Depois de Luctus Lutum, exposição realizada em 2015, na qual homenageou sua falecida mãe com uma grande instalação feita de taipa de pilão que pesava 30 toneladas, Elisa Bracher retorna à Galeria Raquel Arnaud com um novo recorte de sua produção. Encarnadas traz a público uma seleção de 30 desenhos desenvolvidos pela artista desde 2008, em papel de arroz, com tamanhos que variam de A4 a grandes dimensões (3,00 x 2,10m). São obras, a maioria inédita, que tomam seu ateliê, paredes, chão e atravessam o espaço, pendurados em varais, devido ao processo de secagem. As tintas pesadas, próprias da gravura em metal, junto ao giz litográfico, o bastão oleoso e outras tintas são de lenta absorção pelo papel japonês.

Segundo Elisa Byington, curadora da mostra, os desenhos da série “Vermelhas” surgidos na elaboração de um projeto de escultura para espaço público, inicialmente eram volumes plásticos de contornos bem definidos e formas geométricas que buscavam colocação espacial estável sobre a página. “Mas logo, a intenção projetual cedeu lugar a uma diversa investigação formal, na qual, uma certa tridimensionalidade, se alguma havia, era dada apenas pelo papel translucido que deixava entrever o espaço além da superfície”.

Antes referente apenas ao granito dos blocos que construiriam a escultura, a cor, nesta série, é protagonista. “Para a artista habituada a uma cromia rigorosa e restrita ao preto, branco e ocre, que exercitou a distância da imagética antropomórfica, a cor vermelha, encarnada, que se impõe como fio condutor, imprime ao trabalho uma inusitada dimensão orgânica, fluida, sinuosa, delicada, dolorida, visceral, erótica, e postula de modo diferente a questão da visualidade”, afirma Byington.

Além dos desenhos/pinturas da série “Vermelhas” em papel arroz, a exposição reúne inéditos trabalhos em pedra, madeira e vidro, que se conectam às formas desenvolvidas nas pinturas vermelhas; e esculturas em madeira, reveladoras de uma produção que convive com múltiplas linguagens e técnicas. Completa a individual, ocupando o segundo andar da galeria, uma projeção de imagens fotográficas retrabalhadas em técnica mista, que “repropõe o universo primordial das “Vermelhas” em outra dimensão”.

Elisa Bracher (São Paulo, 1965), conhecida por suas grandes esculturas de madeira, espalhadas por vários espaços públicos, possui uma produção artística que permeia quatro meios distintos – desenho, gravura, escultura e fotografia – que não acontecem de maneira independente, estando interligados em sua poética. Sua formação em artes plásticas deu-se na Fundação Armando Álvares Penteado (1989), sendo complementada por um curso de gravura em metal com Evandro Carlos Jardim. Sua carreira despontou inicialmente no campo da gravura, meio pelo qual foi premiada em diferentes momentos. No inicio dos anos 1990 envereda também pelo campo da escultura e passa a experimentar a arte com diversos materiais, em especial a madeira. A artista toma partido da condição plástica dos materiais, o que comparece com a clareza em seu trabalho realizado em adobe (taipa de pilão), empregado pela primeira vez na exposição “ Experimentando Espaços”, no Museu da Casa Brasileira, em 2009.