A Galeria Raquel Arnaud encerra as atividades em 2018 com uma exposição de pinturas de Daniel Feingold, comemorando os 25 anos do artista em seu elenco. Em diferentes suportes, escalas e materiais, o pintor carioca apresenta um conjunto de obras que estabelece narrativas construtivistas entre o espaço e seus desdobramentos, planos cromáticos e suas dobraduras, revelando um jogo pictórico fundamental à compreensão da poética do artista.

No térreo, Feingold exibe uma seleção com cerca de sete obras da série “Estrutura”. São pinturas em grande formato realizadas com esmalte sintético sobre terbrin. O esmalte sintético, tinta de matéria espessa e de resolução direta e rápida, é utilizada pelo artista desde o início da década de 90, quando ganhou uma bolsa de estudos do governo brasileiro para fazer o mestrado no Pratt Institute, em Nova York. Curiosamente, foi numa exposição na Galeria Raquel Arnaud, em 1998, a primeira vez que Feingold apresentou seus trabalhos com esse material.

O uso do esmalte sintético se opunha à pintura diáfana produzida até então. A ambição pela estética da pureza, segundo o artista, deu lugar à busca por uma unidade pictórica que parte do que o crítico Luiz Camillo Osório chamou de “acaso controlado”. Daniel Feingold não usa pincel. Seu método consiste em escorrer o esmalte sintético do topo das telas através de uma lata com um bico na parte superior. É o gesto de sua mão que vai determinar a quantidade de tinta despejada para tentar conduzir aquilo que é incerto. A pintura ocorre nesse processo original, onde a geometria ao mesmo tempo organiza e confunde o olhar, criando um jogo óptico no qual não se consegue distinguir figura, fundo ou mesmo os limites das linhas criadas pelo escorrimento.

Segundo Paulo Sergio Duarte, que assina o texto da exposição, “Há toda uma paciência e uma espera. Há um tempo contido em cada linha de cor que se derrama sobre a superfície. Quando o vemos, parece congelado, mas não está; essa queda de cada linha, em direção ao limite do quadro, nos transmite um lento sentir que nos penetra e nos ensina a não aderir aos sôfregos apelos do cotidiano”, afirma o crítico.

Já no piso superior estão trabalhos em pequena escala, a maioria produzida em 2018. São cerca de 12 obras da série “Pinturinhas”, realizadas em bastão a óleo sobre tela e mais 12 desenhos em bastão a óleo sobre papel. Segundo o artista, essas obras são uma espécie de reação subjetiva ao comportamento sempre objetivo do esmalte industrial. Uma necessidade de criar situações estéticas mais afetivas com uma matéria clássica, a tinta à óleo, que se opõe completamente ao caráter industrial do esmalte sintético. Se nas “Pinturinhas” o que interessa é a liberdade pictórica e cromática, a convulsão e permissão ao erro no gesto realizado com o bastão, nos desenhos o que se vê é uma continua exploração acerca das formas. São obras de organização mais contida, concretas, que revelam como a formação de arquiteto permite pensar a arte de uma forma não desconectada da arquitetura e do design.

Daniel Feingold (Rio de Janeiro, 1954), vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo nas Faculdades Integradas Silva e Souza, em 1983. Fez diversos cursos, entre eles o de História da Arte com o crítico Ronaldo Brito, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988-1992), o de Teoria da Arte e Pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (1989-1990), e o “Núcleo de Aprofundamento”, programa de um ano no estúdio de pintura dessa mesma Escola (1991). Em 1993 ganhou uma bolsa de estudos do governo brasileiro para fazer o mestrado no Pratt Institute, em Nova York. Desde 1991 realizou várias exposições individuais, como “Projeto Macunaíma”, no Instituto Brasileiro de Arte Contemporânea (Ibac) do Rio de Janeiro (1992), “Espaço Empenado”, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2002), “Pintura”, no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2003), e na Galeria Raquel Arnaud, em 1996, 1999, 2002 e 2006. Em 2011, expôs individualmente no Atelier Sidnei Tendler, em Bruxelas, na Bélgica. Também participou de exposições coletivas, como “Aprofundamento”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro, 1991); 15º Salão Carioca e 17º Salão Nacional de Artes Plásticas (Rio de Janeiro, 1991), tendo obtido em ambas o 1º prêmio; “Crossing Lines – Art in General”, em Nova York; “O Beijo”, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1998); “Gestural Drawings”, na Neuhoff Gallery (Nova York, 2000), e 5ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2005). Em 2007 integrou a mostra coletiva do “Minus Space” (New York based website & gallery, do qual é membro desde 2003), em Sydney, na Austrália. Em 2010 participou de coletiva no Centro de Arte Maria Teresa Vieira, Rio de Janeiro. A Galeria Raquel Arnaud representa Feingold desde 1993.