Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. Manoel de Barros, Memórias Inventadas.

Submersos em cotidianos comuns e previsíveis, fomos aplacados pela busca incessante por resultados. Nossas vidas são medidas pela capacidade produtiva e o fazer validado pelo seu potencial monetizavél. Imersos em um infindável pragmatismo, estamos sujeitos, com certo exagero, a nos tornarmos seres meramente funcionais. Seguindo as mesmas exigências e padrões, acentua-se a predominância do objeto utilitário em detrimento da criação pela arte, sem eficácia.

Desvirtuando a lógica que perpetua a racionalidade mundana e seu elogio tacanho à aquilo que se convencionou chamar de ´resultados´, as esculturas de Claudio Alvarez têm a função de nos tirar do lugar comum, desvairando os vícios do olhar para assim alcançarmos os princípios, as origens, o momento anterior às palavras e às funções, um instante em que só existem as coisas. Instante de encantamento.

Sobretempos nos conduz a uma poética dos fenômenos cinéticos e óticos. As obras estimulam nossos sentidos por meio do movimento, dos jogos de espelhos e da vibração. É justamente aí que se encontra a matéria do trabalho, nessa vibração, algo que não é objeto nem idéia, algo que não entrevemos na obra, mas que podemos prever através dela. As esculturas expostas só existem entre o movimento e o repouso, assim, surgem como sobreposições temporais.

Na obra Espaços Simultâneos percebemos um jogo de realidades: o que é verdadeiramente real senão aquilo que aparenta ser? A obra é constituída por uma dimensão que cria, através do reflexo, mais dois espaços. Estes ambientes aparentes simulam saídas: uma virtual, aos fundos, e outra real, acima, para fora da superfície construída. A ligação entre os planos é representada por uma escada. Os espaços ilusórios afirmam sua existência naqueles degraus que atravessam e se elevam para fora. Onde está a obra nesse caso? Não apostaríamos em sua realidade física, tampouco em seu caráter de mera ilusão dos sentidos.

Seguindo a proposta de ampliar o campo da percepção explorando raciocínios óticos, Espreitador nos atraiçoa, fazendo com que questionemos a imagem factual avistada através da escultura. Em toda exposição há este resquício cético em que a interrogação se apresenta com uma novidade: a dúvida feliz.

Negando o culto da funcionalidade e da busca por soluções, as esculturas de Claudio Alvarez trazem uma sutil dose de humor da qual deriva o prazer e a possibilidade do questionamento. Essa dimensão existencial se realiza em sucessivos enigmas para a retina, na promessa de devolver ao espectador um estado de contemplação do aqui e agora.