Foram apresentadas pela primeira vez no Kunstmuseum Wolfsburg e de seguida no Museum für Kunst und Kulturgeschichte, em Dortmund. Agora, em Lisboa, a exposição destas quinze séries fotográficas de Pieter Hugo, produzidas entre 2003 e 2016, está patente no Museu Coleção Berardo.

O que é que nos divide e o que é que nos une? Como é que as pessoas vivem sob a sombra da repressão cultural ou do domínio político? O fotógrafo sul-africano Pieter Hugo (Joanesburgo, 1976) aborda estas questões nos seus retratos, nas suas naturezas-mortas e nas suas paisagens.

Criado na África do Sul durante o período pós-colonial, tendo testemunhado o fim do apartheid, em 1994, Hugo mostra uma intensa sensibilidade na observação das dissonâncias sociais. Com a sua máquina fotográfica, percorre todas as classes sociais de uma forma perspicaz, não apenas no seu país natal, a África do Sul, mas também noutras paragens, como o Ruanda, a Nigéria, o Gana, os Estados Unidos e a China. As suas fotografias captam os vestígios visíveis e invisíveis e as cicatrizes das vivências biográficas e da experiência histórica nacional. Hugo mostra especial interesse pelas subculturas sociais, pelo fosso entre o idealizado e o real.

As suas imagens apresentam-nos sem-abrigo, albinos, doentes com SIDA, domadores de hienas, serpentes e macacos, pessoas que reúnem ferros-velhos em cenários apocalípticos, atores de Nollywood em trajes e poses impressionantes, assim como a sua família e os seus amigos.

As suas fotografias estão isentas de qualquer hierarquia: todos são tratados com o mesmo respeito. Sendo mais um artista do que um antropólogo ou um repórter, Hugo capta o «momento de vulnerabilidade voluntária» (Pieter Hugo) com uma linguagem visual concisa e pronunciadamente imparcial, embora simultaneamente empática, criando assim verdadeiros retratos de uma poderosa franqueza. Em muitos casos, esta humanidade contrasta fortemente com as provações da realidade social em que as pessoas retratadas estão envolvidas. É neste sentido que as naturezas-mortas e as paisagens das imagens de Pieter Hugo se apresentam ocasionalmente como comentários sociais ou metáforas, complementando os seus retratos socioculturais.