Pires Vieira tornou-se um dos mais proeminentes representantes das práticas artísticas associadas a processos de reflexão sobre as potencialidades criativas de reinvenção e expansão do campo da pintura.

Objeto de pesquisa conceptual e plástica, a abertura de sentidos e de possibilidades para a renovação da pintura continua a ser o tema central da sua carreira artística, iniciada no final dos anos sessenta. Desde então, Pires Vieira vem indagando permanentemente as características e as convenções da linguagem pictórica, num diálogo incessante com a sua história, as suas representações clássicas e modernas e a sua expansão e desconstrução. Tem percorrido um caminho autoral a partir não só da homenagem e da referência mas também da produção de réplicas infiéis e desvios relativamente aos legados e às convenções estabelecidas.

Esta exposição, patente de 4 de julho a 6 de outubro de 2019, reúne uma seleção de várias das suas obras mais relevantes, assim como uma série de novos trabalhos e intervenções realizados especificamente para os espaços do Museu Coleção Berardo.

No seu conjunto, "Trash – Lixo de Artista" apresenta uma visão abrangente da intervenção artística e propõe uma prática interdisciplinar aberta à escultura, à instalação e à performatividade. Muito marcada pelas ideias de citação e apropriação, encontro e experimentação, incorpora a crítica, a ironia e a subversão como estratégias de exploração da natureza da arte, da história da pintura e da representação visual. Nesta múltipla procura, reconhecemos o espírito desassombrado do título: a arte como processo e esforço gera um resíduo que perdura — longe da obra polida que finge inexistentes os seus meios e as suas dúvidas.