Sinais/Signals apresenta uma extensa seleção de trabalhos de Mira Schendel (1919-1988) dos quais emergem os elementos que tanto caracterizam a natureza singular da obra gráfica da artista: linhas, palavras, letras, rabiscos, traços, números, frases e muito mais. Sem ser um resumo ou retrospectiva, esta exposição pretende reunir uma vasta região da obra em que se manifestam tais aparições, especialmente os trabalhos que Mira chamou de Monotipias, Toquinhos e Objetos gráficos, séries nas quais ela explora a presença de um sinal gráfico inesperado, imprevisível, único. Sinais que surgem da superfície discreta, que pode ser tanto o papel-arroz quanto o acrílico, e subitamente irrompem como manifestações de uma pura presença, casual ou impositiva, vaga ou agressiva, evanescente ou contundente, pulsar gráfico sem começo ou fim.

Mira encontrou, sobretudo no espaço retangular do papel-arroz das Monotipias, um lugar privilegiado ao qual se voltou milhares de vezes para aí imprimir inúmeros e variados sinais. Sinais/Signals busca apresentar, senão tentar desvelar, por meio de um conjunto expressivo de trabalhos, a extensão provável desse procedimento único, bem como a sua frequência, intensidade, valor, peso etc., como uma manifestação ao mesmo tempo casual, hermética, simples, sofisticada, única e repetitiva, na qual cada uma dessas oposições aparentemente contraditórias emergem continuamente em constante e delicada suspensão. Contradições que o trabalho dissolve no longo percurso de seu próprio processo e resultado, que, a rigor, não teria fim – assim como também é difícil estabelecer um começo. Toda essa extensão alcançada com os mais simples meios gráficos (pode existir algo mais simples que uma linha, um ponto ou uma letra?) constitui uma estrutura sígnica variável, aberta, inconstante, flexível, em contínua e infinita expansão; algo que poderia se chamar “tabela periódica dos sinais de Mira Schendel”.

Ao reunir o presente conjunto de obras, que Mira incessantemente produziu durante décadas, esta exposição busca seguir de trabalho em trabalho a inquieta multiplicidade desses sinais e se aproximar da totalidade do espírito poético que manifestam.