Em çonoplaztía, Fabio Morais apresenta um novo grupo de trabalhos que tiveram sua origem em publicações. As peças são formadas por conjuntos de letras e números em acrílico recortado a laser, que propõem uma maneira própria de leitura. Os textos revelam sentido apenas quando as letras e números são lidos ou sonorizados. Assim, a leitura não se baseia na imagem da palavra - que o olho reconhece como imagem total, sem precisar soletrá-la - mas sim no som gerado pelo ato de ler letra por letra, ou sílaba por sílaba, de forma oral ou em pensamento.

Este descolamento entre a leitura e a imagem da palavra requer um engajamento do leitor. Caso o observador decida por decifrar a linguagem proposta, Morais impõe um tempo alongado para decodificar a sua escrita.

Çonoplaztía, o trabalho que dá título à exposição, é também o primeiro a ser visto por quem a visita. Talvez por isso sua conformação seja a mais tradicional de todas, mantendo a leitura ocidental mais comum, da esquerda para a direita, e o aspecto formal de palavra convencional. A variante da palavra “sonoplastia” não chega a ser uma transcrição fonética típica de dicionários, já que não utiliza os códigos do alfabeto fonético, mas se utiliza do som da fala para substituir letras por outras letras dentro do próprio alfabeto latino.

çonoplaztía acaba funcionando como uma prática para o que virá a seguir na exposição, quando sentenças se desmontam horizontalmente, e frases são substituídas por letras e números cujos tamanhos e posições ditam o ritmo em que devem ser lidas. O próprio teor do termo sonoplastia, que se refere ao conjunto de efeitos sonoros utilizados em filmes, peças de teatro ou na radiofonia, já dita que a importância maior estará no som oferecido por cada caractere, e não por sua imagem.

Erre (2018) completa a exposição. Embora, à primeira vista, pareça destoar dos outros trabalhos da exposição, erre também trabalha com o descolamento entre significante e significado que pauta todas as obras de çonoplztía. Nessa obra, um jogo de erros é proposto em um texto de duas linhas, no qual o erro é o apontamento de um erro que nunca ocorreu.

O livro “Retícula, trabalhos de 2003 a 2018” sobre a obra de Morais, é editado pela Automatica e tem texto e edição do curador Jacopo Crivelli Visconti e é patrocinado pelos colecionadores Luciana e Antonio Wever e da Coleção Moraes-Barbosa com produção da Vermelho em realização do Ministério da Cultura.

Fabio Morais esteve em diversas mostras institucionais ao longo de 2018, como Water in The World – Flowing Deep Inside, no HilbertRaum, em Berlim, Alemanha, que agora pode ser visitada no Adelina Instituto Cultural, em São Paulo, até fevereiro de 2019. Morais também esteve na IN LOCUS - Mostra de Performance, do Sesc Santo Amaro, além de exposições coletivas no Museu Victor Meirelles e no Museu de Arte de Santa Catarina.

Fabio Morais já teve seu trabalho exposto em importantes mostras como na Bienal Sur (2017), Bienal de Fotografia de Lima (2014), 8ª Bienal do Mercosul (2011) e 29ª Bienal de São Paulo (2010).