A Galeria Millan apresenta, de 10 de outubro a 4 de novembro de 2017, Miss Natural e outras pinturas, a segunda exposição individual de Ana Prata na galeria. A mostra ocupa o Anexo Millan e reúne em torno de vinte pinturas em óleo sobre tela que variam entre pequenos e grandes formatos. A artista opera com narrativas não lineares, onde aspectos temáticos e formais se entrelaçam. Cada pintura é para ela uma forma específica e singular de organizar e apresentar uma ideia, e quando postas em conjunto estabelecem novo sentido. Em seu trabalho, há uma ambiguidade latente que pode transitar entre o humor, a interioridade e o espírito crítico.

Nesta exposição algumas famílias de trabalhos são apresentadas, entre elas: figuras humanas, formas geométricas, paisagens e pinturas abstratas gestuais. Um triângulo pode tanto apresentar referências simbólicas — como uma espécie de portal, ou uma ideia de ascensão — como pode remeter, pela maneira como foi pintado, a um vocabulário pictórico do séc. XX. Temas como este, quando colocados ao lado das pinturas de figuras femininas, fazem emergir outros sentidos formando uma teia que não procura encontrar uma resposta, mas sim abrir caminhos de percepção.

No âmbito do feminino, a artista formula uma personagem intitulada Miss Natural, que aparece em alguns trabalhos e pode nos remeter ao conceito da “mãe universal”, figura mítica presente em diversas culturas e religiões pagãs, ou mesmo flertar com o ideal hippie de “retorno às origens” e seus remanescentes na cultura vigente. O trabalho da artista mantém um caráter ambíguo, fato que se torna evidente quando nos damos conta de que a mão de uma dessas figuras femininas pode também nos lembrar as luvas do personagem Mickey Mouse.

As paisagens de montanhas e lagos se estruturam em torno de um mesmo esquema de desenho (que possui a despretensão de um desenho infantil), mas com técnica e visualidade singular, criando temperamentos variados, formalmente díspares. Ao olhar o trabalho de Ana Prata, é perceptível a relação direta que a artista estabelece com diversos momentos de história da arte moderna, como se este diálogo fosse uma ferramenta para o seu fazer. Porém, Prata não cria resistência à diversidade que este diálogo possibilita, e sim o utiliza para o exercício da liberdade.