O arquiteto está-se a reinventar.

Se noutros tempos a Arquitetura limitava-se ao trabalho em gabinetes, atualmente o cenário é outro. Os modos de exercício profissional estão-se a diversificar e a ampliar. Cada vez mais a profissão oferece um conjunto diversificado de competências que proporcionam aos arquitetos a possibilidade de explorar o mercado de trabalho de outras formas.

A crise e o avanço tecnológico estão a ser motores de mudança na profissão e obrigam a uma adaptação por parte dos que querem vingar na área.

Por natureza o arquiteto tem uma visão diferente do mundo. Tem a capacidade de desenhar e imaginar não só edifícios, mas tudo aquilo que o rodeia: um objeto, uma exposição, uma instalação, etc. A arquitetura é-nos apresentada como uma parte de algo maior: o sentido artístico que os arquitetos transportam e que deu origem à sua paixão por desenhar.

A história ensinou-nos que é nos momentos de crise que se dão as grandes evoluções. A crise que a área da construção atravessa obriga os recém-licenciados a atravessar o campo disciplinar e a explorarem outras áreas, fazendo com que se enfrente uma mudança de paradigma com a reconfiguração do território disciplinar da profissão. Os arquitetos não estão mais limitados a desenhar edifícios e vêm essa realidade como uma oportunidade de explorar e desenvolver novas competências.

A arquitetura tem uma multidisciplinaridade inerente à profissão. Os olhos afastam-se do estirador em direção a novas práticas: das artes ao design, passando pela edição, fotografia ou curadoria. Exploram outras áreas mas continuam arquitetos, pois a formação como arquiteto tem repercussões no contributo para o exercício destas novas profissões.

A dispersão do saber disciplinar da arquitetura por múltiplas frentes terá, seguramente, um retorno positivo para a essência da disciplina. Apesar de se tratar de uma diferenciação de interesses e objetivos profissionais, partilham-se os mesmos fundamentos culturais e disciplinares.

O próprio ensino vê-se obrigado a adaptar a uma nova realidade. É indispensável adaptar o modo como se ensina arquitetura também aos arquitetos que não tencionam praticar arquitetura no seu sentido convencional (prática de atelier). Em alguns casos já se disponibilizam programas teóricos que propõem substituir a prática projetual por uma série de outras práticas que exploram meios alternativos de produção do discurso arquitetónico.

É importante lembrar que o fenómenos de arquitetos atuarem noutras áreas não é novidade, o arquiteto sempre teve essa oportunidade. Mas tal privilégio não era acessível a todos, apenas recentemente esta tendência se tem disseminado.

O valor da profissão é agora alimentado por um contributo coletivo que não se esgota no projeto, nem nos domínios da especialização.

“Os arquitetos não inventam nada, apenas transformam a realidade”,

(Álvaro Siza)