A Madragoa tem o prazer de apresentar Smile! You Are in Spain Studio Part I, a primeira exposição individual do artista Luís Lázaro Matos na galeria.

Smile! You Are in Spain é o slogan de uma conhecida campanha publicitária lançada em 2004 para promover o turismo em Espanha. Durante os cinco anos que esta durou, foi criada uma imagem de Espanha a ser desfrutada por jovens, cercados de paisagens ensolaradas, praias intocadas ou em frente de monumentos icónicos, imersos num ambiente amigável e adequado para a cultura, lazer e desporto. O objetivo era tornar este num destino turístico perfeito: um paraíso na terra, lugar de sol e fiesta. Esta conservadora campanha, que deu ênfase a um estilo de vida relaxado e agradável, conseguiu ancorar estereótipos e clichês tradicionalmente associados ao país, transmitindo aos potenciais turistas essa imagem apelativa e peculiar da vitalidade e alegria espanholas. Nos anos que se seguiram a esta campanha, depois de mais de uma década de crescimento económico contínuo, Espanha foi gravemente afectada pela crise financeira global de 2008 – ao mesmo tempo que promovia no exterior esta imagem positiva representada pelo ensolarado logotipo de Juan Miró, o país enfrenta uma grave crise económica.

Luís Lázaro Matos utiliza esta campanha para informar um projeto que visa analisar como os clichês sobre países se tornam commodities e como a paisagem, as tradições, as populações e a arte se tornam simples e prontas a consumir. O projeto está dividido em dois capítulos independentes mas ao mesmo tempo profundamente interligados: a exposição presente na MADRAGOA e uma instalação performativa que será apresentada na ARCO, Feira Internacional de Arte Contemporânea em Madrid, em fevereiro de 2017.

O ponto de partida de todo o projeto é a justaposição entre o "smile" introduzido na campanha publicitária e o seu oposto, uma expressão tomada para representar a situação crítica atual comum aos países da Europa do Sul e simbolizada pelo “grito”, a famosa pintura de Edvard Munch. Através de um filtro sarcástico, o artista utiliza uma imagem que sofreu um processo extremo de esgotamento semântico: da profunda dor psicológica originalmente expressa pela tela, à imagem icónica excessivamente usada, que adquiriu uma vida própria, quase completamente abstraída da própria pintura. Ao prosseguir com esse processo de descontextualização, a dramática paisagem dissonante na qual o protagonista da obra-prima de Munch está imersa, representando uma projeção de identidade e experiência humana e um repositório do místico ou do sublime, é substituída, na fotografia de Matos Under the Sun I, por uma praia ensolarada no sul de Espanha onde a personagem se encontra “de férias”. Para este efeito, toda a galeria é transformada num espaço luminoso, animado por uma atmosfera de férias e por Hay Que Venir Al Sur de Raffaella Carrà, uma canção que encoraja uma fuga para o Sul, uma terra para o amor e para uma vida irreflectida e pacífica, mais uma vez promovendo os vários estereótipos. A canção é usada como banda-sonora para uma video-animação com o mesmo título, que funciona como uma espécie de manifesto fornecendo algumas instruções que introduzem o segundo capítulo do projeto, que envolve a colaboração com vários arquitetos.

O desenho de Matos Model for a Holiday Villa, apresentado na exposição, é a interpretação do artista dessas mesmas instruções dadas a vários arquitetos, nas quais lhes era pedido um projeto de uma casa de férias inspirada pela pintura de Munch. Na segunda parte do projeto, num cenário que se assemelha a um estúdio de arquitetura, o artista intervirá diretamente nesses desenhos, corrigindo-os para realçar os clichês que lhes são intrínsecos. A profunda relação entre o rosto do protagonista em The Scream e a sua paisagem envolvente, que é transformada em concordância com as suas características distorcidas, é transposta para o cenário natural do projeto num contexto arquitetónico, explorando o modo como convenções e mitologias nutrem a nossa imaginação e moldam o que nos rodeia. A própria fachada da galeria, com azulejos portugueses típicos, foi transformada, acumulando cartazes de publicidade desenhados pelo artista.

Luís Lázaro Matos (Évora, Portugal, 1987), vive e trabalha em Lisboa. Estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa entre 2006 e 2010 e adquiriu o BA em Art Practice na Goldsmiths College, University of London em 2011. Exposições individuais: Super Gibraltar, Kunsthalle Lissabon, Lisboa, 2015; Models for Solitude, Old School, Lisboa, 2014; Houses On Punta Massulo, Neoteorismoi Toumazou, Nicósia, Chipre, 2013; One, Two, Three! Position!, Hinterconti, Hamburgo, 2013; Into the Blue/Out of the Blue, Goldsmiths College, Londres, 2010. Exposições coletivas: Prémio EDP Novos Artistas, Porto, 2013; Via Paraguay Ballet, Villa Design Group, Bundeskunsthalle, Bona, 2013;When We Build Again, Londres, 2013; Villa I, This House is Triadic Fascist and Made of Industry Glass, Londres, 2012.