Localizado às margens do rio Neva, em São Petersburgo, o Museu Nacional do Hermitage, é considerado um dos maiores museus de arte do mundo. No seu acervo, é possível encontrar itens de diversas culturas, estilos e períodos históricos. Sua extensa coleção, estimada em três milhões de peças, está distribuída ao longo de dez prédios, dos quais sete, são verdadeiros monumentos artísticos e históricos. O maior e mais ilustre deles é o Palácio de Inverno, o qual foi a residência de inverno oficial dos Czares quase até a queda da monarquia russa, em 1917.

Dada a relevância e importância dessa coleção, muitos considerariam arriscado manter dezenas de gatos próximos dessas preciosas obras de arte. Contudo, não os gatos da corte do Hermitage. Os gatos residentes no museu são considerados fiéis guardiões, sendo tratados como parte da realeza pelos membros da equipe do Hermitage. De acordo com o museu, a história dos gatos remonta ao século 18, quando Pedro “O Grande”, trouxe para o Palácio de Inverno um gato holandês. A sua filha, a imperatriz Elizaveta Petrovna, ordenou que «os melhores e maiores gatos indicados para pegar ratos» fossem trazidos de Kazan, onde os gatos eram famosos pelas suas habilidades de caça, para proteger o palácio. Mais tarde, Catarina “A Grande”, nomeou os gatos de guardiões das galerias de arte do Hermitage. Por isso, esses felinos são conhecidos hoje como "gatos da corte", os quais continuam patrulhando o porão em busca de roedores.

Para mostrar a importância desse exército de felinos, o museu dedica um dia no ano para homenageá-los, é o Day of the Hermitage Cat («Dia dos Gatos do Hermitage»). Em 2012, os célebres felinos foram imortalizados na rica indumentária de servos da corte imperial, em retratos encomendados pela Hermitage Magazine, que é publicada pela própria fundação do museu “Hermitage XXI Century Foundation”. A editora da revista, Zorina Myskova, afirmou que os imponentes gatos foram escolhidos pela “curadora” dos gatos do Hermitage, Maria Haltunen, a qual é co-autora juntamente com Mary Ann Allin, de um livro infantil intitulado Anna and the Hermitage Cats (Anna e os Gatos do Hermitage). O livro já foi transformado em um musical infantil chamado Hermitage Cats Save the Day (Os Gatos do Hermitage Salvam o Dia), o qual ganhou notas de jazz por Chris Brubeck.

De acordo com Myskova, «os gatos do Hermitage são únicos no mundo dos museus porque continuam a fazer o seu trabalho (...) Ao contrário do Museu Britânico, o Hermitage conseguiu salvar os seus gatos, que continuam a cumprir a função de servos, como os dos trajes em que os vestimos». Segundo a editora, as vestimentas foram cuidadosamente selecionadas por um curador do departamento de indumentária russa do museu, o qual possui vastas vestimentas e acessórios de czares. «Esta é a primeira descrição deles dessa maneira, na tradição do retrato trajado holandês», disse Myskova.

O responsável pelos encantadores retratos foi o artista gráfico uzbeque, Eldar Zakirov. Embora formado em Design de Ambiente Arquitetônico e Publicidade pelo Instituto Tashkent de Arquitetura e Construção, Zakirov já gostava de pintar e desenhar estilos realistas e de ficção científica. A série de retratos dos gatos da realeza tornou Zakirov, na época com 30 anos, mundialmente famoso. Os gatos, inclusive, viraram memes da internet. O artista afirma ter recebido uma série de pedidos de donos de gatos pedindo para retratar os seus felinos de estimação com trajes de czar. Contudo, enquanto muitos gatos parecem ostentar uma postura nobre, poucos são os que podem, de fato, vestir-se como tal. Os trajes nas pinturas digitais de Zakirov são tão detalhados quanto os felinos que os usam e posam, orgulhosamente, em diferentes vestimentas reais. Os seus retratos, ainda que pintados digitalmente, são tão realistas que parecem pinturas à óleo. Os tecidos das roupas, assim como, o plano de fundo das obras, foram cuidadosamente escolhidos para representar adequadamente a época.

O artista disse que teve como inspiração as pinturas de artistas russos de retratos clássicos dos séculos XVIII e XIX, como Orest Kiprensky e Ilya Repin; e a sua técnica variou da «maneira tênue dos retratistas da corte» para «uma abordagem mais livre e expressiva de mestres posteriores». Além disso, Zakirov tentou ser fiel a cada gato, buscando transmitir não apenas as suas semelhanças, mas também suas peculiaridades, como: manchas nos rostos, o formato das orelhas, o comprimento dos pêlos. O artista criou seis retratos, incluindo o «Hermitage Court Waiter» e o «Hermitage Court Outrunner», conhecidos respectivamente, como Kuzma e Rikki O Velho, pelos membros do museu.

Eldar Zakirov ainda colabora com várias revistas e agências de publicidade, tendo trabalhos publicados nos EUA, Reino Unido, Rússia, Austrália, Ucrânia, entre outros. O artista faz uso de uma grande variedade de técnicas de arte e estilos. Em 2006, foi o vencedor do Grande Prêmio (“Golden Brush Award”) no Illustrators of the Future Contest de L. Ronald Hubbard (EUA).