação entre os seus limites físicos. Altura, largura e comprimento dominam o modo como nos deslocamos e apropriamos de um determinado espaço. Existem casos em que a ausência parcial ou total de limites físicos do espaço provocam uma especial condição ao indivíduo que o habita: a imaginação. As ruínas emanam esta singular particularidade de provocar o espanto e a suposição ao seu fruidor, quando paredes destruídas pelo tempo se encontram abandonadas pelos tetos que outrora sustentavam, deixando à imaginação de cada um qual seria a sua verdadeira e real aparência e matéria. Este fascínio pela ausência física de um qualquer limite físico de um espaço demonstra a importância que a arquitetura, independemente da sua época ou cultura, tem para todos nós, como indivíduo ou sociedade. A imaginação fica livre de completar o que se revela omisso pela força dos tempos, sejam pavimentos, paredes ou tetos.

Contudo a utilização de um subtil artifício na construção de um destes limites físicos introduz uma dimensão inesperada e enigmática ao espaço: falo do espelho.

A sua presença torna-se mais intensa quanto maior for a sua superfície e a relação que estabelece para com o indivíduo que o observa, ou seja, a sua posição no espaço. Trata-se de uma perceção reservada ao sentido da visão, apesar de nos provocar continuamente uma falsa sensação espacial de amplitude física.

De um certo modo, o espelho apresenta características similares a uma janela transparente e fixa: não permite a passagem física entre dois espaços que se comunicam visualmente, enquanto revela um outro ponto de vista sobre a realidade concreta que nos envolve.

O espelho capta luz e movimento em reflexo: a extensão refletida de tudo e de cada um assume particular papel na experiência sensorial que fazemos de um determinado espaço.