Esta é uma exposição no presente do indicativo; uma exposição sobre devaneios e pesadelos inquietantes, sobre visões domésticas e fantasias tecnológicas. É um exercício de indagar como a arrogância do progresso pode ser neutralizada pela empatia criativa da natureza; de explorar os mundos visível e invisível; de revelar os limiares de percepção que conectam luz e sombra, espaço interior e sideral; um exercício de apontar para a criação de novos ambientes que permitem o desenvolvimento de novas histórias.

Centrais para a concepção da exposição são os trabalhos A Flor Mohole de David Medalla e os Espaços Virtuais de Cildo Meireles. A escultura animada de David Medalla faz referência ao Projeto Mohole, iniciado em 1957 e terminado em 1966, que consistia em escavar o núcleo do nosso planeta para extrair um fragmento de sua crosta; o trabalho era para ser plantado no centro da Terra, a fim de ressurgir “com pétalas rolando com a crista de uma onda chegando à costa”, em diferentes formas e em diferentes locais. Já os Espaços Virtuais foram desenvolvidos no final da década de 1960 a partir de uma visão infantil do artista referenciada no trabalho A Penteadeira (1967), que eventualmente o levou a questionar a geometria euclidiana e a explorar as características mutantes da paisagem, narrativa e escultura.

Como uma fita de Moebius que produz um plano espelhado que nunca é idêntico a si mesmo, a exposição explorará a sombra que se desprende de seu corpo original; a superfície refletora que adquire vida própria; a máscara que não se conforma com a anatomia escondida – ou o contrário. Criaturas fantásticas e matéria orgânica criarão um ambiente de espaços deslizantes e escalas variáveis, onde a compatibilidade e dissidência poderiam realocar as portas entre a vida contemporânea e as civilizações extintas.

Artistas na exposição: Marcel Duchamp, Pierre Huyghe, Laura Lima e Zé Carlos Garcia, Marie Lund, David Medalla, Cildo Meireles, Theo Michael e Gabriel Sierra.

Magali Arriola é crítica de arte e curadora independente que vive na Cidade do México. Atualmente é a curadora principal de América Latina para a Kadist. Foi curadora-chefe da Fundación Jumex Arte Contemporáneo e do Museo Tamayo, ambos na Cidade do México. Arriola escreveu extensivamente para livros e catálogos e contribuiu para publicações como Art Forum, Curare, Frieze, Mousse, Manifesta Journal e The Exhibitionist, entre outras.