A representação do imaginário tropical – ou daquilo que se constituiu como discurso dominante em relação aos trópicos – tem sido o principal objeto de investigação de Pedro Varela. Se, em séries anteriores, o artista tratou do tema a partir da monocromia e de uma certa frieza, nas pinturas reunidas em sua nova individual na Zipper, aberta no dia 15 de junho, predomina uma exuberante paleta de cores, muitas vezes dissonante e contrastante. “Autofágico”, com curadoria de Marcelo Campos, é a quarta individual dele na galeria.

A diversidade cromática reforça a relação de diálogo entre figuração e abstração presente na obra de Pedro Varela. “Os trópicos ganham estranheza através destas cores. Em alguns momentos, chegam a ser psicodélicos, com rosas e verdes fluorescentes. Em outros apresenta tons que poderiam estar em pinturas de Guignard, Tarsila do Amaral, Glauco Rodrigues, Segal ou gravuras de Goeldi”, comenta o artista.

Mas não só as cores marcam a diferença em relação às séries anteriores. Em “Autofágico”, o artista faz releituras de gêneros clássicos da pintura – como natureza morta e paisagem – em trabalhos nos quais se imbricam uma infinidade de personagens, paisagens inventadas, uma “botânica alienígena”, textos, formas abstratas, misturadas às referências europeias de representação dos trópicos e os elementos da história da arte.

Outra característica que sobressai dos trabalhos é a busca do artista por um universo híbrido, de narrativa não linear, com alusões do carnaval aos artistas viajantes, do barroco mineiro ao modernismo antropofágico. “Abri espaço para uma discussão sobre a vida contemporânea. São pinturas que de alguma maneira tentam ser autofágicas em relação a nossa cultura, digerindo e regurgitando o que foi absorvido durante nossa modernidade”, ele afirma.

“Autofágico” fica em cartaz até 27 de julho.

Pedro Varela (Niterói, Brasil, 1981) vive e trabalha em Petrópolis, Rio de Janeiro. O artista mistura referências literárias e do período barroco em pinturas que remetem a um mundo tropical imaginário. Com um forte caráter de narrativas visuais, suas obras exploram a ideia do exótico frequentemente associada aos trópicos. Em séries mais recentes, Varela vem alternado pinturas em tons vibrantes e formas psicodélicas e outras em paletas de cores reduzidas, como monocromáticos em preto, branco e azul. Tem trabalhos nas seguintes coleções: Coleção SESC (São Paulo-SP); Gilberto Chateaubriand/Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ); Montblanc México (Cidade do México); Sprint Nextel Art Collection, Overland Park; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (MAR-RJ). Entre suas principais exposições destacam-se: “Pedro Varela”, Zipper Galeria, São Paulo, 2016; "O grande tufo de ervas (Com Mauro Piva)", Galeria do Lago – Museu da república, Rio de Janeiro, 2015; "Crônicas tropicais", MDM Gallery, Paris, 2015; "Tropical", Galeria Enrique Guerrero, Mexico DF, 2014; "Dusk to dawn… Threads of infinity (com [with] Carolina Ponte)", Anima Gallery, Doha, Catar, 2014; "Pedro Varela", Centre Culturel Jean-Cocteau, Les Lilas, 2014; "Pedro Varela", Xippas, Montevidéu, 2013; "Le Brésil Rive Gauche", Le Bon Marché Rive Gauche, Paris, 2013; "Tropical", Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2012; "Ficções", Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015; "Anima Gallery two years anniversary", Anima Gallery, Doha, Qatar, 2014'; "Latina", Xippas Art Contemporain, Genebra, 2014; "Repentista", Gallery Nosco, Londres, 2014.