Na década de 70 uma revolução cultural instaurou-se nos Estados Unidos. Artistas de rua como Basquiat e Haring, começaram a expor em galerias de arte por todo o país. A vanguarda institucional e os críticos finalmente reconheciam o talento e o trabalho dos artistas que coloriam as ruas da cidade. Alguns anos antes, o mundo underground das revistas em quadrinhos já havia transformado o cenário artístico e abalado a sociedade conservadora norteamericana com o seu desfile de heróis e anti-heróis em histórias com conteúdo fortemente pornográfico. Esse cenário cultural da costa oeste dos Estados Unidos provavelmente foi responsável pelo estabelecimento de inúmeros ilustradores e caricaturistas, cujos trabalhos apresentavam influências do mangá japonês, do graffiti e da cultura popular americana. Em meio a essa cena surge o Lowbrow, movimento artístico underground, também conhecido como surrealismo pop. O reconhecimento dessa esfera artística revela-se no cinema em filmes como “Sin City” e “V de Vingança”, que expandem a dimensão da animação. O maior expoente desse movimento é o artista Mark Ryden, singular e polêmico, tornou-se uma referência da arte Lowbrow americana.

Mark Ryden nasceu em Medford, Oregon, em 20 de Janeiro de 1963, porém cresceu no sul da Califórnia. Filho do pintor e restaurador Keith Ryden, Mark Ryden, formou-se pela Art Center College of Design em Pasadena, em 1987. Ele é irmão do também artista plástico Keyth Ryden, conhecido como KRK. Ryden manteve-se como um artista comercial até ter o seu trabalho reconhecido pelo fundador da Zap Comix Collective, Robert Williams, que em 1994 o colocou na capa da Juxtapoz, a segunda revista de arte mais vendida nos Estados Unidos. Durante o seu período de trabalho como artista comercial Ryden foi responsável por célebres trabalhos, como: a capa do álbum “Dangerous” do Michael Jackson, o “One Hot Minute” do Red Hot Chili Peppers, o “Love in an Elevator” do Aerosmith, entre outros; além de capas de livros como “Desespero” e “Os Justiceiros” do Stephen King.

A sua primeira exibição de arte solo, em 1998, foi entitulada “The Meat Show”. O tema da carne é algo recorrente no trabalho do artista. De acordo com o próprio Ryden “ A carne é a física substância que nos faz vivos através desta realidade. Todos nós estamos “vestindo” nossos corpos, e estes são meros trajes de carne.” O hábito cultural de alimentar-se de carne é algo sempre debatido em sua arte. Desde os tempos de criança Ryden cria universos excêntricos e perturbadores. A sua arte é repleta de imagens oriundas de contos de fadas, iconografia pop, numerologia, imagens religiosas, elementos da alquimia, carne e sangue. Ryden, assim como os surrealistas, é fascinado pelo tema do inconsciente coletivo e pessoal, porém adiciona a isso doses de acepções culturais contemporâneas. Ao misturar conteúdos da cultura pop com técnicas baseadas nos grandes mestres da pintura, tais como Salvador Dalí, Hieronymus Bosch, Jean-Auguste Dominique Ingres e Jacques-Louis David, Ryden criou um estilo próprio que vem atraindo a cada dia mais seguidores. Entre os seus fãs encontram-se famosos como Leonardo Di Caprio, Robert De Niro, Bridget Fonda, Ringo Starr, Cristina Ricci, Stephen King, Björk e Marilyn Manson.

O estilo de Ryden varia do nostálgico ao perturbador. O observador é atraído pelos seus contornos e superfícies detalhadas, onde molduras adornadas conferem às pinturas a intensidade e opulência barroca que adicionam profundidade aos seus temas enigmáticos. Talvez a sua coleção mais sombria e angustiante até agora tenha sido “Blood: Pinturas em Miniatura sobre Desolação e Medo”. A coleção consiste de uma série de pequenos retratos de meninas que choram sangue e bebês famintos perante um prato de sangue. A série “Blood” assegurou a Ryden um lugar de honra no mundo dos admiradores góticos. A mesma é considerada a coleção mais íntima do artista, tendo sido criada no ano do seu divórcio e sequente separação de seus filhos. A inspiração para as suas obras vem de qualquer coisa que evoque mistério. Em suas próprias palavras: "No meu trabalho convivem fotografias de insetos, pinturas de Bosch e Goya, livros sobre os criadores de circos antigos, filmes de Harryhausen, fotos antigas, livros infantis de ciência e espacial, ilustrações médicas, música de Frank Sinatra e Debussy, revistas, televisão, Jung e Freud, Ren & Stimpy, Joseph Campbell e Nostradamus, Ken e Barbie, a alquimia, a maçonaria, o budismo. À noite eu tenho a cabeça tão cheia de idéias que eu não consigo dormir. Misturo todos eles e crio a minha doutrina pessoal sobre a vida e o universo. Para mim, algumas coisas parecem juntar-se e há certas semelhanças e chaves por todo o redor. Deve haver algo de “Alice no País das Maravilhas” que se encaixe com Charles Darwin...Acho que o mundo está cheio de coisas incríveis e surpreendentes. Isto é o que eu coloco em minhas pinturas."

Seu trabalho compreende desde enormes pinturas à óleo até pequenos desenhos preto e branco sobre papel. Atualmente seus quadros atingem valores em torno de 600 mil dólares. Há mais de uma década o artista atrai a atenção de importantes críticos e colecionadores de arte. Mark Ryden vive e trabalha em Los Angeles, porém as suas obras já foram expostas em museus e galerias de arte de todo o mundo.