A Escola Nómada circula entre o Um, o Dois e o Muitos. Reúne e dispersa, como um coração.

(Maria João Mayer Branco)

A Escola de Marta Wengorovius não é uma exposição no sentido convencional. É um projeto, em circulação, que se repete em lugares diferentes, em espaços diversos mas nunca se repete efetivamente porque tem sempre algo novo a dizer. Como numa semiose infinita em que os significados vão sendo recompostos e criam novos sentidos – porque o sentido não é só dado pela arte, nem só pela artista, mas também por aquele ou aquela que participa, ativamente, de um processo.

A Escola Nómada. Um, Dois e Muitos é a síntese de um labor que vem sendo realizado há anos e que se conjuga, neste caso, numa exposição/processo/projeto, num objeto contínuo e inacabado, uma obsessão, porventura missão, da artista. Nas suas próprias palavras, ao responder à pergunta quais são as suas influências: “Considero aqui influenciar no sentido construtivo, uma espécie de cumplicidade na respiração, na capacidade de criar símbolos”.

Wengorovius apresenta-se como aprendiz de fazeres, e de saberes, e encontrou, cedo, no mundo arte, um espaço de vivência e de possibilidade de salvação. Não dela mesma, mas daquilo que a incomodava ao redor, de tudo o que ouvia e via e de tudo o que queria mudar. O mundo da arte é um espaço de experiência e pode ser sempre reescrito, reinventado, ensinado – porque, no caso desta artista, a arte acontece em relação: entre o um, o outro e a comunidade, os muitos que habitam o mesmo espaço, ou espaços outros, mas que se conjugam num desejo uno de crescer. De crescer não, de brotar, como planta que tateia em direção ao sol.

Os elementos da natureza, e a natureza mesma, são partes integrantes de uma obra multifacetada, que começa com colagens, desenhos e pinturas e logo se converte num gesto performativo de convite ao espectador, nunca passivo, das suas exposições.

Nem sempre é evidente a ligação entre a arte e o ensino, o que se pode ensinar ou o que se aprende na relação que se estabelece entre o artista e o espectador. E pode-se ainda questionar o papel duplo do artista/professor, ou de uma exposição que se autodenomina de Escola. Mas o processo de criação de Marta Wengorovius, que já possui uma história, consegue dar respostas às questões que se (im)põem, quer à arte, quer à artista ou mesmo ao seu papel. O que ela pretende é envolver a todos no seu processo, para disseminar ideias e sobretudo, para criar uma comunidade que pense, de forma artística/criativa, o próprio mundo.

Pois, para Wengorovius, a arte acontece porque é preciso. Porque é precisa. A arte acontece entre – a artista, os espectadores e o mundo. Entre o Um, o Dois e os Muitos que compõem esta exposição.