Nos dias de hoje, nos confrontamos com algumas questões e temas que são verdadeiras incógnitas sociais e globais, tais como: o aquecimento global e seus reflexos no nosso mundo, a extinção de espécies e seus respectivos danos biológicos e culturais, as oscilações econômicas e mudanças políticas, a desigualdade na distribuição de renda, o desperdício dos recursos naturais do planeta, as guerras, entre tantas outras. Uma sensação que persiste no decorrer de todos esses acontecimentos é a incerteza. O não saber ou conhecer aflige a todos podendo tornar-se, às vezes, limitante. Por isso, descobrir como relacionar-se com a incerteza pode resultar em novas possibilidades. Ao discorrermos sobre o significado da incerteza, devemos ter em mente que o conhecimento é algo múltiplo e mutável. O entendimento de alguns códigos científicos e simbólicos faz-se necessário para integrar essa descrição. Assim, o reconhecimento de que estamos imersos em um ambiente de incerteza nos permite buscar novos caminhos. Esse foi o conceito que norteou a 32ª Bienal de São Paulo, que sob o título “Incerteza Viva”, procura refletir sobre as situações adversas que nos rodeiam e as ferramentas apresentadas pela arte contemporânea para acolher ou habitar incertezas.

A 32ª Bienal de São Paulo, que começou dia 7 de Setembro e vai até o dia 11 de Dezembro, acontece no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, na Avenida Pedro Álvares Cabral, no Parque Ibirapuera. A curadoria é do alemão Jochen Volz, tendo como cocuradores Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México). Dos 81 artistas e coletivos nacionais e internacionais (33 países estão sendo representados) escalados para a Bienal, 47 são mulheres. A seleção de uma maioria de artistas femininas foi proposital, segundo Volz: “Artistas homens são muito mais representados do que artistas mulheres”. A organização do evento almeja receber em torno de 500 mil visitantes para a 32ª Bienal.

O projeto arquitetônico da exposição buscou uma integração com o espaço público do Parque Ibirapura, tornando o evento ainda mais acessível e comunitário. Com vários projetos artísticos designados para o parque, a Bienal torna-se uma ampliação do jardim, buscando atrair os seus visitantes. Entre os assuntos abordados, estão: reflexões cosmológicas, percepção e consciência ambiental e coletiva, ecologias naturais e sistêmicas. Como parte das pesquisas para a Bienal, entre os meses de Março e Maio desse ano, uma série de Dias de Estudo conduziram o processo reflexivo e inquiritivo até o evento. Cada um dos quatro Dias de Estudo aconteceram em um local específico: Cuiabá (Mato Grosso), Santiago (Chile), Acra (Gana) e Lamas (Peru). Na agenda estavam incluídas visitas de campo a centros culturais, comunidades locais, reservas ecológicas, estúdios de artistas, centros de pesquisa e conferências abertas ao público. A intenção foi de promover trocas entre os anfitriões dos projetos e profissionais, a fim de criar uma ponte para o desenvolvimento de novas formas de pensar e criar. Em Junho, um seminário realizado no auditório da Fundação Bienal, teceu as questões e propostas discutidas ao longo desses encontros, tais como: subjetividade, medo, inteligência coletiva, sinergia, ecologia, mitos, tradições, formas de linguagem e modelos de educação. Os registros dos Dias de Estudo e do seminário podem ser encontrados na plataforma virtual da Bienal e em publicação específica. Várias ações educativas foram promovidas para o evento, desde a formação de mediadores, cursos para professores e educadores sociais, workshops, seminários e visitas mediadas.

Inúmeras das obras expostas envolveram residências artísticas na cidade de São Paulo e viagens de pesquisa pelo país. A artista Carla Filipe, em parceria com o Instituto de Botânica de São Paulo, desenvolveu uma horta com plantas alimentícias em extinção; Iza Tarasewicz investigou a presença do ritmo musical polonês Mazurka no Brasil e Dalton Paula visitou três cidades envolvidas na economia do tabaco. O artista polonês naturalizado brasileiro, Frans Krajcberg, tem a sua obra exposta na entrada do pavilhão. Os troncos, raízes e pedaços de madeira calcinadas foram transformados em totens que remetem à destruição. Ao seu lado, encontra-se a obra de Bené Fonteles, uma oca, aludindo à um local de encontros e de diálogo. Já “Espelho de Som”, obra de Eduardo Navarro, consiste em um instrumento que sai do pavilhão para chegar até a copa de uma palmeira, apontando para a necessidade de escuta da natureza. A sutileza com que as obras abordam as questões conflituosas e polêmicas atuais é notória. O filme de Priscila Fernandes, “Gozolândia”, faz apologia à maneira com a qual o trabalho rege as relações, e o divertido “Uma História do Humor”, de Gabriel Abrantes, fala do amor de uma índia por um robô sem corpo.

A 32ª Bienal de São Paulo contou com o apoio de empresas, entidades governamentais e instituições culturais. Houve também um fortalecimento das relações da Fundação Bienal com organizações internacionais de fomento à cultura. Além das obras expostas de forma permanente, o público pode desfrutar de apresentações de dança, oficinas de culinária e de bordado, shows, palestras, performances e exibições de filmes. A entrada é gratuita.