A arte como forma de expressão cultural sempre foi uma constante na pintura. Os quadros tornam-se como passagens para o mundo, costumes, emoções e sensações que o artista deseja expressar. Assim, quando pensamos em arte moderna mexicana, alguns personagens fazem-se ícones ao representar a atmosfera política, histórica e social do México do início do século XX. Um desses símbolos é a pintora Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, ou como é mais conhecida, Frida Kahlo.

Até o dia 27 desse mês, fica em exposição na Caixa Cultural do Rio de Janeiro a mostra “Frida Kahlo: Conexões entre mulheres surrealistas no México”. Nela o público carioca poderá conhecer 30 obras da artista mexicana, sendo 20 de óleo sobre tela e 10 obras em papel, entre desenhos, colagens e litografias. A exposição ocupará três galerias do espaço, onde também estarão reunidos trabalhos de outras 14 artistas, todas mulheres mexicanas ou radicadas no país. Dentre elas encontram-se: as mexicanas Maria Izquierdo e Lola Álvarez Bravo, a espanhola Remedios Varo, a inglesa Leonora Carrington e as francesas Alice Rahon e Jacqueline Lamba.

Ao longo de sua vida, Frida Kahlo pintou apenas 143 telas, porém todas suas obras são ricas em aspectos pessoais e dramáticos da sua jornada pessoal. Em 1913, Frida então com seis anos de idade, contraiu poliomielite. A doença deixou uma lesão no seu pé direito, o qual ela escondia com calças e longas saias, que viraram sua marca pessoal. Entre os anos de 1922 e 1925, ela frequentou a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México, onde teve aulas de desenho e modelagem. Em 1925, quando estava com 18 anos, o bonde no qual estava chocou-se com um trem. Um fragmento de um dos veículos perfurou-lhe as costas, trespassou a sua pélvis e saiu pelo seu orifício vulvo-vaginal. Esse acontecimento traumático quase lhe custou a vida. Após meses no hospital e diversas cirurgias de reconstrução, Frida viu-se obrigada a usar inúmeros coletes ortopédicos, os quais chegou a retratar em alguns quadros. Foi durante o seu período de recuperação que ela começou a pintar. Alguns anos mais tarde, aos 22 anos, casou-se com o pintor muralista Diego Rivera, o qual conheceu no Partido Comunista Mexicano. Um casamento conturbado e repleto de casos extraconjugais de ambas as partes. Por fim, o casamento termina após Frida descobrir o caso do seu marido com a sua irmã mais nova, Cristina. Em 1940, contudo, os dois casaram-se pela segunda vez. Eles nunca tiveram filhos, embora Frida tenha engravidado algumas vezes. Em decorrência do acidente, que comprometeu o seu útero, ela nunca conseguiu levar uma gestação até o final. Ademais, a artista era afligida por períodos de depressão, nos quais tentou diversas vezes o suicídio. Em 13 de julho de 1954, aos 47 anos, Frida falece de embolia pulmonar. Em seu trabalho está ilustrado em formas e pinceladas sua relação conflituosa com o seu corpo, seus diversos abortos, as traições do marido e o acidente que lhe causou diversas lesões físicas.

A exposição foi planejada e organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo. A curadoria ficou nas mãos da pesquisadora mexicana Teresa Arcq, reconhecida por sua trajetória no surrealismo, na arte moderna e contemporânea. Em sua pesquisa sobre a artista, Teresa obteve acesso aos arquivos secretos de Frida Kahlo. O material revelou as relações da artista com outras pintoras surrealistas da época, tendo Frida como figura central dessas ligações. Com isso, surgiu o conceito de mostrar o trabalho da artista de um ângulo diferente; como uma personalidade influente no contexto da arte mexicana. Ao definir o estilo e movimento artístico da pintora, Teresa afirma que a mesma não fazia parte de nenhum movimento específico, pois suas obras tem características do surrealismo, outras da arte popular mexicana ou pintura colonial, e algumas foram inspiradas pela fotografia. Assim, o trabalho de Frida é considerado único e autêntico. Contudo, as outras pintoras da mostra exprimem as transformações e liberações femininas tanto quanto Frida. Entre as artistas mexicanas associadas ao movimento surrealista há uma grande quantidade de autorretratos e retratos simbólicos, sendo ambos um instigante rompimento que divide a esfera do público do privado. Das 20 pinturas de Frida na exposição, 6 são autorretratos. Outra temática abordada pelas artistas é a do ocultismo; o fascínio pelo universo da magia, alquimia, tarot, astrologia e crenças populares. Além disso, a questão do papel das mulheres no cenário cultural mexicano do começo do século XX é um tema recorrente. A figura de Frida também é retratada na exposição por meio das lentes dos fotógrafos Nickolas Muray, Bernard Silberstein, Héctor García, Martim Munkácsi e em uma litografia de Diego Rivera. A intensidade e presença criativa de Frida podem ser captadas pelas suas roupas, penteado, acessórios e cores. A mostra começou em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake. Depois do Rio de Janeiro a exposição seguirá para Brasília, onde permanecerá até o dia 12 de Junho.