Oito artistas e oito maneiras de dizer a arte. De dizê-la da forma mais precisa, praticando-a. Podemos falar da arte, do tempo, do amor e do espaço. Podemos falar de várias coisas, mas muitas delas só existem no momento em que se convertem em ato, em que se convertem em gesto visível e partilhável, no momento em que verdadeiramente são. Oito artistas cujo único traço em comum é a partilha do espaço e do tempo de uma aprendizagem, ou de uma (des)aprendizagem do que é ser artista e do que é fazer arte. Na escola aprende-se muita coisa; nas melhores escolas desaprende-se tudo aquilo que é dado como certo, pois aprende-se a indagar. Oito artistas com indagações diferentes, mas que possuem em comum várias questões, às quais tentam responder através da arte.

“É o passado uma invenção do presente. Por isso é tão bonito sempre, ainda quando foi uma lástima… A memória tem uma bela caixa de lápis de cor”, diz Mário Quintana, poeta dos aforismos e dos pontos de interrogação. O passado, que para o poeta é a infância, é sempre pintado de azul porque é uma invenção do presente. Na obra de Marum Nascimento, o passado reinventa-se na própria História, que, ao contrário do que se pensou durante muito tempo, não é estática, movimenta-se a cada nova descoberta e altera, subtilmente, as certezas construídas de forma tão científica. Assim o artista promove um diálogo entre arte e ciência, entre memória e História, entre o que vemos e o que ainda não conseguimos ver.

Daquilo que não conseguimos ainda divisar é feita a obra de Vilma Correia: trabalho delicado, laborioso, que invoca o movimento e o tempo. Que evoca a vida e tudo que nela contém. De uma maneira diversa, Ângelo Gonçalves expõe seus desenhos no espaço, suas quase-esculturas, seus abrigos que nos obrigam a pensar no que temos aqui e agora. E no que nos falta. A falta, ou a memória, é uma presença marcante no trabalho de Joana R. Sá: desenhos, traços, percursos ou cicatrizes. Experimentos formais que escapam à própria forma e que se configuram como presenças da marca da artista, do seu rasto.

Sheila Semedo traz-nos uma peça única, um rosto sobre um tecido largo. Uma rememoração do sudário, do pano que absorve o traçado do corpo que envolveu. Seus retratos de grandes dimensões são auto-referentes e ocupam os espaços da parede e da memória sem buscar interpretações. Marta Pedroso vem trabalhando com a questão do género sempre de forma provocadora: questiona o papel da mulher neste espaço-tempo precisos e o papel que lhe é dado representar como artista e como mulher. A sua obra-instalação pede ao/à espectador/a que se mire, participando ativamente da construção ou da desconstrução de uma imagem, questionando ao mesmo tempo o papel do artista/autor e da arte como objeto pronto-a-servir.

Dina Dias explora o desenho abstrato, através das curvas e cores, das marcas que deixa no papel. Pedro Barros escolheu a imaterialidade da imagem em movimento, do vídeo que vê e que é visto ao mesmo tempo. Oito artistas, uma mesma escola. A escola que os ensinou a questionar os limites e os instigou a fazer da arte um ponto de interrogação e de novas descobertas. Como escreveu Quintana, “só com os poetas se pode aprender algo de novo”. Porque, ao contrário das enciclopédias, que dizem todas o mesmo, os artistas dizem todos o mesmo, mas de forma sempre diversa.

Artistas

Ângelo Gonçalves
Dina Dias
Joana R. Sá
Marta Pedroso
Marum Nascimento
Pedro Barros
Sheila Semedo
Vilma Correia