A busca por uma proposição que pudesse ampliar os olhares sobre o conjunto de obras que constituem o acervo do MAM possibilitou focar na produção da década de 1960, período marcado por convulsões políticas e sociais que transformaram nosso país em um antropofágico caldeirão cultural, varrendo a terra brasilis sem deixar escapar qualquer rincão, sertão ou veredas.

Propor uma crônica daquele momento, estabelecendo um diálogo com o presente, foi o caminho escolhido para esta mostra, não de forma oportunisticamente comemorativa, muito menos laudatória, mas sim na busca por captar o espírito da época na coleção do MAM, o que acabou por contaminar-se do presente, no passado.

Uma geração inteira, unida por ideais e comportamentos, consciente de seu papel e de seu compromisso clama por liberdade, liberdade! Tudo está sob contestação, mas, acima de tudo, a autoridade: “É proibido proibir!” Esse, como outros slogans, se torna palavra de ordem, lema, grito de guerra, senha para abrir fogo contra a trincheira autoritária familiar, escolar, governamental, e atinge diretamente o sistema capitalista de consumo desenfreado.

Ao debruçar-me sobre as obras, literalmente entrando nas entranhas do Museu – as reservas técnicas –, minha ação de curador foi impregnada da perspectiva pessoal, na qual afloraram as lembranças, envoltas na névoa das reminiscências do garoto que viveu no seu cotidiano aqueles momentos.

Retomar as construções da memória nos proporciona a oportunidade de inserir, nesse complexo contexto, a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada aqui, no antigo pavilhão Bahia, na marquise do Ibirapuera, com a primeira edição do Panorama da Arte Atual Brasileira e, assim, o Museu, sua coleção, projetos, ações e atividades resistem aos tempos e sobrevivem aos contratempos até os dias de hoje. Afinal, quem sabe faz a hora e não espera acontecer.

Um conjunto de cinquenta imagens evoca um momento de febril desassossego e que conduz a caminhos na busca por fazer valer a esperança na conscientização política, na diversidade da vida traduzida em ações poéticas e de comprometimentos éticos, produzindo inserções em um meio, mesmo que ele se apresente totalmente adverso. Resistência, resiliência, rebeldia e solidariedade atravessam, de mãos dadas, os tempos em que vivemos em perigo.